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QUÊ MARAJOARA
Maior ilha fluviomarinha do mundo tem marés que esvaziam rios a cada 13 horas
Magia de Marajó cativa até águas
AUGUSTO PINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL AO PARÁ
"A ilha é tudo para mim, é magia, poesia, meu mundo", diz a
pajé cabocla marajoara Zeneida
Lima, uma das personalidades
mais conhecidas na ilha de Marajó, que preserva a cultura da pajelança e é considerada a maior ilha
fluviomarinha do mundo, com 50
mil quilômetros quadrados.
A atmosfera mágica desse local,
que foi habitado por índios desde
cerca de 3.000 anos atrás, explicita-se não só por meio de lendas,
de ritmos e de urnas funerárias de
cerâmica (com até 250 metros de
comprimento), mas também nos
fenômenos geográficos.
De acordo com o ciclo das marés, rios e igarapés secam e enchem em um período de 13 horas,
determinando a hora de ir e de vir
do caboclo que tem no barco seu
meio de transporte.
A ilha é banhada por dois gigantes: o rio Amazonas e o oceano
Atlântico, que enfrentam uma
eterna batalha, ora tornando as
águas da baía do Marajó mais doces, ora mais salgadas.
Passeios por rios, igarapés e furos -atalhos nos rios-, que dão
a sensação de atravessar uma pintura expressionista (leia abaixo),
em meio a raízes contorcidas de
mangueiros, colocam o turista em
contato pleno com a natureza.
Praias de areia branca e de água
morna emolduram a ilha e fazem
um convite para momentos de total relaxamento.
Localizados na parte leste -onde predominam os campos e as
savanas-, os municípios de Soure e Salvaterra, os maiores da ilha
são os principais destinos. Eles
têm a melhor infra-estrutura turística e apresentam diversidade
de paisagens e de ecossistema.
Projetada por Aarão Reis, engenheiro e arquiteto paraense que
bolou Belo Horizonte, a cidade de
Soure tem ruas largas e numeradas e frondosas mangueiras.
Dizem que, se vista de cima,
Soure parece um tabuleiro de xadrez. De Belém, capital do Estado,
até Salvaterra são três horas de
barco. De lá, uma balsa leva até
Soure. As duas cidades são separadas pelo rio Paracauary.
Fazendas
Outro destaque em Marajó são
as suas extensas fazendas, que no
ano passado receberam impulso
para acolher turistas, com a criação da Associação de Turismo
Rural de Marajó (www.marajo.tur.br), incentivada pela Paratur,
órgão de turismo do governo do
Estado, e do Sebrae.
"O turista se hospeda na fazenda e participa de atividades do
dia-a-dia do vaqueiro, aprende a
ordenhar a búfala, montar em búfalo e em cavalo marajoara, pescar
piranha e focar jacaré à noite", explica Ana Tereza Acatauassú Nunes, presidente da associação e
proprietária da fazenda Sanjo, em
Soure. A entidade conta com 11
associados, entre restaurantes,
hotéis e fazendas.
As atividades ainda incluem
passeios ecológicos que podem
ser feitos a pé, a cavalo ou de barco. Neles o turista
tem uma verdadeira aula sobre a
geografia, o fenômeno das marés,
os animais e as plantas da ilha.
Os búfalos são o símbolo máximo do local. Com cerca de 600 mil
cabeças, Marajó tem um dos
maiores rebanhos bufalinos do
Brasil, superando, e muito, os 140
mil habitantes da ilha, espalhados
em 13 municípios.
Esses animais estão em toda
parte e são usados pela polícia
montada local e para transportar
cargas. A carne, com baixo teor de
colesterol, também é muito utilizada na culinária,
assim como o leite e o queijo da
búfala. Aproveita-se também o
couro do animal em curtumes da
região para fabricar bolsas, sandálias, entre outras peças.
A ilha também guarda atrações
históricas, como as ruínas de uma
igreja na vila de Joanes, em Salvaterra, construída no século 17 por
uma missão jesuítica, como explica o escritor José Varella, sobrinho de Dalcídio Jurandir (1909-1979), escritor modernista natural
de Ponta de Pedras, em Marajó.
E, para entrar de vez no ritmo
das águas, o turista pode arriscar
os passos do carimbó, do lundu,
do siriá, da dança do maçarico ou
da dança do vaqueiro, sons contagiantes de Marajó.
Augusto Pinheiro viajou ao Pará a convite da Paratur
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