São Paulo, segunda, 7 de julho de 1997.



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Criação de cidade custou sangue indígena

free-lance para a Folha

Para chegar a San Cristóbal de las Casas é necessário desembarcar na capital do Estado de Chiapas, Tuxtla Gutiérrez.
No aeroporto, é possível contratar os serviços de um táxi para percorrer os 88 km até San Cristóbal de las Casas. Custa US$ 30. A viagem e a vista são paradisíacas.
Depois de 365 curvas pela serra Madre del Sur, chega-se a San Cristóbal de las Casas, a 2.100 metros de altitude.
A cidade é uma autêntica jóia da arquitetura colonial espanhola. Igrejas, mansões e ruas remetem aos séculos 16 e 17.
A cidade foi fundada em 1528 por Diego Mazariegos, conquistador espanhol que espalhou muito sangue indígena pela região.
O nome da cidade homenageia o protetor dos índios frei Bartolomeu de las Casas (1474-1566), que defendeu os indígenas e escreveu dezenas de livros nos quais relatou os massacres espanhóis em suas conquistas na América Central e no Caribe.
San Cristóbal é ponto de partida para qualquer excursão pelas ruínas maias (Palenque, Bonanpak e Yaxchílan). A maioria dos turistas que visitam a cidade são europeus. Americanos, e mesmo mexicanos, são uma parcela ínfima.
Circular pelas ruas da cidade e visitar as igrejas de Santo Domingo, San Nicolau, La Carida e a catedral fazem parte de uma peregrinação para captar e observar o refinado barroquismo que impregna essas igrejas construídas entre os séculos 16 e 17.
A amizade com os locais acontece naturalmente. Há fortes indícios de identidade cultural com o Brasil e toda a América Latina.
Depois de "platicar" (conversar) com os nativos e participar do ritual da tequila, espírito e corpo do visitante se integram por completo no ambiente cristobalense.
Artesanato
Outros locais imprescindíveis de visita são o mercado indígena, perto da igreja de Santo Domingo, considerado o mais colorido mercado do México.
Grupos indígenas de Chiapas apresentam seus respectivos artesanatos. Tojolabales, zoques, choles, tzeltales e tzoltziles expõem riquíssimos tapetes, casacos de lã, chapéus, peças de cerâmica, ervas medicinais, perus, flores, bolsas e os inconfundíveis bonecos da figura do subcomandante Marcos, chefe dos zapatistas.
Existem também alguns museus na cidade que valem a visita, como o Na-Bolom Centro de Estudos Científicos (r. Vicente Guerrero, 33). O local é um conjunto de museu (com muitas peças arqueológicas), livraria e arquivo fotográfico.
Possui uma farta documentação sobre as comunidades indígenas e a história dos maias.
O Chico Mendes local
A estada na cidade de San Cristóbal tem o seu ápice com uma visita ao museu Sergio Castro (r. Guadalupe Victoria, 47).
O proprietário, Sergio Castro Martinez, é uma espécie de Chico Mendes de Chiapas.
É considerado homem santo na região, um ardente colaborador das comunidades indígenas.
Exerce atividades de médico e engenheiro agrônomo. Dedica-se aos povos indígenas e promove projetos de centros de saúde, hospitais e outras benfeitorias.
Por incrível que pareça, toda a fonte de renda para gerar esses benefícios vem do seu bolso e de grupos humanitários franceses.
Os objetos do museu Sergio Castro são trajes típicos e utensílios domésticos de todas as comunidades indígenas que habitam o Estado de Chiapas.
Com um didatismo impressionante, Castro apresenta pessoalmente as peças. (AV)



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