São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

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SEM GLOBALIZAÇÃO
De dezembro a março, chuvas trazem aves migratórias dos EUA, do Canadá e da América Central
Aproveite as cheias para ir ao Pantanal

CÁSSIO AOQUI
ENVIADO ESPECIAL A MIRANDA

Imagine não acordar de manhã cedo com o barulho do despertador e das buzinas, e, sim, com o som dos pássaros e das cigarras. No lugar do congestionamento e da poluição, encontrar o som do berrante e o "engarrafamento" de bois e, em vez de pessoas correndo por todos os lados, ver somente animais.
Ao desembarcar no aeroporto de Campo Grande, porta de entrada para a região sul do Pantanal matogrossense, é possível sentir que a correria e o estresse realmente ficaram para trás. Uma propaganda do McDonald's é o único indício de metrópole que pode assustar os mais desejosos de isolamento. Mas os resquícios da globalização param por aí.
Da capital à região de Miranda, a 236 km de Campo Grande, a paisagem se transforma ao atravessar os paredões da serra da Bodoquena em direção aos campos alagados do Pantanal.
Para quem quer conhecer a fauna e a flora típicas da região pantaneira, esta é a melhor época do ano, já que está começando o período das cheias.
Entre os meses de dezembro e março, a chegada das chuvas traz consigo aves migratórias dos Estados Unidos, do Canadá e da América Central, como maçaricos, andorinhas e bem-te-vis, que, ao lado dos pássaros típicos da região, como tuiuiús, araras-azuis, colhereiros (que receberam esse nome por possuir bico em forma de colher), tucanos e cabeças-secas, podem muitas vezes ser vistos em grandes revoadas, fazendo do pôr-do-sol um espetáculo.
Além da imensa variedade de aves, o Pantanal abriga ainda diversas espécies de mamíferos, como veados-mateiros, tamanduás, antas, porcos selvagens e onças (que, com um pouco de sorte, podem ser vistas a poucos metros de distância), e peixes, entre os quais se destacam piranhas, pintados, pacus e dourados.
Mas são os jacarés, facilmente encontrados à margem de rios e baías, a grande atração da região. Se, no início, a expectativa de avistar um jacaré é muito grande, é bom saber que, em poucos dias, os turistas ficarão enjoados de tanto cruzar com esses répteis.

Novo patrimônio
Graças à diversidade da fauna e da flora, em novembro de 2000, o Pantanal recebeu o título de Reserva da Biosfera e depois foi reconhecida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como Patrimônio Natural da Humanidade, passando a ser a terceira região brasileira a ter essa denominação (as outras duas são a Costa do Descobrimento, entre a Bahia e o Espírito Santo, e as reservas florestais da mata atlântica, entre São Paulo e o Paraná).
Essa transformação vai permitir, segundo a Unesco, que o Pantanal receba mais recursos para pesquisas, estudos, preservação e controle de turismo -o governo tem previsão de investimentos em torno de US$ 400 milhões até 2008- e já existem vários projetos dirigidos especificamente à preservação e ao desenvolvimento sustentável da região.
Com essa medida, espera-se também que diminuam as queimadas descontroladas e a caça indiscriminada de animais em extinção, duas das maiores ameaças para o ecossistema regional.


Cássio Aoqui viajou a convite do Refúgio Ecológico Caiman e da TAM


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