São Paulo, segunda, 7 de dezembro de 1998

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SEM EXCESSO DE PESO
Falta de cafeína pode dar dor de cabeça
Garçons sabem tudo sobre os hóspedes

do enviado especial a Gramado

Minha primeira noite de sono no Kur Gramado terminou de madrugada com uma estranha dor de cabeça. Bem que no dia anterior, durante a consulta médica de recepção, fui alertado que isso poderia acontecer pela retirada total da cafeína. As pessoas a consomem por meio de cafezinhos e refrigerantes. E lá não havia nada disso.
"De que adianta não estar com a preocupação do dia-a-dia para ficar com dor de cabeça?", pensei. Mas descobri que lá as pessoas substituem as preocupações por novas ocupações. Quem pensa que vai deixar números e contas de lado, engana-se: as pessoas começam a contabilizar quilos, percentuais de gordura corporal, quantidade de calorias por tipo de alimento. Ninguém é obrigado a aprender isso tudo, mas as pessoas acabam aprendendo. E numa boa.
Após uma ida à enfermaria para verificar a pressão arterial ainda em jejum -essa é uma atividade diária obrigatória-, fui submetido à verificação da quantidade corporal de água, gordura e massa magra (ossos, músculos e vísceras). É nessa hora que os hóspedes ficam sabendo quanto devem emagrecer. Deitado em uma cama, com um eletrodo conectado a uma mão e a uma perna, mal tive tempo de perguntar o que estava acontecendo quando veio a resposta de que o teste já estava feito: 34,7% de gordura. (O normal para homens adultos é 18%.)
Finalmente, o café da manhã. Duas fatias de pão de centeio, geléia, uma fatiazinha de queijo branco e um copinho de suco de laranja. E a explicação do garçom: era a refeição matinal para uma dieta de 1.200 calorias, estabelecida no dia anterior durante a entrevista com a nutricionista. "Será que vou aguentar?", pensei, lembrando do meu metabolismo basal (leia texto na pág. 8-19), que era de 2.700 calorias diárias.
Recém-chegado à mesa, um dos hóspedes comenta: "Que mamata, ele está com 1.200 calorias!". "Como é que você sabe?", perguntei. E todos naquela mesa responderam com naturalidade: "Basta olhar para seu café da manhã". Ali, as pessoas realmente aprendem, pouco a pouco, a avaliar aproximadamente a quantidade dos alimentos.
A maior parte dos hóspedes fica com uma dieta de 800 calorias diárias. Os mais obesos, cujo organismo geralmente necessita de mais energia, ficam com até 1.500 calorias. Os que não estão lá para emagrecer -fazendo terapia antiestresse ou até contra a anorexia (falta de apetite) nervosa- ficam na faixa das 2.000 calorias diárias ou são até liberados para mais que isso. E no fim todos se acostumam a comer vendo outras pessoas de diferentes níveis calóricos de dieta.
"Não dá para enganar esses garçons e faturar uns bocados a mais?", perguntei. "Esqueça!", disse um dos hóspedes. "Todos os funcionários já estão sabendo de cor o seu nome, o número de seu quarto, o tipo de chá que você tem de tomar e quais os cuidados específicos com sua saúde."
Depois do café, foi a vez da "unterwassermassage", uma sessão de 20 minutos de hidromassagem em uma banheira especial, com vários jatos laterais e sincronizados e água ligeiramente quente, em uma solução de ervas de efeito relaxante. Não há como não relaxar. A maior parte dos hóspedes faz uma sessão dessas diariamente.
Em seguida, mais uma consulta, desta vez com a fisioterapeuta, que rapidamente detectou a dor que vinha há vários dias me atrapalhando a caminhar e a traduziu em um diagnóstico: "É só uma lombalgia. Tu vais, no começo, caminhar só na piscina para proteger a coluna".
Mas antes de ir para a piscina, foi a vez do lanche da manhã. Um suquinho de frutas e meio kiwi. E lá se fora minha dor de cabeça! (MT)



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