São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2005

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VIAGEM LITERÁRIA

Nome da filha de George Whitman, que aos 24 anos administra livraria, é homenagem à fundadora do local

Outra Sylvia assume a Shakespeare and Co.

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em seu aniversário de 20 anos, Sylvia Beach Whitman, 24, ganhou de presente do pai um exemplar da primeira edição de "Ulisses" autografado pelo próprio James Joyce. Adorou. Também pudera. Além de seu nome ser uma homenagem à fundadora da Shakespeare and Company, Sylvia cresceu ali, entre os livros.
Quatro anos depois, ela assumiu a responsabilidade de cuidar do local. O pai, George Whitman, aos 91 anos, continua por perto, mas é a filha quem administra a livraria. Leia a entrevista feita com Sylvia por e-mail e telefone, que ela adiou por mais de um mês por estar participando de festivais literários na Irlanda.
(LUÍS SOUZA)

 

Folha - O que a motiva a tomar conta da Shakespeare and Co.?
Sylvia Beach Whitman -
Adoro livros. E aqui posso espalhar conhecimento e aprender por meio da literatura.

Folha - O número de pessoas que vão à livraria aumentou por causa de "Antes do Pôr-do-Sol"?
Whitman -
Não exatamente, mas tem acontecido de nossos clientes perguntarem sobre o filme.

Folha - A Shakespeare and Co. serve de local para entrevistas coletivas de escritores como acontece no filme? Os autores famosos realmente ficam hospedados nos quartos no andar de cima?
Whitman -
Temos entrevistas coletivas às vezes. E temos leituras públicas todas às segundas à noite. Normalmente, cinco escritores vivem e trabalham na livraria. Alguns são famosos, outros não.

Folha - O público da livraria é formado mais por turistas ou por estrangeiros que moram na França? Você considera o lugar uma atração turística?
Whitman -
Nós temos clientes mais freqüentes da comunidade anglofônica de Paris, bem como franceses que querem ler em inglês. Acabamos virando uma atração turística, porque estamos ao lado de Notre Dame e também estamos citados em quase todos os guias de viagem. Por isso recebemos muitos turistas.

Folha - É comum turistas brasileiros visitarem a livraria?
Whitman -
Eles aparecem, mas não em grande número. Recebemos muitos espanhóis, italianos, ingleses e russos.

Folha - Você nasceu na França, o país mais visitado do mundo. O que diria para os turistas?
Whitman -
Nasci em Paris. A França é um país fantástico. A atenção que os franceses dão às artes é algo a ser notado.

Folha - Hemingway dizia que em seu tempo Paris era o melhor lugar no mundo para um escritor aprender seu ofício. Para ele, Paris era quase uma experiência essencial. Você acha que ainda é assim?
Whitman -
Hemingway viveu em Paris nos anos 1920, quando muitos escritores e artistas em geral fizeram da França seu refúgio. Era um lugar muito liberal. Não havia, por exemplo, a Lei Seca. Hoje não é essencial -há muitos grandes escritores que nunca nem mesmo visitaram Paris-, mas a cidade, sem dúvida, ainda é um lugar que serve de inspiração para artistas. Um exemplo singelo disso é que você pode sentar em um café para ler e escrever e ficar lá o dia inteiro apenas gastando 1 em um expresso.

Folha - Quais são seus escritores favoritos?
Whitman -
Minha opinião muda rapidamente conforme eu leio mais e mais. Eu diria que Ian McEwan é um escritor excepcional que nunca me canso de ler. Angela Carter, Dodie Smith e Paul Auster também estão entre meus favoritos. No que diz respeito aos clássicos, gosto de Oscar Wilde.

Folha - Você gosta de viajar?
Whitman -
Eu adoro.

Folha - No site da livraria estão indicados "road books" (literatura de viagem), como "On the Road", de Jack Kerouac, e "A Arte de Viajar", de Alain de Botton. Você gosta desse tipo de literatura?
Whitman -
Sim, também gosto de viajar pela literatura. Esse tipo de livro é best-seller na livraria. Muitos de nossos fregueses estão fazendo turismo pela Europa e gostam de literatura de viagem.

Folha - Vocês vendem guias turísticos? Qual é seu favorito?
Whitman -
Sim. Os meus favoritos são os da Fodor.

Folha - Vocês já venderam algum livro em português. E de algum escritor brasileiro?
Whitman -
Vendemos já alguns poucos livros em português e outros de escritores brasileiros que foram traduzidos para o inglês.

Folha - Você sabe alguma coisa sobre literatura brasileira?
Whitman -
Alguma coisa, sim, mas bem pouco. Meus conhecimentos são mais nas literaturas russa e americana...Mas estou sempre aprendendo algo novo.


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