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CHOQUE TÉRMICO
Habitantes de Berna são tachados de caipiras pelos moradores de grandes centros do país, como Zurique
Calmaria dá ar de interior à capital suíça
DO ENVIADO ESPECIAL À SUÍÇA
O movimento da água azulada
que desce pelo rio Aare parece ser
o único referencial de que o tempo passa em Berna. Do velho banco de madeira rústica em meio às
árvores do bosque, do outro lado
do rio, se avistam torres de igreja,
prédios aristocráticos e o telhado
vermelho que cobre as casas em
arenito dessa charmosa cidade
medieval. Tranquila como poucas, quem diria que se trata da capital de uma das nações mais ricas
e desenvolvidas do mundo?
A Suíça é mesmo um país pequenino de surpresas intermináveis. Pena que o viajante brasileiro
nem sempre inclua Berna em seu
roteiro, preferindo destinos como
Zurique, Genebra e Lucerna, sem
se dar conta de que essa cidade faz
parte de todas as conexões de
trem importantes do país.
Embora Berna seja a capital federal, não é bem esse o clima que
se respira por aqui. Esqueça qualquer semelhança cosmopolita e
caótica típica de outras capitais
européias. Não há engarrafamentos. Mesmo em horários de pico,
os meios de transporte são opções
tranquilas, e muita gente escolhe
andar a pé ou de bicicleta (leia texto nesta pág.).
Seus moradores são pacientes e
solícitos, do tipo que carregam o
turista delicadamente pelo braço
quando vão indicar uma atração
na próxima esquina. Nos grandes
centros, como Zurique, os berneses têm fama de "caipiras", de fala
devagar, bem explicativa.
História
Talvez a história da cidade, com
seus altos e baixos, ajude a entender como o coração de seus moradores foi moldado. Berna surgiu
no século 12 como uma fortaleza,
criada por um duque herdeiro de
tribos germânicas, Berchtold 5º,
um dos governantes do Sacro Império Romano.
A localização foi e segue sendo
estratégica. Berna fica numa península elevada, cercada por duas
curvas do rio Aare, o que ajudou a
prosperar sua agricultura -até
hoje uma das principais feiras de
Berna homenageia a cebola, em
novembro- e serviu de forte para armazenar ouro e prata dos
tempos pós-medievais.
Mas nem tudo rendeu fortuna à
cidade. O invasor Napoleão deu
as cartas por lá de 1798 a 1815. Em
1405, um incêndio destruiu a
maioria das casas, na época, de
madeira. Refeita, a cidade foi
tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade. Para desfrutar de suas arcadas, espalhadas
por seis quilômetros, símbolo de
sua arquitetura e concentradas
numa área pequena, perambule
pelo centro histórico a pé.
Seja de dia, seja de noite, a cidade, oitavo Cantão suíço, é segura e
calma, até mesmo em suas alamedas fechadas, cercadas de restaurantes e badalados cafés.
Busque energia contemplando
a igreja do Espírito Santo (Heiliggeistkirche), obra do início do século 18 decorada de elementos
modernos e medievais.
De alma leve, prepare-se para as
inúmeras paradas diante das fontes espalhadas pelo centro histórico. Repare no contraste das pequenas e coloridas flores que
adornam as fontes, como se quebrassem a rígida estrutura das
construções medievais.
Deixe-se encantar com o tocador de gaita de foles que dá nome
a uma famosa fonte.
Uma espiral de cobre e um relógio astronômico chamam a atenção de longe. É a Zytgloggeturm,
Torre do Relógio, construída em
1191 como porta de entrada da cidade. Fique de olho: toda hora um
grupo de bonecos mecânicos faz
uma espécie de representação cênica dos encantos da capital suíça.
Mesmo quem vive em Berna
não consegue resistir. Todo mundo pára para ver o tocador de flauta e o de tambor, os ursos dançarinos, todos "artistas" comandados
por um bufão. No fim, um cavalheiro de roupa metálica martela
as horas, como se nos despertasse
de uma procissão hipnótica.
Berna é assim, demarcada por
história, cultura e arquitetura, refletidas nas águas límpidas do rio
Aare. Em meio à leveza de seus
bosques, a correria dos tempos
modernos não ameaça o privilégio de contemplar o que é belo.
(ROBERTO DE OLIVEIRA)
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