São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2005

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GARIMPEIRO

Bibliófilo, José Mindlin esquadrinha acervos

"A leitura é um vírus que quero inocular"

JULIANA DORETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sossegadamente instalado em uma poltrona de sua sala, em São Paulo, rodeado por estantes empanturradas de livros antigos, o empresário e bibliófilo José Mindlin olha para cima e faz as contas: "Com uma média de duas obras por semana, devo ter lido uns 8.000 exemplares até hoje".
A leitura voraz instigou, no então adolescente Mindlin, com 13 anos, o desejo de também guardar livros. E ele reuniu tantos que teve que alugar um apartamento e uma sala e ainda construir outros dois cômodos, no quintal de sua casa, para guardar os 40 mil títulos que possui.
Com esse considerável histórico, Mindlin é autoridade também em visitas a bibliotecas pelo mundo.
A cada vez que viaja com a mulher, Guita -com quem divide o prazer pela leitura há 67 anos (de casamento)-, ele faz pelo menos uma parada em salas de leitura.
Entre as já visitadas -e recomendadas-, estão a Pública de Nova York, a Morgan (www.morganlibrary.org), na mesma cidade, a do Vaticano (bav.vatican.va), algumas das Nacionais, em Lisboa (www.bn.pt) e em Paris (www.bnf.fr), e a Ambrosiana, de Milão (www.ambrosiana.it). "Em Sevilha, há a biblioteca de Fernando Colombo, filho de Cristóvão Colombo, que tem 5.000 volumes", acrescenta.

Pontaria
"Deixa eu lhe mostrar uma coisa." E Mindlin retira, com "pontaria" certeira, entre dezenas de estantes, o livro que procura. "Este tem dedicatória de Machado de Assis. Achei em um sebo, com 15 anos." Ao ver que o interesse do interlocutor aumenta, ele vai até outro canto e abre o original de "Grande Sertão: Veredas", escrito à máquina, com correções do autor, João Guimarães Rosa.
Ao lado, está a primeira prova de "O Mundo Coberto de Penas", com a anotação de Graciliano Ramos pedindo a mudança do título de sua obra -riscando-o com um forte traço- para "Vidas Secas".
Essas e outras preciosidades de Mindlin podem ser consultadas apenas por pesquisadores, assim como na maioria das grandes bibliotecas. Então por que gastar parte da viagem para visitá-las? "Porque muitos livros estão expostos, como os manuscritos medievais da Biblioteca do Museu Britânico. E porque muitas estão em prédios bonitos", resume.
Claro que a biblioteca também tem de fazer sua parte. "Os funcionários devem estar preparados para mostrar ao visitante o que há de interessante, porque é difícil para o leitor descobrir sozinho", diz. "E, se o turista ainda não tiver o gosto pela leitura, a vantagem é que ele pode pegar essa doença com a visita. Uma doença que faz se sentir bem e é incurável. Esse vírus eu faço questão de inocular."


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