|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MAMA ÁFRICA
Mandela lutou pelo fim do apartheid, ajudando a fazer da África do Sul um dos destinos mais procurados
Príncipe fixou país no mapa do turismo
SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo
Nelson Mandela, 80, foi o primeiro. Desde a adoção, em 1948, do
apartheid -a política segregacionista adotada para garantir a manutenção do poder pela minoria
branca- a África do Sul nunca havia participado de eleições livres.
Líder do Congresso Nacional
Africano (CNA), a maior organização negra do país, Mandela era um
advogado da etnia xhosa (pronuncia-se "côssa") quando foi detido
- e amargou 27 anos de prisão.
Até sua libertação, pressões internacionais censuravam viagens
turísticas, mas, findo o apartheid, a
África do Sul logo entrou no circuito dos roteiros mais cobiçados.
Mesmo um ano antes das eleições, em 1993, quando Mandela e o
então presidente Frederik De
Klerk dividiram o Nobel da Paz, o
mundo já antevia que esse país, caracterizado por enorme diversidade geográfica, histórica e biológica,
se tornaria uma meca turística.
Passados os tempos duros do
apartheid, a África do Sul amarga
problemas sociais -ainda que seja responsável pela metade da produção industrial do continente
africano e a primeira produtora
mundial de ouro.
Localizado no sul do continente e
banhado pelos oceanos Atlântico e
Índico, o território sul-africano
tem 1.223.201 km2 e 43,3 milhões
de habitantes, dos quais 70% são
negros (com predomínio para as
etnias zulu, 20,5%, e xhosa, 18,%).
Seus habitantes de origem européia somam 12% da população
(muitos deles são descendentes de
holandeses, ingleses, alemães e
franceses). Também são grupos
populacionais importantes os euroafricanos (13%) e os indianos
(3%), esses últimos mais facilmente encontrados nas cidades banhadas pelo Índico, como Durban.
Intolerância histórica
Embora o apartheid tenha sido
oficializado em 1948, foi a partir de
1911 que a minoria branca promulgou as primeiras leis garantindo
seu domínio sobre a população negra, que foi impedida de possuir
terras e votar, ficando confinada a
determinadas áreas residenciais.
O CNA, organização fundada em
1912, só viria pregar desobediência
civil ao apartheid nos anos 50.
Nelson Rolihlahia Mandela, que
também era um príncipe em sua
etnia, ajudou, na juventude, a fundar a ala militar dessa organização.
Depois de 27 anos encarcerado,
tornou-se símbolo das lutas de libertação. E foi somente com a eleição de Frederik de Klerk, empossado em 1989, que o país começou
a mudar. De Klerk revogou as leis
raciais e libertou Mandela, eleito
presidente na legislatura seguinte.
Mandela e o fim do apartheid
Etimologicamente, apartheid
quer dizer "desenvolvimento em
separado". Mas, se nos anos da colonização o termo designava o modo de produção em que os protestantes trabalhavam sem escravizar
as populações negras, no momento seguinte o país vivia em regime
de sórdida discriminação.
Antes disso a história sul-africana se confundia com a dos navegantes europeus que tentavam
contornar o cabo das Tormentas e
abrir caminho para as Índias, estabelecendo uma rota de comércio
segura para obter especiarias.
O português Bartolomeu Dias (?-1500), que em 1487 contornou o
cabo -depois chamado de cabo
da Boa Esperança- foi o pioneiro.
Descobriu a passagem do Atlântico para o Índico, tomando ciência
da ocupação da região pelos índios
bosquímanos.
Para valer, a colonização só foi
iniciada pelo holandês Jan van Riebeeck (1619-1677), destacado funcionário da Companhia das Índias
Orientais, que fundou a Cidade do
Cabo, em 1652.
Com a interiorização do desenvolvimento, os zulus resistiram
aos ocupantes bôeres, de origem
holandesa, que, liderados por Shaka (1787-1828), organizaram seu
exército. Dingane sucedeu Shaka e
derrotou os bôeres, em 1838. Nessa
ocasião, a máquina de guerra dos
zulus tinha 50 mil guerreiros.
Mas foi o pioneiro político africânder Paul Kruger (1825-1904)
que forjou a nacionalidade sul-africana. Kruger, que morreu no
exílio na Suíça, lutou contra a anexação da região do Transvaal pelos
ingleses, que dominavam a Província do Cabo.
A guerra entre os europeus, que
opôs 500 mil soldados britânicos e
55 mil combatentes da República
Sul-Africana e do Estado Livre de
Orange, foi cruenta: entre outras
riquezas, estavam em disputa as
minas de ouro do Transvaal, presidido por Kruger entre 1883 e 1890.
Do outro lado da cena política
branca, Cecil John Rhodes (1853-1902) foi o político e empresário
britânico mais destacado.
Com saúde frágil, foi mandado
ainda púbere para a Cidade do Cabo, onde fez fortuna com a descoberta de diamantes em Kimberley.
Disposto a forjar no sul da África
um país de identidade britânica,
Rhodes viajou para a Inglaterra e
estudou em Oxford. De volta à
Província do Cabo, tornou-se primeiro-ministro, fundou a empresa
de diamantes De Beers e marchou
para o norte, onde emprestou seu
nome à Rodésia (hoje Zimbábue).
O general Louis Botha (1862-1919), que chefiou os bôeres contra
os britânicos, também é figura de
destaque e fundou, em 1888, a República Sul-Africana. Já o artífice
do Partido Nacional, James Hertzog (1866-1942), entrou para a história pela porta dos fundos, editando as leis segregacionistas, que
custaram a ser desmanteladas e
forjaram outra biografia: a de Desmond Tutu, 68, que pregou a luta
não-violenta contra o apartheid,
ganhando o Nobel da Paz em 1984.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|