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São Paulo, segunda, 3 de agosto de 1998
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Texto Anterior | Próximo Texto | Índice FOLCLORE VIVO Enquanto as guardas cultuam seus santos padroeiros, reis, rainhas, príncipes e princesas são escolhidos Congado elege e coroa sua nobreza em ciclo
free-lance para a Folha Na região de Divinópolis, as guardas mais frequentes são as de Moçambique, Congo, Vilão, Marinha (também conhecida como Marinheiro ou Marujo) e Catupé. Ao mesmo tempo em que esses grupos, com seus cantos e danças, cultuam seus santos padroeiros, o Congado promove a eleição e a coroação de seus reis, rainhas, príncipes e princesas, uma tradição que perdura desde o início das festas do reinado de Nossa Senhora do Rosário. A guarda de Moçambique é considerada a mais importante nos festejos; sua presença é indispensável. Diz a lenda ter sido ela a retirar Nossa Senhora do Rosário das águas do mar. O levantamento e o arriamento de bandeiras, realizados respectivamente no começo e término das festas, devem contar com a sua participação. No cortejo pelas ruas, ela vem logo à frente do Estado da Coroa (composto por reis, rainhas, príncipes, princesas, embaixadores etc.). A indumentária dessa guarda é caracterizada por uma minissaia vestida sobre a calça e um turbante na cabeça. O branco é a cor predominante. Os instrumentos musicais são a zabumba, a caixa, a patagunga (ou xiquexique ou pernanguma), o reco-reco e a gunga (ou paiá, uma correia afivelada nas canelas dos dançadores na qual são presos alguns guizos que produzem sons ritmados conforme a dança). Eminentemente mística, a música do Moçambique é classificada como "pesada" por alguns estudiosos. A guarda de Congo, considerada a mais antiga da festa, segue logo à frente do Moçambique durante o cortejo. Suas vestes são coloridas e variadas. À vistosa indumentária soma-se a beleza dos chapéus, criativa e ricamente adornados de miçangas, espelhos, fitas, vidrilhos ou aljofares. O Congo apresenta um repertório de músicas marcadas por um ritmo dolente. Normalmente são acompanhadas pelo tamborim, pela zabumba, pela caixa, pelo acordeom, pelo reco-reco e pelo pandeiro. A guarda de Vilão é outro grupo proeminente no Congado. Geralmente é a que puxa o desfile. Sua participação na festa é inconfundível pela rapidez do ritmo e das evoluções coreográficas e pelo emprego de varas, enfeitadas de fitas, com as quais simulam combates. Também se destacam nessa guarda a formação de grades sobre as quais os capitães apresentam acrobacias espetaculares e a dança do pau-de-fita, durante a qual os dançadores trançam e destrançam as fitas afixadas no alto de um mastro. A indumentária da guarda de Vilão chama a atenção pelas cores vistosas e seus chapéus enfeitados com espelhinhos, cacos de vidro, fitas multicoloridas ou penas. Os instrumentos musicais do Vilão são os mesmos utilizados pelo Congo, com exceção do reco-reco, que é substituído pelas varas. A marcação rítmica e o comando dessa guarda são feitos pelo capitão através de um apito. A guarda de Marinha veste seus integrantes com roupas semelhantes aos uniformes dos marinheiros, fardas brancas com detalhes em azul, além de boina ou boné à cabeça. Musicalmente, esse grupo mantém algumas semelhanças com o Congo, embora nele predominem elementos oriundos do romanceiro "Nau Catarineta", em que são exaltados grandes feitos portugueses à época das Grandes Navegações, quando a Coroa lusitana arrojadamente cumpria o lema "dilatar a fé e o império". A guarda de Catupé também desempenha um papel importante dentro do Congado; na ausência do Moçambique, durante os cortejos, é o Catupé que puxa o Estado da Coroa. Sua história começa nos primórdios da festa. Tradicionalmente representa o índio africano e mantém várias características da guarda de Congo. Um manto colorido e um cocar de penas diferenciam-na dos demais grupos. No entanto, em muitas cidades, entre as quais Divinópolis, o Catupé aboliu o uso do manto e do cocar. Além do culto sagrado aos santos padroeiros, o Catupé cumpre a tarefa de divertir o público com seus cantos alegres, espirituosos e, às vezes, irônicos. Ás vésperas de se comemorarem os cinco séculos da descoberta do Brasil, as guardas do Congado e do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, integradas, em sua maioria, por descendentes dos heróicos escravos africanos, ainda guardam e cultivam com extrema e religiosa devoção a sua preciosa herança, tesouro inexaurível. Embora transformado em sincretismo, no cadinho do tempo, por injunções políticas, econômicas, sociais, culturais e religiosas, o Congado preserva a sua essência, com valores autênticos. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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