São Paulo, segunda, 7 de dezembro de 1998

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SEM EXCESSO DE PESO
Spa revela nova maneira de encontrar o bem-estar, preservando hábitos saudáveis após o tratamento
Repórter compra chocolate para cheirar

do enviado especial a Gramado

Após um dia de massagens, piscina, sauna, hidroginástica e pequenas refeições intercaladas de três em três horas, havia chegado a hora do jantar.
Havia um lugar vago em uma das mesas. Todos os outros quatro ocupantes eram homens. E estavam todos olhando, sem disfarçar, para uma garota muito bonita, que estava em outra mesa. Antes que eu tivesse tempo de dizer que eles estavam explícitos demais, um deles foi logo falando: "Olha só o sorvete que ela está tomando!".
A garota não era uma hóspede. Estava acompanhando sua mãe e, por isso, estava com a alimentação liberada (dentro dos moldes do Kur Gramado, é claro: alimentos com nada de aditivos ou conservantes ou com o mínimo possível deles). Não era a sua beleza, mas sim o seu sorvete o que chamava a atenção do "clube do bolinha" daquela mesa.
Esse primeiro dia completo no Kur foi uma amostra do que seriam e foram os outros 14 que se seguiram, cada um com uma agenda repleta de atividades voltadas para mim mesmo. Todos os momentos são aproveitados para atividades físicas (hidroginástica, caminhadas, alongamento muscular, musculação, natação, etc.), fisioterapias ("unterwassermassage", sauna, massagens, reeducação postural global, pedilúvios e aplicações de calor com fango, uma placa de lama negra endurecida e aquecida), acompanhamento psicológico e palestras de orientação com profissionais de educação física, medicina, nutrição, psicologia e fisioterapia.
As pessoas começam dia após dia a se sentir melhor, com mais disposição para os exercícios. Aquilo que todos sabem na teoria -que a alimentação correta e a atividade física adequada melhoram a condição física- passa a ser vivenciado. Vários hóspedes passam a fumar menos. Alguns, em menor número, deixam de fumar. Em outras palavras, as pessoas são levadas a se sentirem bem e acabam se esforçando com mais facilidade para que tudo dê certo.
Os hóspedes são estimulados a sair para passeios coletivos. As saídas individuais são liberadas durante o período de hospedagem. As pessoas podem mudar sua programação e sair. Mas é muito raro elas fugirem da dieta.
Em minha primeira saída, logo no terceiro dia, para ir a uma banca de jornais, resisti bravamente ao cheiro de churrasco que saía de um restaurante. Comprei chocolates para trazer para São Paulo e os deixei no quarto do hotel. E não comi nenhum pedaço. (Mas desembrulhei um para cheirá-lo.)
Minha única fuga da dieta aconteceu no penúltimo dia e foi programada com uma das nutricionistas: eu e um outro hóspede saímos para degustar e comprar vinhos. Nenhum de nós tomou mais que o equivalente a um cálice cheio.
Os progressos de cada um dos hóspedes pareciam contaminar os demais. Em vez de ressaltar suas performances com a perda de peso, as pessoas enfatizavam mais seus resultados com outros aspectos da saúde: melhora do sono, maior rendimento nos exercícios físicos, diminuição da vontade de fumar.
Já no quinto dia minha dor nas costas havia desaparecido. E comecei a caminhar diariamente pelo menos 4 km sem interrupção. Dia após dia sentia cada vez mais necessidade de caminhar. O bem-estar parecia cada vez mais indissociável da atividade física e do tipo de alimentação.
Ao retornar a São Paulo, não houve como deixar de dar sequência ao processo de cuidar melhor de mim mesmo. O dia-a-dia muitas vezes tem sabotado isso. Mas agora parece que é diferente, tanto para mim como para outros que lá estiveram. Ninguém mantém o rigor dos dias de hospedagem.
Alguns -certamente uma minoria-, com mais disciplina do que outros. Mas quase todos mantêm a perspectiva de mudar de vida. O ceticismo, que nada mais era que a perda da esperança, acaba dando lugar para a decisão de viver melhor. (MAURÍCIO TUFFANI)



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