São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2001

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HERANÇA ASTECA

Eleição de Vicente Fox no ano passado derrotou partido cuja história se confunde com a saga do país

Após 71 anos, país vive 1ª gestão sem PRI

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

O México vive, desde o dia 1º de dezembro, uma situação desconhecida até então para a imensa maioria de seus cidadãos: tem um presidente que não pertence ao Partido Revolucionário Institucional (PRI), agremiação que governou hegemonicamente o país por longos 71 anos.
A história do PRI se confunde em parte com a própria história recente do país. O partido nasceu em 1929 como agremiação aglutinadora dos líderes herdeiros da Revolução Mexicana, de 1910.
Liderada por Emiliano Zapata e Pancho Villa, ela realizou um dos mais amplos processos de reforma agrária do mundo, estatizou empresas e produziu aquela que é considerada a primeira Constituição social do mundo, promulgada em 1917 e em vigor até hoje.
Com o tempo, o partido, originalmente Partido Nacional Revolucionário, perdeu suas características. Como o nome diz, foi "institucionalizado". Os revolucionários e nacionalistas do início deram lugar a uma burocracia tomada por lutas internas pelo poder, corrupção excessiva e violência. O partido foi acusado de se manter no governo graças às quase descaradas fraudes eleitorais.
Não é à toa que um dos eventos considerados mais emblemáticos da derrocada final do PRI tenha sido o levante do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) no Estado sulista de Chiapas, em 1994. O EZLN, que se diz o verdadeiro herdeiro dos ideais de Zapata, exigia reformas políticas e econômicas. A insurgência foi controlada, mas o EZLN se transformou em uma importante força de pressão social sobre o governo (leia-se PRI até o ano passado).
Os primeiros sinais de descontentamento apareceram nos anos 60, quando manifestações estudantis pipocaram pelo país, pedindo mais justiça social. Em outubro de 1968, uma manifestação estudantil na praça de Tlatelolco, na Cidade do México, foi reprimida com força pelo Exército, deixando pelo menos 325 mortos e centenas de feridos ou presos.
Para tentar conter o crescente descontentamento, o governo promoveu distribuição de terras a camponeses e aumentou salários.
O populismo de resultados durou pouco. Com a queda nos preços do petróleo no começo dos anos 80, o México entraria num período de crise econômica que resultaria, mais de uma década depois, numa grave crise cambial que abalou meio mundo e só foi contida graças a um pacote de ajuda internacional de quase US$ 50 bilhões, em 1995.
Diante desse quadro (e com as fraudes relativamente sob controle), Vicente Fox Quesada, 58, um ex-executivo da Coca-Cola com pose de caubói, foi eleito presidente no ano passado prometendo combater a corrupção e promover o crescimento econômico com distribuição de renda. O feito foi chamado por muitos de "a nova Revolução Mexicana".


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