São Paulo, segunda, 6 de outubro de 1997.



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Pintor foi agiota e corretor

especial para a Folha

Giotto foi um dos artistas mais requisitados da época em que viveu.
Nascido na aldeia de Colle di Vespignano, na Toscana, fez de Florença seu ponto de referência e viajou por toda a península italiana.
Existem registros de passagens suas, sempre a trabalho, por Assis, Roma, Rimini, Verona, Ferrara, Ravena, Nápoles e Milão.
O "Ciclo de São Francisco", em Assis, é o marco inicial da arte de Giotto, mas sua obra pode ser vista em cidades como Pádua e Florença.
Aliás, Florença mostra uma faceta pouco conhecida do artista, o arquiteto.
Ao lado da catedral de Santa Maria del Fiore, o Duomo, eleva-se a torre de Giotto, um campanário gótico.
Pádua
A capela Scrovegni, em Pádua, é a capela Sistina de Giotto. Em 38 afrescos, o artista narrou cenas da vida da Virgem Maria e de Jesus Cristo.
Em cenários estilizados que se contrapõem a um céu sempre azul, criou personagens de carne e osso, pintados em claro-escuro, com volume e, mais que tudo, sentimentos.
O afresco que mostra o encontro de são Joaquim e santa Ana, pais da Virgem Maria, é um exemplo de pintura que traduz emoções humanas.
Uma comoção que se repete em painéis como os que retratam o nascimento de Cristo, a fuga para o Egito, o beijo de Judas ou a lamentação sobre o Cristo morto.
Sobre a porta da capela, Giotto pintou o "Juízo Final", com um Cristo plácido, ao contrário do juiz implacável que Michelangelo criou na capela Sistina, no Vaticano.
Giotto trabalhou nos afrescos entre 1304 e 1306. É a súmula de sua arte, com as pinturas mais inovadoras de seu tempo, ainda hoje poderosas.
Quase dez anos depois, em 1317, concebeu seis cenas da vida de são Francisco para a capela Bardi, na igreja de Santa Croce, em Florença.
Trabalhou com auxiliares, aprimorou suas noções de perspectiva e obteve resultados maiores, como no afresco que representa a morte de são Francisco.
Giotto manteve um próspero ateliê em Florença, do qual saíram painéis sobre madeira como "Virgem com o Menino e Santos", hoje na Galeria degli Uffizi, na cidade.
Já não prevalece o modelo bizantino da "Virgem em Majestade", mas a representação de uma Virgem que é, sobretudo, mulher.
Fama e dinheiro
Artista requisitado, cercado de colaboradores, Giotto acabou enriquecendo.
Na vida prática, manteve-se distante de qualquer sombra da espiritualidade que manifestava na arte.
Giotto emprestava dinheiro a juros, comprava casas e terrenos, alugava e revendia. E fazia madonas que hoje estão em museus de Paris e Washington.
Em 1314, Giotto acionou seis devedores por falta de pagamento, ameaçando-os de falência, execução de hipoteca e prisão por dívidas.
Provavelmente nem se lembrava de que, na capela Scrovegni, quase em monocromia, pintara figuras que representavam os vícios e as virtudes.
"Virgem com o Menino Jesus, do Mestre de San Martino alla Palma", têmpera sobre madeira do acervo do Museu de Arte de São Paulo, é uma amostra da poética de Giotto.
Já se está a anos-luz da bizantina "Virgem em Majestade com o Menino e Dois Anjos", do Mestre do Bigallo, também do Masp.
Isso graças a Giotto.



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