São Paulo, Segunda-feira, 04 de Outubro de 1999
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QUALQUER VIAGEM
Veja como entrar no Sexy Mile-High Club!

DAVID DREW ZINGG
em Sampa

 "O mais legal de transar num avião é que você pode fazer bem ali, em seu próprio assento." Comissária de bordo da Air France
Todo mundo anda fazendo. Fazendo o quê? Entrando para o erótico Mile-High Club (clube uma milha de altitude -uma milha são 1.609 metros).
Madonna ganhou seu "diploma de aviadora" tendo Sean Penn como vigoroso co-piloto.
Julia Roberts virou sócia do clube eroticamente chique no banheiro do hoje extinto vôo MGM Grand Air, de El Lay (vulgo Los Angeles) à Grande Maçã.
Dois anos atrás, o comandante de um avião da South African Airways ameaçou desviar o aparelho de sua rota prevista, devido à cada vez mais intensa orgia que alguns passageiros estavam curtindo a bordo.
O fato é que as viagens aéreas exercem algum efeito misteriosamente irresistível sobre casais que só querem saber de ficar mais e mais juntos.
Bem-vindo ao Mile-High Club!
As relações que se concretizam no quadro do Mile-High Club costumam acontecer tarde da noite, principalmente em percursos de longa duração, como o vôo de São Paulo a Nova York, por exemplo.
Esses encontros de alta voltagem ocorrem quando as luzes do avião estão quase todas apagadas e o número de passageiros é pequeno, reduzindo a ameaça de o casal ser flagrado no ato.
Passageiros abertamente corajosos -ou lamentavelmente mal vestidos- buscam entrar para o clube no conforto de seus assentos, protegidos sob cobertores e travesseiros e movidos por doses monumentais de ousadia.
(Boatos sobre supostas "rapidinhas" de dois minutos dadas nas cozinhas de aviões são comuns na indústria da aviação comercial, mas o Velho Viajante Dave nunca flagrou um episódio desse tipo em todos os seus 55 anos de vôos em alta altitude.)

Que história é essa?
De todos os tipos de distúrbios enfrentados pelas companhias aéreas em seus vôos comerciais, o sexo no ar é o problema que vem aumentando mais.
Segundo o "The Wall Street Journal", "o número cada vez maior de delitos de natureza sexual cometidos por passageiros durante vôos comerciais constitui uma tendência preocupante. A Singapore Airlines afirmou que um terço dos casos de "comportamento desregrado" que requerem a intervenção de tripulantes de seus aviões envolvem má conduta sexual".
Por que acontece toda essa atividade sexual aérea?
Tudo começou com o surgimento do Mile-High Club.
Você sabe que existe na cabine do piloto de cada avião um aparelho chamado "piloto automático", não sabe, Joãozinho?
Trata-se de um artefato controlado por giroscópio e capaz de pilotar o avião sozinho, no modo "olhe aqui, mamãe! Sem mãos!". Foi inventado anos atrás, na época da Primeira Guerra Mundial, por um gênio chamado Lawrence Sperry.
Sperry era piloto de acrobacias aéreas e dava aulas de pilotagem a senhoras ricas.
O primeiro vôo do Mile-High Club aconteceu em novembro de 1916. Sperry estava dando aula a uma socialite milionária chamada Waldo Polk.
Um belo dia Sperry e Polk estavam sobrevoando o estreito de Long Island, no Estado de Nova York, num hidroavião, e, ao mesmo tempo, desfrutando os prazeres da carne, nus.
O encontro foi possível graças à utilização do piloto automático, que acabara de ser inventado por Sperry. Mas alguma coisa deu errado, e o avião mergulhou 150 metros, indo cair na Grande Baía Sul. O casal despido foi resgatado por dois boquiabertos caçadores de marrecos.
Com seu fogo apagado de repente, o casal foi levado ao hospital. Sperry, ainda nu, chegou ao hospital andando. A ousada sra. Polk estava a seu lado, deitada numa maca.
Tanto o instrutor quanto sua aluna fogosa sobreviveram.
Mais tarde, Sperry contou a um amigo o que acontecera: durante suas manobras aéreas, empurrou o giroscópio do piloto automático, involuntariamente.

Como Dave entrou no clube
Tio Dave entrou para o Mile-High Club em 1959, quando viajava de Nova York ao Rio de Janeiro num velho DC-6.
Lá estava eu, ombro a coxa com uma garota que poderia ter sido uma estrela de cinema -e era minha por toda a duração do vôo.
Ninados pelo ronronar dos motores do avião, embalados pela ocasional turbulência sobre o Caribe e excitados pela emoção da viagem, entramos num clima íntimo, confessional, sentindo-nos envoltos num casulo protetor.
A maioria de nós tece fantasias em que nos vemos dando de cara com o amor no ar, mas nós dois, jovens de sorte que éramos, deixamos nossa paixão correr solta no azul do céu.
Estávamos sozinhos numa fileira de assentos ao lado da saída, com muito espaço para nossas pernas.
Na metade do vôo, quando sobrevoávamos Barbados, as luzes da ilha lá embaixo bruxuleavam como distantes vaga-lumes.
O passageiro no banco de trás roncava.
A carioca que se tornara minha nova amiga íntima pegou um par de cobertores da Varig e deitou-se no confortável assento antiquado.
Virou-se de lado, de costas para a janela e com os pés voltados ao corredor. E...
-- X --
Até o final do ano 2000, os passageiros da Virgin Atlantic já vão poder reservar um assento que se converte em cama de casal.
Foi isso mesmo que você leu, Joãozinho.
Por cerca de US$ 5.500, ida e volta, as pessoas que viajarem de Nova York a Londres vão poder se espreguiçar, se esticar e até mesmo ingressar no Mile-High Club -e tudo isso por trás da proteção oferecida por um "biombo de privacidade" que poderá ser puxado quando assim o quiserem.
Esperemos que os biombos tenham isolamento acústico.


Tradução de Clara Allain


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