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INGLATERRA REAL
Festa, com a presença de estrangeiros e nativos, acontece nos dias 30 e 31, no bairro de Notting Hill Gate
Em agosto, Londres se rende ao Carnaval
AUGUSTO DINIZ
free-lance para a Folha
Dissociar Londres da música
pop é uma tarefa árdua. Principalmente quando se sabe que foi lá
que bandas de megassucesso, que
costumam ser referência de gerações, começaram a tocar seus primeiros acordes, como os Beatles,
os Rolling Stones e o U2.
Mas pelo menos durante dois
dias por ano os ingleses se rendem
ao som que vem de suas ex-colônias do Caribe -principalmente a
Jamaica, com ritmos como calipso, soca e reggae.
Não se trata de uma homenagem
dos britânicos aos imigrantes que
lá chegaram, pelo contrário. A discriminação racial que sofreram ao
aportar na capital inglesa após a
Segunda Guerra Mundial fez com
que eles realizassem anualmente,
a partir do início da década de 60,
protestos com muita música para
denunciar o racismo.
Daí, o evento foi tomando vulto,
deixando de ser manifestação para
se tornar hoje a maior festa popular de rua da Europa: o Carnaval
de Notting Hill.
Realizada no bairro mais cosmopolita de Londres, o Notting Hill
Gate, a oeste da cidade, neste ano a
festa acontecerá nos dias 30 e 31 de
agosto. Pelo menos 1 milhão de
pessoas, entre ingleses, imigrantes
e turistas, participam desse animado Carnaval.
Dada a quantidade ali reunida de
grupos de diferentes raças e credos, conclui-se de imediato que
pelo menos os objetivos da festa
foram atingidos mais de 30 anos
depois de seu início.
O Carnaval de Notting Hill não
tem similaridade com o nosso,
com a exceção das barracas de bebidas e comida e vários ambulantes. Com proporções mais modestas e pouco profissionalismo, o
evento conta com desfiles de blocos, com seus integrantes devidamente fantasiados (nada de plumas e mulher com pouca roupa).
Embora de origem afro-caribenha, atualmente participam do
Carnaval outras comunidades estrangeiras de Londres, como indianos, afegãos, filipinos e, claro,
brasileiros -o grupo Olodum foi
um dos que já estiveram por lá.
São nas ruas vicinais, onde acontecem os desfiles, que o Carnaval
de Notting Hill faz a diferença. Lá,
palcos armados para apresentação
de bandas e outros, com enormes
caixas de som, disparam de manhã até a noite ritmos variados.
Em cada palco é possível se deparar com diferentes tribos sociais, com estilo próprio de vestir e
forma de dançar, numa celebração onde, ao contrário do Carnaval brasileiro, a beleza e o exibicionismo são coadjuvantes, sem rótulos comerciais.
Bem ao estilo inglês, ninguém se
importa com o comportamento
alheio. Com tamanha liberdade, o
Carnaval de Notting Hill é capaz
de explicar porque é em Londres
que surgem os grupos de comportamento e conduta contrários aos
valores sociais e culturais vigentes.
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