São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2001

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LAZER A SERVIÇO

Para conhecer lugares diferentes, jovens buscam ocupações que tragam a chance de uma viagem

Viajantes somam trabalho com doses de aventura

CHIAKI KAREN TADA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sempre que possível, o estudante Jum Tabata, 23, arruma as malas, prepara a vara de pesca e parte em viagens em busca de rios e lagos -da Argentina ao Amazonas- onde possa lançar o anzol e escrever a respeito.
É que, além das aulas nas faculdades de jornalismo e de economia agroindustrial, Tabata, um apaixonado por pesca, também trabalha como colaborador de uma revista sobre o assunto. Dessa forma, alia o trabalho ao hobby. "Pescar implica viajar. Quando surgiu a primeira chance de ir de avião (pescar no Pantanal), foi inacreditável", lembra.
Como ele, há muita gente, principalmente jovens, que busca serviços com os quais possa realizar o sonho de conhecer lugares diferentes, equilibrando as responsabilidades de um emprego com o prazer da aventura.
A estudante de arquitetura Fernanda Sandini, 20, aceitou na hora um convite para trabalhar a bordo de um navio de cruzeiros em janeiro. A função, junto com o irmão, o estudante de engenharia mecânica Eduardo, era dar aulas de dança de salão e ser par dos passageiros nos bailes.
Conheceram Búzios (RJ), Buenos Aires, Ilhabela (SP) e Porto Belo (SC), as escalas do cruzeiro, e fizeram amizades. Não receberam pagamento e perderam a máquina fotográfica (esquecida sobre uma mesa e jamais encontrada) já no final da viagem, mas ainda assim gostaram.
"A gente adorou. Se tudo der certo, vamos de novo no ano que vem", aguarda Eduardo. "Gostei de conhecer gente nova, e a gente tem uma atenção diferente. Fica famoso", completa Fernanda.

Aventura na neve
Algumas "viagens-trabalho" levam a lugares mais distantes ainda. Julio Kenji Toida, 22, por exemplo, passou três meses em uma estação de esqui no Japão, entre 98 e 99, trabalhando de camareiro, arrumando cama e passando aspirador de pó.
"Fui para passear. Se fosse para juntar dinheiro, não iria para uma estação de esqui", comenta ele, que já trabalhou em uma empresa de marmitas no Japão, ganhando três vezes mais.
Uma das vantagens era poder esquiar de graça. Só a taxa para o "ski lift" custava cerca de US$ 40, e Toida ganhava cerca de US$ 50 por dia. O aluguel da prancha de snowboard custava, para os hóspedes, algo em torno de US$ 150.
Toida juntou o suficiente para ir passear em Tóquio, pagar as despesas da viagem e visitar amigos que viviam no país.
E ainda guarda boas lembranças, como quando uma amiga "afundou" na neve fofa e ele teve que descer todo o morro para buscar um galho, subir de lift e descer de novo para poder resgatá-la. "Ela chorava, depois ria, depois chorava de novo. Ficou meia hora assim", diverte-se.

Responsabilidade
A busca por aventuras, mesmo que por meio de empregos, é uma forma de desafio. "São situações que o jovem se coloca para ver se é capaz de se virar sozinho", diz Miguel Angelo Yalente Perosa, professor de psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC).
Mas não se pode esquecer que trabalhar em uma "viagem-emprego" não é só "oba-oba". Exige responsabilidade. "Tem vez que a gente passa aperto", diz Tabata, lembrando-se das vezes em que não conseguia pescar nada, assim como da probabilidade de ter de atrasar a faculdade.
"Tem que ter muito jogo de cintura, disciplina", comenta Marcos Levy Ruffalo, 30, que trabalha como guia de turismo e já foi monitor do Club Med (leia mais sobre o trabalho na rede nesta página).
Segundo Perosa, quem se dispõe a esse tipo de aventura é geralmente bastante ciente do serviço. "Com certeza existe responsabilidade na aventura. Ninguém aceita gente louca para trabalhar em resorts", comenta ele.
Uma certa auto-estima e desprendimento também ajudam. "Você estranha um pouco a cultura (do lugar), mas quando se propõe a fazer uma viagem dessas, tem que estar preparado", diz Ester Umeki, 28, que trabalhou (e passeou) em estações de esqui, juntou dinheiro e foi à Europa, onde também trabalhou. "Tem que relaxar."


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