São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Índice

FERNANDO GABEIRA

Porto Alegre faz da política uma atração turística

Costumava viajar todo mês para Porto Alegre, quando escrevia para jornais de lá. Tantas vezes fui que acabei comprando um excelente guia editado pela LPM, revelando todos os segredos culinários e culturais da cidade.
Creio que esse guia existe até hoje e, por meio dele, muita gente deve estar comendo bem e conhecendo lugares atraentes como os que conheci, entre eles, por exemplo, um pequeno restaurante que nos dá a sensação de estarmos na Suécia.
As sucessivas e bem-sucedidas administrações do PT acabaram introduzindo o elemento turístico no leque de atrações de Porto Alegre e, com o Fórum Social Mundial, essa dimensão cresceu, justificando a edição de um novo guia para incorporar essa nova realidade.
O Gasômetro, às margens do rio Guaíba, já tinha sido inaugurado quando o PT chegou ao governo, mas foi todo reformulado. Tornou-se um grande centro cultural. A restauração do Mercado Municipal, que continua com seu movimento de vendas normal, mas ganhou novos e excelentes restaurantes, também é algo novo que merece ser conhecido.
O principal de um roteiro desse tipo é a política. Muitas pessoas querem conhecer a experiência do orçamento participativo e outras inovações que estão sendo realizadas com êxito, como um programa de troca de seringas para usuários de drogas injetáveis, realizado em sintonia com a ONG Aborda.

Época
O único problema desse tipo de turismo, de gente que quer conhecer novas experiências políticas, é escolher bem a época.
O alto verão, por exemplo, não é o melhor momento. O Fórum Social Mundial foi realizado em janeiro, possivelmente porque muitos só teriam tempo disponível nessa época.
Mas o calor em Porto Alegre é bastante duro para quem não está acostumado. Quase não sopra a brisa e a onda quente que emerge do asfalto é muito forte, talvez porque exista no subsolo da cidade algo que retenha o calor.
Estar em Porto Alegre na primavera, por exemplo, é um grande prazer, porque a temperatura é muito amena.
Claro, você não verá destruição de plantação de transgênicos, não cantará "Guantanamera" nem terá uma oferta abundante de camisetas com a imagem de Che Guevara.
Mas, pensando bem, sem o calor intenso e sem o clima ideológico talvez se possa aproveitar melhor o passeio pela cidade e, sobretudo, fazer perguntas, pensar um pouco. Muita gente junta achando que sabe a verdade acaba inibindo um pouco a faculdade de pensar.

Nicho
Porto Alegre, no entanto, ao organizar o Fórum Social Mundial, ampliou extraordinariamente sua imagem pelo mundo e, de uma certa forma, consolidou-se como um nicho de turismo político que pode vir a ser um grande estímulo econômico.
Num mundo globalizado como é o de hoje, existem possibilidades de novos nichos, de que se encontrem outras vocações e de que o Brasil rompa com essa contradição entre a diversidade e a riqueza de suas atrações e a modéstia de seu movimento turístico.


Texto Anterior: Fuga da rotina vira "jornada" de 10 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.