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GARIMPEIRO
Bibliófilo, José Mindlin esquadrinha acervos
"A leitura é um vírus que quero inocular"
JULIANA DORETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sossegadamente instalado
em uma poltrona de sua sala,
em São Paulo, rodeado por estantes empanturradas de livros
antigos, o empresário e bibliófilo José Mindlin olha para cima e faz as contas: "Com uma
média de duas obras por semana, devo ter lido uns 8.000
exemplares até hoje".
A leitura voraz instigou, no
então adolescente Mindlin,
com 13 anos, o desejo de também guardar livros. E ele reuniu tantos que teve que alugar
um apartamento e uma sala e
ainda construir outros dois cômodos, no quintal de sua casa,
para guardar os 40 mil títulos
que possui.
Com esse considerável histórico, Mindlin é autoridade também em visitas a bibliotecas pelo mundo.
A cada vez que viaja com a
mulher, Guita -com quem divide o prazer pela leitura há 67
anos (de casamento)-, ele faz
pelo menos uma parada em salas de leitura.
Entre as já visitadas -e recomendadas-, estão a Pública
de Nova York,
a Morgan (www.morganlibrary.org), na mesma cidade,
a do Vaticano (bav.vatican.va), algumas das Nacionais, em
Lisboa (www.bn.pt) e em Paris
(www.bnf.fr), e a Ambrosiana,
de Milão (www.ambrosiana.it). "Em Sevilha, há a biblioteca
de Fernando Colombo, filho de
Cristóvão Colombo, que tem
5.000 volumes", acrescenta.
Pontaria
"Deixa eu lhe mostrar uma
coisa." E Mindlin retira, com
"pontaria" certeira, entre dezenas de estantes, o livro que procura. "Este tem dedicatória de
Machado de Assis. Achei em
um sebo, com 15 anos." Ao ver
que o interesse do interlocutor
aumenta, ele vai até outro canto e abre o original de "Grande
Sertão: Veredas", escrito à máquina, com correções do autor,
João Guimarães Rosa.
Ao lado, está a primeira prova de "O Mundo Coberto de
Penas", com a anotação de
Graciliano Ramos pedindo a
mudança do título de sua obra
-riscando-o com um forte
traço- para "Vidas Secas".
Essas e outras preciosidades
de Mindlin podem ser consultadas apenas por pesquisadores, assim como na maioria das
grandes bibliotecas. Então por
que gastar parte da viagem para visitá-las? "Porque muitos livros estão expostos, como os
manuscritos medievais da Biblioteca do Museu Britânico. E
porque muitas estão em prédios bonitos", resume.
Claro que a biblioteca também tem de fazer sua parte. "Os
funcionários devem estar preparados para mostrar ao visitante o que há de interessante,
porque é difícil para o leitor
descobrir sozinho", diz. "E, se o
turista ainda não tiver o gosto
pela leitura, a vantagem é que
ele pode pegar essa doença
com a visita. Uma doença que
faz se sentir bem e é incurável.
Esse vírus eu faço questão de
inocular."
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