São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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LETÔNIA, LITUÂNIA, ESTÔNIA

Em pleno renascimento, Riga vive efervescência

Mais cosmopolita entre as capitais da região, cidade sempre foi cobiçada por ligar a Europa à Rússia

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
NA LETÔNIA

Descobrir Riga é compreender os séculos em que esteve nas mãos da Alemanha, Polônia, Suécia e Rússia. É possível notar a influência cultural que cada um desses povos deixou na arquitetura e no povo letão.
Riga é uma cidade em pleno renascimento. É a mais cosmopolita das três capitais bálticas. Conseguiu restaurar com esplendor seus prédios art nouveau, considerados patrimônio da humanidade pela Unesco.
Alegre e boêmia, a capital da Letônia oferece um misto de história e efervescência contemporânea. A melancolia dos anos de ocupação soviética foi substituída por um clima de otimismo: a economia letã nunca cresceu em ritmo tão acelerado. Graças à entrada do país na União Européia, em 2004, Riga recuperou não só a estabilidade, como o apelido de "Pequena Paris", dado nos anos 30, por causa da intensa expansão artística e cultural.

Gama de estilos
O coração de Riga é a cidade velha, fundada no século 12. Andar pelo labirinto de ruelas estreitas é uma viagem no tempo, perfumada pelo aroma de chocolate quente no ar. Ao som dos sinos das igrejas, o centro histórico, batizado de Vecriga pelos letões, seduz pelas fachadas coloridas e pela fartura de estilos arquitetônicos: do romano ao gótico, passando pelo barroco e o neoclássico, tudo se encaixa com perfeição. Nada menos do que 80 casas foram tombadas pela Unesco.
A Doma Laukums, a praça da catedral, é um bom ponto de partida. Os destaques dessa catedral luterana ficam por conta dos vitrais, que mostram cenas da vida da Riga medieval, e do orgão com 7 mil tubos, considerado um dos melhores do mundo. Não perca a oportunidade de assistir a um concerto.

Paradas
Caminhando em direção ao rio Daugava, outra praça imperdível: a Ratslaukums, onde fica a mais bela construção do centro histórico: a Casa das Confrarias dos Cabeças Negras, símbolo do passado hanseático de Riga, que foi totalmente renovada para a celebração dos 800 anos da cidade, em 2001.
Ao redor da praça, é possível encontrar cafés charmosos, casas de chá e antiquários. Faça uma pausa no Emihls Gustavs Chocolat, sob as arcadas do Berg Bazaar, antes de continuar o passeio para visitar a gótica igreja de São Pedro.
A melhor vista da cidade é do alto dessa igreja. Não é preciso subir centenas de degraus, o elevador da torre leva o turista até a plataforma a 70 m de altura. De lá, é possível ver um panorama deslumbrante de Riga, com o rio Daugava e a Akmens Tilts, a ponte de pedra, ao fundo. Próximo dali, siga para o Museu de Arte Aplicadas e Decorativas, que guarda uma grande coleção de objetos populares da Letônia.
Aproveite também para ver as famosas casas medievais conhecidas como "os três irmãos", ao lado da igreja de São Jacob. Elas são as mais antigas do centro histórico. A nº 19 abriga o pequeno, mas charmoso Museu de Arquitetura de Riga. Bem perto está o imponente castelo de Riga. Atualmente, é a residência do presidente da República da Letônia, além de acolher dois museus.
Antes de deixar o coração medieval de Riga, confira uma estranha tradição local: quando se casam, os habitantes da cidade colocam cadeados com seus nomes gravados nas pontes do canal Pilsetas, para que a união dure muitos anos.
Como a maioria das cidades medievais, Riga construiu um sistema de fortificações e torres. A torre de Pólvora local, que servia como depósito de pólvora no século 12, era apenas uma das 28 torres da muralha que protegia a cidade. Hoje, ela abriga o Museu da Guerra. Nas imediações a porta Sueca, construída durante a invasão dos vizinhos nórdicos, foi a única a ficar de pé.
Outros pontos interessantes são a Maza Gilde e Liela Gilde, onde os comerciantes faziam suas transações durante a dominação alemã, do século 14. Atualmente, o prédio maior é sede da Orquestra Filarmônica de Riga. Uma atração bastante procurada é a Casa dos Gatos, erguida por um rico negociante proibido de participar das reuniões comerciais da época. Como revanche, ele colocou, nos telhados de sua casa, duas estátuas de gatos de costas para os seus inimigos. Os gatos só mudaram de quando ele foi aceito pela poderosa associação.

Cobiçada
Acesso estratégico entre a Europa e a Rússia, Riga foi sempre cobiçada por seu porto. Na Idade Média, era uma das principais cidades da Liga Hanseática, aliança de cidades mercantis que monopolizou o comércio no norte da Europa e Báltico, entre os séculos 12 e 17.
O acesso ao mar Báltico, a riqueza de Riga e a prosperidade da Letônia atiçavam o interesse de seus vizinhos invasores. Em 1710, a Rússia de Pedro, o Grande, se apoderou da cidade. A bela catedral ortodoxa em Riga é um símbolo de poder do império russo na região.
Foram dois séculos de domínio, seguidos por um período de independência de apenas 20 anos. Nessa época, o Monumento da Liberdade, que fica bem no centro da cidade, foi construído. Esse memorial, uma homenagem aos soldados mortos na Guerra da Independência, é o símbolo maior do povo letão. Em 1939, não somente Riga, mas os três países bálticos, caíram nas mãos do regime soviético por 50 anos.
Hoje, novamente independente, a cidade brilha. A vida cultural é rica e se destaca nas coleções do Museu de Belas Artes, nos concertos e balés da Ópera Nacional, onde o bailarino Mikhail Baryshnikov deu seus primeiros passos, e nas peças do Teatro Nacional, cuja programação se iguala à de outras capitais européias.
(LETÍCIA FONSECA-SOURANDER)

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