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VIAGEM LITERÁRIA
Nome da filha de George Whitman, que aos 24 anos administra livraria, é homenagem à fundadora do local
Outra Sylvia assume a Shakespeare and Co.
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em seu aniversário de 20 anos,
Sylvia Beach Whitman, 24, ganhou de presente do pai um
exemplar da primeira edição de
"Ulisses" autografado pelo próprio James Joyce. Adorou. Também pudera. Além de seu nome
ser uma homenagem à fundadora
da Shakespeare and Company,
Sylvia cresceu ali, entre os livros.
Quatro anos depois, ela assumiu a responsabilidade de cuidar
do local. O pai, George Whitman,
aos 91 anos, continua por perto,
mas é a filha quem administra a livraria. Leia a entrevista feita com
Sylvia por e-mail e telefone, que
ela adiou por mais de um mês por
estar participando de festivais literários na Irlanda.
(LUÍS SOUZA)
Folha - O que a motiva a tomar
conta da Shakespeare and Co.?
Sylvia Beach Whitman - Adoro livros. E aqui posso espalhar conhecimento e aprender por meio
da literatura.
Folha - O número de pessoas que
vão à livraria aumentou por causa
de "Antes do Pôr-do-Sol"?
Whitman - Não exatamente, mas
tem acontecido de nossos clientes
perguntarem sobre o filme.
Folha - A Shakespeare and Co.
serve de local para entrevistas coletivas de escritores como acontece
no filme? Os autores famosos realmente ficam hospedados nos quartos no andar de cima?
Whitman - Temos entrevistas coletivas às vezes. E temos leituras
públicas todas às segundas à noite. Normalmente, cinco escritores
vivem e trabalham na livraria. Alguns são famosos, outros não.
Folha - O público da livraria é formado mais por turistas ou por estrangeiros que moram na França?
Você considera o lugar uma atração turística?
Whitman - Nós temos clientes
mais freqüentes da comunidade
anglofônica de Paris, bem como
franceses que querem ler em inglês. Acabamos virando uma
atração turística, porque estamos
ao lado de Notre Dame e também
estamos citados em quase todos
os guias de viagem. Por isso recebemos muitos turistas.
Folha - É comum turistas brasileiros visitarem a livraria?
Whitman - Eles aparecem, mas
não em grande número. Recebemos muitos espanhóis, italianos,
ingleses e russos.
Folha - Você nasceu na França, o
país mais visitado do mundo. O que
diria para os turistas?
Whitman - Nasci em Paris. A
França é um país fantástico. A
atenção que os franceses dão às
artes é algo a ser notado.
Folha - Hemingway dizia que em
seu tempo Paris era o melhor lugar
no mundo para um escritor aprender seu ofício. Para ele, Paris era
quase uma experiência essencial.
Você acha que ainda é assim?
Whitman - Hemingway viveu em
Paris nos anos 1920, quando muitos escritores e artistas em geral fizeram da França seu refúgio. Era
um lugar muito liberal. Não havia, por exemplo, a Lei Seca. Hoje
não é essencial -há muitos grandes escritores que nunca nem
mesmo visitaram Paris-, mas a
cidade, sem dúvida, ainda é um
lugar que serve de inspiração para
artistas. Um exemplo singelo disso é que você pode sentar em um
café para ler e escrever e ficar lá o
dia inteiro apenas gastando 1
em um expresso.
Folha - Quais são seus escritores
favoritos?
Whitman - Minha opinião muda
rapidamente conforme eu leio
mais e mais. Eu diria que Ian
McEwan é um escritor excepcional que nunca me canso de ler.
Angela Carter, Dodie Smith e Paul
Auster também estão entre meus
favoritos. No que diz respeito aos
clássicos, gosto de Oscar Wilde.
Folha - Você gosta de viajar?
Whitman - Eu adoro.
Folha - No site da livraria estão
indicados "road books" (literatura
de viagem), como "On the Road",
de Jack Kerouac, e "A Arte de Viajar", de Alain de Botton. Você gosta
desse tipo de literatura?
Whitman - Sim, também gosto
de viajar pela literatura. Esse tipo
de livro é best-seller na livraria.
Muitos de nossos fregueses estão
fazendo turismo pela Europa e
gostam de literatura de viagem.
Folha - Vocês vendem guias turísticos? Qual é seu favorito?
Whitman - Sim. Os meus favoritos são os da Fodor.
Folha - Vocês já venderam algum
livro em português. E de algum escritor brasileiro?
Whitman - Vendemos já alguns
poucos livros em português e outros de escritores brasileiros que
foram traduzidos para o inglês.
Folha - Você sabe alguma coisa
sobre literatura brasileira?
Whitman - Alguma coisa, sim,
mas bem pouco. Meus conhecimentos são mais nas literaturas
russa e americana...Mas estou
sempre aprendendo algo novo.
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