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ALBÂNIA
Moradores da região reclamam ser donos da terra
Grupo francês tenta abrir village na baía de Kakome, costa do Adriático
DA REUTERS
Em uma noite de verão há 20
anos, um francês parou seu barco
na baía Kakome, na proibida costa comunista da Albânia, o país
mais isolado do mundo na época.
Os dois guardas que faziam a
patrulha na praia empunharam
seus fuzis Kalashnikov, mas ficaram calmos, mesmo quando a figura que desembarcava pegou
um pequeno rifle. Porém, assim
que o francês falou em uma língua
que não entendiam, eles entraram
em pânico e o mataram.
O francês trabalhava na rede de
resorts Club Med. Quase 20 anos
depois, um executivo da mesma
rede sobrevoava a costa da Albânia em um helicóptero, procurando o ponto perfeito para o próximo village da rede. Seus olhos se
fixaram em um local, considerado
ideal. Estranhamente, o lugar era
a mesma baía de Kakome.
Costa
Oliveiras e carvalhos crescem
em um vale delineado por uma
grande floresta à direita da baía.
Um monastério medieval construído no monte à esquerda se
volta para o mar.
A Albânia ficou fechada para o
mundo por quase 40 anos, depois
da Segunda Guerra Mundial, sob
o comando do ditador stalinista
Enver Hoxha. Ele protegeu o país
contra uma invasão que nunca
aconteceu construindo abrigos
antiaéreos e pontos para atiradores ao longo da costa.
O turismo representa 8,5% do
PIB albanês, muito menos do que
rende para a vizinha Grécia ou para Montenegro e Croácia, onde a
indústria turística floresceu na
ainda Iugoslávia dos anos 1970.
O Club Med pode tornar realidade o sonho de fazer das praias
virgens da rural costa sul um
grande pólo de geração de dinheiro. O resort deverá contar com
350 vilas luxuosas, com 700 camas
para 1.200 turistas.
Em noites claras, é possível ver
as luzes da ilha grega de Corfu no
horizonte. Foi de Corfu, onde fica
um dos primeiros villages Club
Med, que Jean-Marie Masselin,
29, partiu para a viagem na qual
chegou muito perto da costa que,
naqueles dias, era tão hostil quanto é hoje a da Coréia do Norte.
O "pequeno rifle" que ele levava
era, talvez, um arpão de pesca. O
governo albanês disse, na época,
que um barco havia violado as
fronteiras marítimas.
Dez anos depois, o Club Med
propôs a construção de um resort
na Albânia, mas os planos foram
abandonados.
Uma segunda chance surgiu
com a baía Kakome. Mas, apesar
de ter o apoio do primeiro-ministro albanês, Fatos Nano, o projeto
enfrenta resistência de moradores
locais. Eles afirmam que são donos da terra.
"Não somos contra o Club Med.
Nós queremos que a vila seja
construída. Mas quem a construir
terá que conversar conosco como
donos desse lugar", afirmou o líder do vilarejo Vladimir Kumi.
O plano era começar a construir
a vila em novembro. Mas isso já
não foi possível. No entanto o
Club Med confirma que o resort
será erguido e que as obras devem
começar neste mês.
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