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LAZER A SERVIÇO
Para conhecer lugares diferentes, jovens buscam ocupações que tragam a chance de uma viagem
Viajantes somam trabalho com doses de aventura
CHIAKI KAREN TADA
DA REPORTAGEM LOCAL
Sempre que possível, o estudante Jum Tabata, 23, arruma as malas, prepara a vara de pesca e parte
em viagens em busca de rios e lagos -da Argentina ao Amazonas- onde possa lançar o anzol e
escrever a respeito.
É que, além das aulas nas faculdades de jornalismo e de economia agroindustrial, Tabata, um
apaixonado por pesca, também
trabalha como colaborador de
uma revista sobre o assunto. Dessa forma, alia o trabalho ao
hobby. "Pescar implica viajar.
Quando surgiu a primeira chance
de ir de avião (pescar no Pantanal), foi inacreditável", lembra.
Como ele, há muita gente, principalmente jovens, que busca serviços com os quais possa realizar
o sonho de conhecer lugares diferentes, equilibrando as responsabilidades de um emprego com o
prazer da aventura.
A estudante de arquitetura Fernanda Sandini, 20, aceitou na hora um convite para trabalhar a
bordo de um navio de cruzeiros
em janeiro. A função, junto com o
irmão, o estudante de engenharia
mecânica Eduardo, era dar aulas
de dança de salão e ser par dos
passageiros nos bailes.
Conheceram Búzios (RJ), Buenos Aires, Ilhabela (SP) e Porto
Belo (SC), as escalas do cruzeiro, e
fizeram amizades. Não receberam
pagamento e perderam a máquina fotográfica (esquecida sobre
uma mesa e jamais encontrada) já
no final da viagem, mas ainda assim gostaram.
"A gente adorou. Se tudo der
certo, vamos de novo no ano que
vem", aguarda Eduardo. "Gostei
de conhecer gente nova, e a gente
tem uma atenção diferente. Fica
famoso", completa Fernanda.
Aventura na neve
Algumas "viagens-trabalho" levam a lugares mais distantes ainda. Julio Kenji Toida, 22, por
exemplo, passou três meses em
uma estação de esqui no Japão,
entre 98 e 99, trabalhando de camareiro, arrumando cama e passando aspirador de pó.
"Fui para passear. Se fosse para
juntar dinheiro, não iria para uma
estação de esqui", comenta ele,
que já trabalhou em uma empresa
de marmitas no Japão, ganhando
três vezes mais.
Uma das vantagens era poder
esquiar de graça. Só a taxa para o
"ski lift" custava cerca de US$ 40,
e Toida ganhava cerca de US$ 50
por dia. O aluguel da prancha de
snowboard custava, para os hóspedes, algo em torno de US$ 150.
Toida juntou o suficiente para ir
passear em Tóquio, pagar as despesas da viagem e visitar amigos
que viviam no país.
E ainda guarda boas lembranças, como quando uma amiga
"afundou" na neve fofa e ele teve
que descer todo o morro para
buscar um galho, subir de lift e
descer de novo para poder resgatá-la. "Ela chorava, depois ria, depois chorava de novo. Ficou meia
hora assim", diverte-se.
Responsabilidade
A busca por aventuras, mesmo
que por meio de empregos, é uma
forma de desafio. "São situações
que o jovem se coloca para ver se é
capaz de se virar sozinho", diz Miguel Angelo Yalente Perosa, professor de psicologia da Pontifícia
Universidade Católica (PUC).
Mas não se pode esquecer que
trabalhar em uma "viagem-emprego" não é só "oba-oba". Exige
responsabilidade. "Tem vez que a
gente passa aperto", diz Tabata,
lembrando-se das vezes em que
não conseguia pescar nada, assim
como da probabilidade de ter de
atrasar a faculdade.
"Tem que ter muito jogo de cintura, disciplina", comenta Marcos
Levy Ruffalo, 30, que trabalha como guia de turismo e já foi monitor do Club Med (leia mais sobre
o trabalho na rede nesta página).
Segundo Perosa, quem se dispõe a esse tipo de aventura é geralmente bastante ciente do serviço. "Com certeza existe responsabilidade na aventura. Ninguém
aceita gente louca para trabalhar
em resorts", comenta ele.
Uma certa auto-estima e desprendimento também ajudam.
"Você estranha um pouco a cultura (do lugar), mas quando se propõe a fazer uma viagem dessas,
tem que estar preparado", diz Ester Umeki, 28, que trabalhou (e
passeou) em estações de esqui,
juntou dinheiro e foi à Europa,
onde também trabalhou. "Tem
que relaxar."
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