São Paulo, Segunda-feira, 05 de Julho de 1999
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AUSTRÁLIA
Bebidas razoáveis custam a partir de A$ 12, mas o preço pode ser absurdo no caso de um Penfold's premiado
Vinhos locais ganham espaço no mundo

do enviado especial à Austrália

A moderna indústria vinícola australiana começou tímida, tomando conta das áreas mais frescas no sul do território, mas se tornou mundialmente festejada.
Hoje o país produz apenas 2% da produção global, mas coloca no mercado vinhos arrojados, produzidos por mais de 900 vinícolas.
E, se há uma década os brancos se destacavam -notadamente os produzidos com uvas do tipo riesling-, hoje são os tintos -especialmente os que utilizam as varietais merlot, pinot noir, cabernet e shiraz- que fazem mais sucesso.
Entre os vinhos brancos, o chardonnay logo se popularizou, mas hoje o mercado tem preferido os de sabor menos "emadeirado", sem tanto gosto de carvalho.
Os vinhos razoáveis custam a partir de A$ 12, mas o céu pode ser o limite no caso de um Penfold's premiado.

O vale do Yarra
Para visitar regiões produtoras, vale, por exemplo, fazer o passeio pelas cercanias de Melbourne, viajando uns 50 km na direção leste.
Nessa região do Estado de Victoria conhecida como vale do Yarra ou Lilydale, o cultivo dos vinhedos começou no século passado, mas foi interrompido por várias décadas, dando lugar à criação de gado leiteiro.
Restabelecida, a indústria vitivinícola do Yarra tem hoje cerca de 45 casas produtoras. Entre as mais visitadas estão a Yering Station, a Domaine Chandon e a De Bortoli.
A primeira, que pertence aos irmãos Rathbone e também produz vinhos com as marcas Yarrabank e Barak's Bridge, é uma vinícola-butique, com cave de arquitetura moderna projetada por Robert Conti, espaço para eventos e mostras.
O local é perfeito para degustar um bom frisante -espumante brut de bolhas pequenas, feito pelo Méthode Champanoise e batizado de Devaux Grande.
Essa propriedade -cujo endereço é 38, Melba Highway, tel. local (03) 9739-1107- ocupava 20 hectares em 1996 e hoje se espalha por 250 hectares, produzindo ainda tintos como um pinot noir vigoroso (embora um pouco turvo), além de bons vinhos cabernet e shiraz.
Já a Domaine Chandon, pertencente à tradicional produtora francesa de champanhe Moët & Chandon, que também lhe dá apoio técnico, limita-se a produzir vinhos frisantes comercializados na Austrália com a marca Green Point.
Localizada na Maroondah Higway (tel. local 03-9739-1110), essa vinícola dista poucos quilômetros da Yering Station e foi estabelecida em 1985 numa fazenda de leite que remonta a 1880. Entre as varietais mais utilizadas na Domaine Chandon estão as uvas pinot noir, chardonnay e pinot meunier.
Nas redondezas, a De Bortoli (tel. local 03-5965-2271), gerenciada por uma família no distrito de Riverina, ganhou fama pelo vinho seco Botrytis semillon. Mas se destaca das demais por ter um restaurante elegante, especializado em pratos do norte da Itália.
Para quem quer algo bem mais simples -e talvez mais autêntico-, há na região dessas vinícolas um restaurante rústico, o Yarra Valley Dairy Café. Localizada na rua McMeikans, em Yering (tel. local 03-9739-0023), essa estalagem centenária fabrica e serve diversas variedades de queijo, entre as quais se destacam o grabetto (de cabra, fresco ou maturado, este com aparência de camembert), o fetta pérsico (marinado em óleo de oliva e temperado com ervas), o mascarpone reale (que mescla mascarpone com gorgonzola azul) e o clotted cream (queijo amanteigado de origem inglesa).

Um brinde à história
Na Austrália, a região sul é a que mais produz vinhos, com destaque, entre outras, para os vales do Yarra, Hunter, Clare e Barossa, as regiões próximas ao rio Margaret, à Coonawarra e à Tasmânia.
Apesar de o vinho ter sido introduzido na Austrália em 1788, logo no início da colonização do país, a vitivinicultura só ganhou importância por volta de 1830.
O escocês James Busby, que chegou a Sydney em 1824, foi o mentor dessa indústria, trazendo da Europa videiras que foram plantadas no vale Hunter, no Estado de Nova Gales do Sul.
Por volta de 1859, além de Nova Gales do Sul, os Estados de Victoria, Austrália Ocidental, Austrália do Sul, Queensland e Tasmânia também já tinham seus vinhedos.
O boom do vinho australiano, entretanto, só ocorreu muitos anos depois, já na década de 70.
De 1987 para cá, a produção saltou de 8 milhões de litros para 160 milhões de litros/ano -e estima-se que atualmente o país tenha 10 mil vinhos diferentes à venda.
(SILVIO CIOFFI)


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