São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2007

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PARATY

História, comida e natureza embalam quilombo no RJ

Visita a território de descendentes de escravos rende passeio peculiar de volta às raízes históricas do país

CARLOS MINUANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARATY

Em tempos de caos aéreo e ambiental, visitar uma comunidade quilombola pode ser uma boa opção de passeio diferente, econômico e ecologicamente correto. É o caso do quilombo Campinho da Independência, localizado a 13 km de Paraty, no Estado do Rio.
Lá, o visitante pode escolher entre atividades culturais, gastronômicas e, se estiver em boa forma, uma trilha ecológica -duas horas de caminhada com direito a um refrescante banho de cachoeira no final. O quilombo é um território habitado por descendentes de negros escravos.
O melhor espírito para uma aventura como essa é não criar grandes expectativas, afinal você não estará indo a uma tribo africana, não verá mulheres e homens com penteados e roupas típicas e não há terreiro de candomblé -ao menos não neste caso.
Nesse território, até mesmo o jongo (dança típica africana) ou a percussão só aparecem em apresentações pontuais. Tendo isso em mente, é relaxar e aproveitar para conhecer o ambiente e viajar nas várias histórias do lugar.
Em geral, quem conta tudo e mais um bocado são as nativas da comunidade, que trabalham como guias e acompanham os visitantes, mas a conversa pode ser também com um dos vários "griôs" -anciões contadores de histórias e lendas.
Não é necessário se estender muito na prosa para perceber que o papo pode se tornar um mergulho nas raízes históricas do país. Por meio das narrativas, os velhos quilombolas mostram um retrato do universo de seus antepassados escravos, os duros tempos da senzala e as lutas pela libertação.

Mapa do quilombo
Os roteiros de visita ao quilombo do Campinho não são rigorosos e podem ser montados de acordo com o gosto do freguês. Um bom começo pode ser a casa de artesanato, onde tudo é feito à base de palha, tecido, bambu, cipó ou sementes. Na seqüência, uma passadinha rápida por alguns dos 13 núcleos familiares -no total são aproximadamente 140 famílias. Feito o social básico, é hora de ir para o mato.
A primeira parada pode ser a agrofloresta, projeto de aproveitamento e recuperação do solo tocado em parceria com universidades, instituições de pesquisa e pequenos agricultores da região.
Para chegar até o local caminha-se cerca de 15 minutos. O percurso inclui uma travessia por um pequeno lago e trechos de dificuldade moderada. Se a essa altura o calor já estiver atazanando, uma boa solução pode ser visitar a casa de farinha na entrada do quilombo.
Lá, funcionava, há até pouco tempo, uma engenhosa tecnologia de produção ecologicamente correta, movida a água, atualmente desativada. Mas tudo bem, você estará ao lado de uma bela cachoeira, onde vale dar uma boa relaxada. E o melhor: o acesso é bem simples.
Depois de tanta andança, reserve um tempo para saborear a culinária tradicional. O cardápio inclui desde a óbvia feijoada a pratos como o peixe cozido com banana. A sobremesa geralmente é feita com frutas da região: jaca, banana e mamão verde. E há ainda o café de cana, biju feito do amido da mandioca assada e a paçoca de banana verde. A partir de novembro, os quitutes típicos serão servidos em um novo restaurante.
Depois, é bom aproveitar para descansar assistindo às apresentações de percussão e da dança tradicional do jongo. Mas lembre-se: um quilombo não é um centro turístico convencional. Portanto, para que tudo funcione bem, é importante agendar com antecedência sua visita.


QUILOMBO CAMPINHO DA INDEPENDÊNCIA
BR-101, km 582, Paraty (RJ). O pacote simples (visita aos núcleos familiares, à casa de artesanato, à agrofloresta e aos griôs, com duração de aproximadamente 3 horas) custa R$ 25
Tel.: 0/ xx/24/3371-4866


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