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Corfu inspirou textos de escritores e teve sua lista VIP
Assunto de livros e cartas, ilha dispunha de "Livro de Ouro" para listar famílias nobres, as únicas com permissão para passear em sua área mais sofisticada
DO ENVIADO ESPECIAL
Romanos, bizantinos, godos,
normandos, angevinos, venezianos, franceses e ingleses dominaram Corfu. Os ingleses
controlaram a ilha por 50 anos,
de 1814 até a unificação grega.
Sete décadas depois da saída
dos seus compatriotas, o escritor Lawrence Durrell (1912-1990) foi morar lá, aos 23 anos.
A ilha rendeu "Prospero's Cell"
(Marlowe & Company), apenas
sobre Corfu, e um capítulo de
"Travel Reader" (PUB Group
West, R$ 39,45), guia sobre várias cidades turísticas.
Em 1937 Durrell relata, sobre
o local, que "a arquitetura é veneziana; as casas acima do velho porto são construídas elegantemente, em finas camadas
com estreitas alamedas e colunas passando entre elas; vermelho, amarelo, rosa e âmbar
-uma confusão de tons pastéis
que a lua transforma em uma
cidade branca ofuscante".
O escritor viveu na vila de
Kálami, a 30 km do centro. Alucinado, teve um acesso de Pablo Neruda e escreveu que Kálami, "de frente para o sopé das
colinas da Albânia", tem "o
charme da reclusão" e uma
água que "corre como uma piscina, de um verde violentamente leitoso quando o vento norte
a coalha". A vila permanece lá.
Em "Minha Família e Outros
Animais", seu irmão Gerald
também fala de Corfu -narra a
infância na ilha, no caso.
Menos comovido, Henry Miller, que visitou Lawrence,
constatou: "Nunca cheguei a
gostar da cidade de Corfu. Tem
uma atmosfera inconstante
que, à noitinha, transforma-se
numa espécie de demência. Você fica a maior parte do tempo
bebendo algo que não quer beber, ou, então, andando sem rumo. É um típico local de exílio".
Os dois, amigos, trocaram
inúmeras cartas, relação epistolar registrada em "Durrel/
Miller Letters -1935-1980" (Faber & Faber, R$ 44,86).
Lista VIP
Entre as heranças francesas
o destaque é arquitetônico: no
centro, o Liston é uma esplanada de dois séculos com cafés de
estilo parisiense em frente a
um campo de críquete. O nome
vem do costume veneziano de
listar famílias nobres no "Livro
de Ouro", tipo de lista VIP da
época, a partir da qual as pessoas podiam passear ali ou não.
Ao lado de Liston ficam ruas
comerciais e uma das igrejas
mais importantes, Ágios Spyrídon. Mais distante, o palácio
Achílleion, construído entre
1890 e 1891, pertenceu à imperatriz Sissi e foi cenário de "007
Somente para Seus Olhos".
Para ir às praias, alugue um
carro. Custa 45 (R$ 106). É a
melhor opção: há placas em inglês, as estradas são boas e a
paisagem é repleta de oliveiras.
Palaiokastrítsa é melhor panoramicamente (três enseadas
com diversos tons de azul e
verde, muitas rochas e vegetação) que de perto (faixa não de
areia, mas de pedras).
Mais empolgantes são Vátos
ou Myrtiótissa. Esta foi tida
por Durrell como "talvez uma
das praias mais belas do mundo". É uma breve faixa de areia
protegida por uma montanha e
em parte nudista. Interessante.
Mas uma das mais belas do
mundo? Tudo bem: Durrel não
era cearense, era inglês.
(TM)
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