São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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Paisagem compensa suor do corpo

DO ENVIADO ESPECIAL

Ao sair da Anchieta e entrar no caminho do Estoril, em direção a Riacho Grande (em São Bernardo do Campo), a paisagem muda radicalmente: os assustadores caminhões dão lugar a uma estrada movimentada só por pescadores, reconhecidos pelas varas suspensas do lado de fora das janelas.
O caminho é cheio de pesqueiros artificiais, sem contar a bela vista para a represa Billings, de onde saem passeios de barco para as inúmeras ilhas da região. A brisa que vem da represa, entretanto, nem sempre refresca as subidas que o ciclista enfrenta na estrada.
Já nas proximidades da estrada velha de Santos, uma pequena entrada -facilmente passada despercebida- indica o início da trilha para a Calçada do Lorena. A partir dali, belas paisagens, em meio à sinuosa serra do Mar, o contato direto com a natureza e a forte presença de relíquias históricas, por meio de monumentos e ruínas, são a marca do passeio.
Logo no começo da trilha é fácil ver que, para os menos experientes com a magrela, o asfalto deixa muitas saudades. Uma série de buracos, pedras de todos os tamanhos, poças-d'água e ladeiras entram no lugar do pavimento.
Para enfrentar o desafio, há quem apele até para afrodisíacos. É o caso do "ciclista" que se identificou como Orlando, o único encontrado pela reportagem da Folha em todo o trajeto da calçada.
No lugar do cantil com água ou isotônico, estava improvisada uma garrafa com catuaba, presa à bicicleta com arame. "Vim pedalando da zona leste, da Vila Carrão", contou ele, que, para contrariar ainda mais as recomendações de esportistas, calçava chinelos.
Não muito distante desse ponto, fica o início oficial da Calçada do Lorena, a partir de uma placa indicativa enferrujada. A subida é bastante íngreme, obrigando o ciclista a carregar a bicicleta.
O calçamento, todo de pedras, foi mantido na forma original em boa parte do trajeto. Nesse trecho da trilha, é possível observar variadas espécies de plantas, flores, pássaros e, com um pouco de sorte, animais um pouco maiores, como lagartos e macacos.
No final da ladeira, a recompensa: do ponto mais alto da calçada, a 759 metros acima do nível do mar, já dá para avistar a Baixada Santista. Lá está o chamado monumento do Pico, um dos marcos históricos do caminho. Vale a pena uma parada para apreciar a vista e recuperar o fôlego para a descida, não menos desafiadora.
A sugestão, para descer, é evitar pedalar nesse percurso: como as trilhas são de mata fechada, as pedras possuem muito limo e são bastante escorregadias. Mesmo para quem for fazer só caminhada, é bom tomar cuidado, ainda mais em trechos íngremes.
"Até Cubatão, seja a pessoa experiente ou não sobre duas rodas, é necessário prestar muita atenção para não sofrer um acidente, principalmente em dias chuvosos", diz o ciclista da Caloi Marcos Aziz, 39, especialista no roteiro.
No trecho final, a Calçada do Lorena encontra a estrada velha de Santos, fechada para a passagem de veículos. Além de belos monumentos, o ciclista pode contemplar a vista da baixada e da serra do Mar, à medida que perde altura até o litoral.
A estrada reserva ainda boas surpresas: uma bica de água do início do século serve de ponto de descanso e uma série de cascatas também ajuda a refrescar em dias quentes. A calçada termina, oficialmente, no Cruzeiro Quinhentista, já no pólo petroquímico de Cubatão. Para quem ainda tiver fôlego, o litoral já é quase ali. (CA)


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