São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2005

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ALBÂNIA

Moradores da região reclamam ser donos da terra

Grupo francês tenta abrir village na baía de Kakome, costa do Adriático

DA REUTERS

Em uma noite de verão há 20 anos, um francês parou seu barco na baía Kakome, na proibida costa comunista da Albânia, o país mais isolado do mundo na época.
Os dois guardas que faziam a patrulha na praia empunharam seus fuzis Kalashnikov, mas ficaram calmos, mesmo quando a figura que desembarcava pegou um pequeno rifle. Porém, assim que o francês falou em uma língua que não entendiam, eles entraram em pânico e o mataram.
O francês trabalhava na rede de resorts Club Med. Quase 20 anos depois, um executivo da mesma rede sobrevoava a costa da Albânia em um helicóptero, procurando o ponto perfeito para o próximo village da rede. Seus olhos se fixaram em um local, considerado ideal. Estranhamente, o lugar era a mesma baía de Kakome.

Costa
Oliveiras e carvalhos crescem em um vale delineado por uma grande floresta à direita da baía. Um monastério medieval construído no monte à esquerda se volta para o mar.
A Albânia ficou fechada para o mundo por quase 40 anos, depois da Segunda Guerra Mundial, sob o comando do ditador stalinista Enver Hoxha. Ele protegeu o país contra uma invasão que nunca aconteceu construindo abrigos antiaéreos e pontos para atiradores ao longo da costa.
O turismo representa 8,5% do PIB albanês, muito menos do que rende para a vizinha Grécia ou para Montenegro e Croácia, onde a indústria turística floresceu na ainda Iugoslávia dos anos 1970.
O Club Med pode tornar realidade o sonho de fazer das praias virgens da rural costa sul um grande pólo de geração de dinheiro. O resort deverá contar com 350 vilas luxuosas, com 700 camas para 1.200 turistas.
Em noites claras, é possível ver as luzes da ilha grega de Corfu no horizonte. Foi de Corfu, onde fica um dos primeiros villages Club Med, que Jean-Marie Masselin, 29, partiu para a viagem na qual chegou muito perto da costa que, naqueles dias, era tão hostil quanto é hoje a da Coréia do Norte.
O "pequeno rifle" que ele levava era, talvez, um arpão de pesca. O governo albanês disse, na época, que um barco havia violado as fronteiras marítimas.
Dez anos depois, o Club Med propôs a construção de um resort na Albânia, mas os planos foram abandonados.
Uma segunda chance surgiu com a baía Kakome. Mas, apesar de ter o apoio do primeiro-ministro albanês, Fatos Nano, o projeto enfrenta resistência de moradores locais. Eles afirmam que são donos da terra.
"Não somos contra o Club Med. Nós queremos que a vila seja construída. Mas quem a construir terá que conversar conosco como donos desse lugar", afirmou o líder do vilarejo Vladimir Kumi.
O plano era começar a construir a vila em novembro. Mas isso já não foi possível. No entanto o Club Med confirma que o resort será erguido e que as obras devem começar neste mês.


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