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PELAS ESTANTES
Prédio neomanuelino no Rio guarda o maior patrimônio de obras portuguesas fora de Portugal
Ida ao Real Gabinete Português de Leitura transporta ao séc. 19
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Quem passa pela rua Luís de
Camões, no centro do Rio de Janeiro, e não presta muita atenção
naquilo que vê pode acabar confundindo o Real Gabinete Português de Leitura (www.realgabinete.com.br), um edifício de traços
neomanuelistas construído em
1880, com mais uma igreja da cidade e se ver motivado a cair de
joelhos em suas escadas ou a fazer
um respeitoso sinal da cruz.
Incrustado pelo arquiteto português Raphael da Silva e Castro
em uma ruela que sai do largo de
São Francisco, o Real Gabinete
Português de Leitura oferece
àqueles que se esmeram em descobrir o que há por trás de sua
inusitada fachada, com estátuas
de Pedro Álvares Cabral, Vasco
da Gama, Luís de Camões e infante d. Henrique, a maior e mais valiosa biblioteca de autores portugueses fora de Portugal.
Com um acervo de 350 mil
obras, capitaneadas por uma edição de "Os Lusíadas", de 1572, que
pertenceu à Companhia de Jesus,
o Real Gabinete impressiona por
fazer seus visitantes voltarem no
tempo e imaginarem como era a
vida no século 19.
Construída para servir de prova
da gratidão dos lusitanos ao povo
brasileiro e inaugurada pela princesa Isabel e pelo conde D'Eu, a
biblioteca acolheu as primeiras
sessões solenes da Academia Brasileira de Letras (ABL) e hoje reúne um acervo magnífico, que vai
desde a biblioteca pessoal de João
do Rio, doada após sua morte, até
a recente autobiografia da ex-Spice Girl Victoria Beckham. Apesar
de não disponibilizar visitas guiadas, o Gabinete é, sem dúvida alguma, um lugar capaz de garantir
horas de entretenimento tanto
para admiradores de literatura e
arquitetura como para um cidadão corrente e curioso.
No térreo, o único andar acessível ao público, o visitante se depara, logo na entrada, com um grande busto de Camões entalhado
em madeira. Diante desse símbolo da cultura de Portugal e espalhadas de forma cuidadosa no
centro do salão, há cerca de 20
mesas e 40 cadeiras, comumente
usadas por aqueles que consultam obras do acervo ou que simplesmente preferem se sentar para admirar as estantes repletas de
livros que circundam nada mais
nada menos do que três andares
do edifício.
Como se não bastasse a beleza
das estantes, extremamente organizadas, indo até o teto, o visitante
que olhar um pouco mais para cima vai se maravilhar com o lustre
de metal retorcido e com a abóbada de vidros brancos, azuis e vermelhos, que garantem a luminosidade necessária.
Dispostos de forma muito discreta para não destoar do ambiente que já serviu de cenário para filmes e minisséries de época,
como "Olga", de Jayme Monjardim, e "Mad Maria", da Rede Globo, ficam isolados nos cantos do
salão os únicos vestígios de modernidade do recinto: dois computadores, que ajudam o leitor a
encontrar o que busca, e alguns
ventiladores de pé.
Depois do entardecer, quando a
temperatura e a confusão nas ruas
do centro do Rio costumam diminuir, são ministrados no auditório do Real Gabinete, com capacidade para mais de cem pessoas,
cursos de literatura, história, antropologia, artes e lingüística.
O empréstimo de livros é uma
prerrogativa exclusiva dos sócios,
mas qualquer um está convidado
e será certamente bem recebido
pelos funcionários para ler nas
dependências do Gabinete, que,
segundo disse Joaquim Nabuco
na inauguração, foi construído
com pedras que são, na verdade,
as estrofes de "Os Lusíadas".
(CRISTINA TARDÁGUILA FERREIRA)
Real Gabinete Português de Leitura
- Funciona de segunda a sexta, das 9h às
18h; entrada gratuita.
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