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FERNANDO GABEIRA
Porto Alegre faz da política uma atração turística
Costumava viajar todo
mês para Porto Alegre,
quando escrevia para jornais de
lá. Tantas vezes fui que acabei
comprando um excelente guia
editado pela LPM, revelando todos os segredos culinários e culturais da cidade.
Creio que esse guia existe até
hoje e, por meio dele, muita gente
deve estar comendo bem e conhecendo lugares atraentes como os
que conheci, entre eles, por exemplo, um pequeno restaurante que
nos dá a sensação de estarmos na
Suécia.
As sucessivas e bem-sucedidas
administrações do PT acabaram
introduzindo o elemento turístico
no leque de atrações de Porto Alegre e, com o Fórum Social Mundial, essa dimensão cresceu, justificando a edição de um novo guia
para incorporar essa nova realidade.
O Gasômetro, às margens do rio
Guaíba, já tinha sido inaugurado
quando o PT chegou ao governo,
mas foi todo reformulado. Tornou-se um grande centro cultural. A restauração do Mercado
Municipal, que continua com seu
movimento de vendas normal,
mas ganhou novos e excelentes
restaurantes, também é algo novo
que merece ser conhecido.
O principal de um roteiro desse
tipo é a política. Muitas pessoas
querem conhecer a experiência
do orçamento participativo e outras inovações que estão sendo
realizadas com êxito, como um
programa de troca de seringas
para usuários de drogas injetáveis, realizado em sintonia com a
ONG Aborda.
Época
O único problema desse tipo de
turismo, de gente que quer conhecer novas experiências políticas, é
escolher bem a época.
O alto verão, por exemplo, não é
o melhor momento. O Fórum Social Mundial foi realizado em janeiro, possivelmente porque muitos só teriam tempo disponível
nessa época.
Mas o calor em Porto Alegre é
bastante duro para quem não está acostumado. Quase não sopra
a brisa e a onda quente que emerge do asfalto é muito forte, talvez
porque exista no subsolo da cidade algo que retenha o calor.
Estar em Porto Alegre na primavera, por exemplo, é um grande prazer, porque a temperatura
é muito amena.
Claro, você não verá destruição
de plantação de transgênicos, não
cantará "Guantanamera" nem
terá uma oferta abundante de camisetas com a imagem de Che
Guevara.
Mas, pensando bem, sem o calor intenso e sem o clima ideológico talvez se possa aproveitar melhor o passeio pela cidade e, sobretudo, fazer perguntas, pensar
um pouco. Muita gente junta
achando que sabe a verdade acaba inibindo um pouco a faculdade de pensar.
Nicho
Porto Alegre, no entanto, ao organizar o Fórum Social Mundial,
ampliou extraordinariamente
sua imagem pelo mundo e, de
uma certa forma, consolidou-se
como um nicho de turismo político que pode vir a ser um grande
estímulo econômico.
Num mundo globalizado como
é o de hoje, existem possibilidades
de novos nichos, de que se encontrem outras vocações e de que o
Brasil rompa com essa contradição entre a diversidade e a riqueza de suas atrações e a modéstia
de seu movimento turístico.
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