São Paulo, segunda, 3 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INGLATERRA REAL
Festa, com a presença de estrangeiros e nativos, acontece nos dias 30 e 31, no bairro de Notting Hill Gate
Em agosto, Londres se rende ao Carnaval

AUGUSTO DINIZ
free-lance para a Folha

Dissociar Londres da música pop é uma tarefa árdua. Principalmente quando se sabe que foi lá que bandas de megassucesso, que costumam ser referência de gerações, começaram a tocar seus primeiros acordes, como os Beatles, os Rolling Stones e o U2.
Mas pelo menos durante dois dias por ano os ingleses se rendem ao som que vem de suas ex-colônias do Caribe -principalmente a Jamaica, com ritmos como calipso, soca e reggae.
Não se trata de uma homenagem dos britânicos aos imigrantes que lá chegaram, pelo contrário. A discriminação racial que sofreram ao aportar na capital inglesa após a Segunda Guerra Mundial fez com que eles realizassem anualmente, a partir do início da década de 60, protestos com muita música para denunciar o racismo.
Daí, o evento foi tomando vulto, deixando de ser manifestação para se tornar hoje a maior festa popular de rua da Europa: o Carnaval de Notting Hill.
Realizada no bairro mais cosmopolita de Londres, o Notting Hill Gate, a oeste da cidade, neste ano a festa acontecerá nos dias 30 e 31 de agosto. Pelo menos 1 milhão de pessoas, entre ingleses, imigrantes e turistas, participam desse animado Carnaval.
Dada a quantidade ali reunida de grupos de diferentes raças e credos, conclui-se de imediato que pelo menos os objetivos da festa foram atingidos mais de 30 anos depois de seu início.
O Carnaval de Notting Hill não tem similaridade com o nosso, com a exceção das barracas de bebidas e comida e vários ambulantes. Com proporções mais modestas e pouco profissionalismo, o evento conta com desfiles de blocos, com seus integrantes devidamente fantasiados (nada de plumas e mulher com pouca roupa).
Embora de origem afro-caribenha, atualmente participam do Carnaval outras comunidades estrangeiras de Londres, como indianos, afegãos, filipinos e, claro, brasileiros -o grupo Olodum foi um dos que já estiveram por lá.
São nas ruas vicinais, onde acontecem os desfiles, que o Carnaval de Notting Hill faz a diferença. Lá, palcos armados para apresentação de bandas e outros, com enormes caixas de som, disparam de manhã até a noite ritmos variados.
Em cada palco é possível se deparar com diferentes tribos sociais, com estilo próprio de vestir e forma de dançar, numa celebração onde, ao contrário do Carnaval brasileiro, a beleza e o exibicionismo são coadjuvantes, sem rótulos comerciais.
Bem ao estilo inglês, ninguém se importa com o comportamento alheio. Com tamanha liberdade, o Carnaval de Notting Hill é capaz de explicar porque é em Londres que surgem os grupos de comportamento e conduta contrários aos valores sociais e culturais vigentes.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.