São Paulo, Segunda-feira, 07 de Junho de 1999
Próximo Texto | Índice

CANADÁ
Virar um quase ás do snowboard leva cerca de quatro dias "segurando duas latas de cerveja" para não cair
Esportes de neve tiram estabilidade do país

Cassiano Elek Machado/Folha Imagem
Esportes radicais dão vida ao país da América do Norte que mais esbanja natureza


CASSIANO ELEK MACHADO
enviado especial ao Canadá

Pode ter sido apenas sorte, mas tanto na ida quanto na volta dessa viagem não houve turbulências nos aviões. Bastante significativo. A direção final é o Canadá, país com notável tradição por ser uma terra sem muitas turbulências políticas, econômicas ou culturais.
Mas se a idéia é "turbulenciar", você pode estar indo para um dos melhores destinos do mundo.
As coisas ficam realmente chacoalhantes quando você se nota trajando um par de botas duras conectadas a uma prancha de snowboard no topo de alguma das montanhas Rochosas do Canadá.
Ladeira abaixo, não existe muito da estabilidade das aeronaves canadenses. O chão parece estar abaixo dos seus pés e, antes que você possa pensar nisso, ele já está dentro de sua orelha. Você caiu. Isso, claro, não por muito tempo.
O snowboard pode parecer um abominável homem das neves dos esportes de inverno, mas é um animal bastante domesticável.
Do estágio zero, aquele em que você tem dificuldades até para calçar a bota com a qual se pratica esse "surfe nas neves", criado há 20 anos, até a descida fluente não são necessários mais do que quatro dias. O mesmo testemunho sai da boca de instrutores, praticantes inveterados e até de repórteres fora de forma, viajando por cadernos de turismo.
As lições iniciais são eficientes. "Olhe para mim. Sou a mulher mais bonita do mundo", disse o primeiro instrutor, que não poderia se destacar fisicamente nem na categoria masculina. "A prancha é a mulher mais feia do mundo." Estava tudo entendido. Olhe sempre para frente (onde estava o professor). Nunca olhe para o chão. Olhou, caiu. E não há nada de muito bonito em rolar na neve.
Segunda lição: "Pense que você está segurando duas latas cheias de cerveja". Por que cerveja não me perguntem. O objetivo do conselho é fazer com que seus braços não fiquem oscilando ao sabor das manobras. É por isso que o instrutor fica relembrando: "Não vá derrubar a cerveja!" (e que sede isso dá no meio de tanto exercício).
A terceira dica envolve duas partes do corpo pouco populares. Os dedões e os calcanhares. É da equação da força colocada nos primeiros ou nos segundos que se faz boa parte do controle da velocidade que você consegue na neve.
Daí para a frente, são necessárias muitas horas de vôo (e também de aterrissagens de emergência). É com muita turbulência que se aprende a pilotar um snowboard.


Cassiano Elek Machado viajou a convite da Canadian Airlines.


Próximo Texto: É difícil sair do snowmobile
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.