São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PELAS ESTANTES

Maior biblioteca do mundo, instituição dos EUA compensa acesso restrito com programação cultural

Congresso americano soma 848 km de obras

FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON

Para ambientar seus luxuosos cenários, o diretor de cinema italiano Luchino Visconti costumava encher de roupas de seda armários e gavetas que nunca seriam abertos nas filmagens. "O público não verá, mas os atores sabem que as roupas estão lá dentro", justificava.
O turista que visita a Biblioteca do Congresso, a maior do mundo, não tem acesso ao acervo de 128 milhões de itens (29 milhões de livros), distribuído em 460 línguas e perfilado em 848 km de prateleiras. Mas o visitante não precisa percorrê-las para ter a sensação de que está na Biblioteca de Alexandria dos tempos modernos.
Localizado ao lado do Capitólio, o imponente prédio principal da biblioteca é uma das atrações mais visitadas da capital norte-americana: com 4.000 funcionários, recebe cerca de 1 milhão de turistas e pesquisadores por ano. A entrada é gratuita a todos.
Além dos visitantes, a biblioteca recebe diariamente 22 mil itens, dos quais 10 mil acabam no acervo permanente -ou seja, são quase sete aquisições por minuto.
Apenas sobre a América Latina, o Caribe e os países ibéricos, há aproximadamente 10 milhões de itens. Há tantas obras sobre o Brasil que uma busca pela internet (disponível no site www.loc.gov) só consegue listar 10 mil. O acervo inclui até relatos manuscritos sobre aquela viagem que um certo Pedro Álvares Cabral fez em 1500.
Mas o turista não se mistura com o pesquisador. Cada um tem entrada e procedimentos diferentes. O único contato é visual: os visitantes podem ver de cima a bela sala de leitura principal, quase sempre cheia e silenciosa.
Sem acesso ao acervo, a atração maior acaba sendo o imponente edifício Thomas Jefferson. Construído em 1897, tem o teto adornado por afrescos, e as paredes e os salões, com pinturas e esculturas. Vale a pena participar de uma visita guiada para conhecer detalhes da construção do prédio e das obras de arte.
A biblioteca ainda tem uma intensa programação cultural, quase sempre gratuita e aberta ao público. É recomendável visitar o site para ver os concertos, lançamentos de livros, simpósios e palestras do dia da visita. Em fevereiro, por exemplo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou no auditório principal, a convite do ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger.
Também há as pequenas exposições montadas a partir do acervo permanente. Com forte acento patriótico, parte dessas mostras é dedicada a documentos presidenciais de nomes como os democratas John Kennedy e Franklin Roosevelt. Atualmente, estão em exposição discursos de posse de alguns dos 23 presidentes norte-americanos cujas bibliotecas estão depositadas ali.
Outra preciosidade que está à disposição do público é uma das três cópias intactas em todo o mundo da Bíblia de Gutenberg, inventor dos tipos móveis, datada do século 15. O primeiro mapa a usar a palavra América também pode ser visto. Elaborado em 1507 pelo alemão Martin Waldseemüller, foi adquirido há três anos e custou US$ 10 milhões.
Já quanto à Declaração de Independência dos EUA, a chamada "certidão de nascimento da América", o turista só tem acesso ao fac-símile. Pode soar frustrante, mas a estratégia do italiano Visconti funciona.


Biblioteca do Congresso - Funciona de segunda a sábado, das 10h às 17h30; entrada gratuita.

Texto Anterior: Pelas estantes: Biblioteca do Rio busca atrair turistas
Próximo Texto: Dia das Mães: Mimos recheiam almoço deste domingo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.