São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PELAS ESTANTES

Prédio neomanuelino no Rio guarda o maior patrimônio de obras portuguesas fora de Portugal

Ida ao Real Gabinete Português de Leitura transporta ao séc. 19

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Quem passa pela rua Luís de Camões, no centro do Rio de Janeiro, e não presta muita atenção naquilo que vê pode acabar confundindo o Real Gabinete Português de Leitura (www.realgabinete.com.br), um edifício de traços neomanuelistas construído em 1880, com mais uma igreja da cidade e se ver motivado a cair de joelhos em suas escadas ou a fazer um respeitoso sinal da cruz.
Incrustado pelo arquiteto português Raphael da Silva e Castro em uma ruela que sai do largo de São Francisco, o Real Gabinete Português de Leitura oferece àqueles que se esmeram em descobrir o que há por trás de sua inusitada fachada, com estátuas de Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, Luís de Camões e infante d. Henrique, a maior e mais valiosa biblioteca de autores portugueses fora de Portugal.
Com um acervo de 350 mil obras, capitaneadas por uma edição de "Os Lusíadas", de 1572, que pertenceu à Companhia de Jesus, o Real Gabinete impressiona por fazer seus visitantes voltarem no tempo e imaginarem como era a vida no século 19.
Construída para servir de prova da gratidão dos lusitanos ao povo brasileiro e inaugurada pela princesa Isabel e pelo conde D'Eu, a biblioteca acolheu as primeiras sessões solenes da Academia Brasileira de Letras (ABL) e hoje reúne um acervo magnífico, que vai desde a biblioteca pessoal de João do Rio, doada após sua morte, até a recente autobiografia da ex-Spice Girl Victoria Beckham. Apesar de não disponibilizar visitas guiadas, o Gabinete é, sem dúvida alguma, um lugar capaz de garantir horas de entretenimento tanto para admiradores de literatura e arquitetura como para um cidadão corrente e curioso.
No térreo, o único andar acessível ao público, o visitante se depara, logo na entrada, com um grande busto de Camões entalhado em madeira. Diante desse símbolo da cultura de Portugal e espalhadas de forma cuidadosa no centro do salão, há cerca de 20 mesas e 40 cadeiras, comumente usadas por aqueles que consultam obras do acervo ou que simplesmente preferem se sentar para admirar as estantes repletas de livros que circundam nada mais nada menos do que três andares do edifício.
Como se não bastasse a beleza das estantes, extremamente organizadas, indo até o teto, o visitante que olhar um pouco mais para cima vai se maravilhar com o lustre de metal retorcido e com a abóbada de vidros brancos, azuis e vermelhos, que garantem a luminosidade necessária.
Dispostos de forma muito discreta para não destoar do ambiente que já serviu de cenário para filmes e minisséries de época, como "Olga", de Jayme Monjardim, e "Mad Maria", da Rede Globo, ficam isolados nos cantos do salão os únicos vestígios de modernidade do recinto: dois computadores, que ajudam o leitor a encontrar o que busca, e alguns ventiladores de pé.
Depois do entardecer, quando a temperatura e a confusão nas ruas do centro do Rio costumam diminuir, são ministrados no auditório do Real Gabinete, com capacidade para mais de cem pessoas, cursos de literatura, história, antropologia, artes e lingüística.
O empréstimo de livros é uma prerrogativa exclusiva dos sócios, mas qualquer um está convidado e será certamente bem recebido pelos funcionários para ler nas dependências do Gabinete, que, segundo disse Joaquim Nabuco na inauguração, foi construído com pedras que são, na verdade, as estrofes de "Os Lusíadas".
(CRISTINA TARDÁGUILA FERREIRA)


Real Gabinete Português de Leitura - Funciona de segunda a sexta, das 9h às 18h; entrada gratuita.

Texto Anterior: Pelas estantes: Leões de mármore tomam conta de livros em Nova York
Próximo Texto: São Paulo: Arte sobre papel pode ganhar galeria na Mário de Andrade
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.