|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Paisagem compensa suor do corpo
DO ENVIADO ESPECIAL
Ao sair da Anchieta e entrar no
caminho do Estoril, em direção a
Riacho Grande (em São Bernardo
do Campo), a paisagem muda radicalmente: os assustadores caminhões dão lugar a uma estrada
movimentada só por pescadores,
reconhecidos pelas varas suspensas do lado de fora das janelas.
O caminho é cheio de pesqueiros artificiais, sem contar a bela
vista para a represa Billings, de
onde saem passeios de barco para
as inúmeras ilhas da região. A brisa que vem da represa, entretanto,
nem sempre refresca as subidas
que o ciclista enfrenta na estrada.
Já nas proximidades da estrada
velha de Santos, uma pequena entrada -facilmente passada despercebida- indica o início da trilha para a Calçada do Lorena. A
partir dali, belas paisagens, em
meio à sinuosa serra do Mar, o
contato direto com a natureza e a
forte presença de relíquias históricas, por meio de monumentos e
ruínas, são a marca do passeio.
Logo no começo da trilha é fácil
ver que, para os menos experientes com a magrela, o asfalto deixa
muitas saudades. Uma série de
buracos, pedras de todos os tamanhos, poças-d'água e ladeiras entram no lugar do pavimento.
Para enfrentar o desafio, há
quem apele até para afrodisíacos.
É o caso do "ciclista" que se identificou como Orlando, o único encontrado pela reportagem da Folha em todo o trajeto da calçada.
No lugar do cantil com água ou
isotônico, estava improvisada
uma garrafa com catuaba, presa à
bicicleta com arame. "Vim pedalando da zona leste, da Vila Carrão", contou ele, que, para contrariar ainda mais as recomendações
de esportistas, calçava chinelos.
Não muito distante desse ponto, fica o início oficial da Calçada
do Lorena, a partir de uma placa
indicativa enferrujada. A subida é
bastante íngreme, obrigando o ciclista a carregar a bicicleta.
O calçamento, todo de pedras,
foi mantido na forma original em
boa parte do trajeto. Nesse trecho
da trilha, é possível observar variadas espécies de plantas, flores,
pássaros e, com um pouco de sorte, animais um pouco maiores,
como lagartos e macacos.
No final da ladeira, a recompensa: do ponto mais alto da calçada,
a 759 metros acima do nível do
mar, já dá para avistar a Baixada
Santista. Lá está o chamado monumento do Pico, um dos marcos
históricos do caminho. Vale a pena uma parada para apreciar a
vista e recuperar o fôlego para a
descida, não menos desafiadora.
A sugestão, para descer, é evitar
pedalar nesse percurso: como as
trilhas são de mata fechada, as pedras possuem muito limo e são
bastante escorregadias. Mesmo
para quem for fazer só caminhada, é bom tomar cuidado, ainda
mais em trechos íngremes.
"Até Cubatão, seja a pessoa experiente ou não sobre duas rodas,
é necessário prestar muita atenção para não sofrer um acidente,
principalmente em dias chuvosos", diz o ciclista da Caloi Marcos
Aziz, 39, especialista no roteiro.
No trecho final, a Calçada do
Lorena encontra a estrada velha
de Santos, fechada para a passagem de veículos. Além de belos
monumentos, o ciclista pode contemplar a vista da baixada e da
serra do Mar, à medida que perde
altura até o litoral.
A estrada reserva ainda boas
surpresas: uma bica de água do
início do século serve de ponto de
descanso e uma série de cascatas
também ajuda a refrescar em dias
quentes. A calçada termina, oficialmente, no Cruzeiro Quinhentista, já no pólo petroquímico de
Cubatão. Para quem ainda tiver
fôlego, o litoral já é quase ali.
(CA)
Texto Anterior: Pé no pedal: Rota histórica dribla trânsito ao litoral Próximo Texto: Monumentos e "pousos" pontuam trajeto Índice
|