São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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QUALQUER VIAGEM
"Deixe seu porco interior vir à tona", diz editor da "Maxim"

DAVID DREW ZINGG
em Sampa

"Ler histórias de aventuras nas revistas masculinas é como ler sobre sexo ardente e casual na "Nova/Cosmopolitan' -algo bom de se imaginar, mas raramente praticado." Slate

Escute aqui, Joãozinho, você tem acompanhado as garotas peladas nas capas das revistas masculinas vendidas nas bancas?
Olhe só para elas! Nos bons e velhos tempos, as capas das revistas masculinas pseudo-intelectuais como a "Esquire" e a "Gentleman's Quarterly" falavam de heróis masculinos e até mesmo -uau!- de idéias!
Mas isso é passado.
Hoje em dia, as revistas para homens tratam do verdadeiro âmago erótico da vida. As revistas para "guys" tratam principalmente de mulheres.
A palavra "guys", como você já deve saber, equivale mais ou menos a "rapazes", mas também exala um tipo de masculinidade encharcada de suor, uma coisa de sunga, esportes, músculos.
Segundo a teoria dominante, os "guys" se interessam basicamente por seios, cerveja e muito sexo.
Quando tio Dave era repórter -muito tempo atrás, na era glacial-, mexeu todos os pauzinhos para conseguir que sua revista masculina favorita, a "Esquire", publicasse uma de suas matérias intelectuais, tipo transformar-o-mundo, eu-sou-filósofo.
Depois veio a "Playboy", repleta de garotas da rua ao lado com os peitos de fora. Hugh Hefner nos deu a entender que suas coelhinhas gostavam tanto de sexo que elas nunca tiravam aquele sorriso simpático de seus rostinhos angelicais, cuidadosamente maquiados, nem mesmo enquanto o faziam.
Mas a verdade é que compramos a "Playboy" para ler artigos informativos da autoria de David Drew Zingg e outros grandes jornalistas sobre lugares e pessoas "cool" espalhados por este mundo bacana, certo?
Certo.
Era essa a teoria amplamente aceita -até que a "Gentleman's Quarterly" lançou a idéia de que nosso "guy" podia se preocupar com sua aparência, sua roupa e seu jeito de se perfumar, sem correr o risco de ser tachado de veado por algum grosseirão proletário.
(Certa vez tio Dave vendeu à "GQ" uma foto que fizera do presidente Kennedy. A revista colocou a foto em sua capa sem informar o fotógrafo do fato. Reação do presidente dos Estados Unidos: "Aquele filho da p... do Zingg me pôs na capa de alguma revista idiota de alfaiataria. O que ele está querendo fazer, f.... comigo?".)
Há pouco tempo os "guys" passaram a ser alvo de toda uma leva de novas e sofisticadas publicações culturais pop-transadas. Hoje em dia, se o "guy" quiser estar "in", precisa ler coisas chamadas "Details" ou "P.O.V.".

Levante a tampa da privada
E a situação era essa -até a chegada das revistas masculinas britânicas francas, bem-humoradas e cheias de sacanagem.
Três revistas passaram a dominar as guerras das revistas masculinas da Gringolândia. Elas se chamam "Loaded", "FHM" (For Him Only) e "Maxim". Tratam principalmente de sexo, sexo e mais sexo. O espaço que sobra é preenchido com aventura e humor explícito, sem meias-palavras.
A "Maxim", produzida em Nova York, é uma inesperada história de sucesso.
Diferentemente da "GQ" ou da "Details", que encorajam a sofisticação, a "Maxim" é uma coisa direta e até grosseira, uma colagem produzida com habilidade. Ela incentiva seus leitores a viver num estado perpétuo de espírito brincalhão adolescente, aquele que corre atrás de mulheres e bate no próprio peito para afirmar quem é.
"Chegou a hora de todos os "guys' saírem do vestiário", exorta o manifesto malandro da "Maxim", "Guy Pride" (Orgulho Guy). "Não se envergonhe daquela sunga fedida, daquelas meias fétidas. Deixe a tampa da privada aberta mesmo -e com orgulho! Chegou a hora de você não apenas viver abertamente como "guy", mas adotar todo o estilo "guy" de vida -e de braços abertos."
Estrelas seminuas embelezam todas as suas capas; dentro da revista, anúncios de cerveja e produtos eletrônicos se alinham ao lado de artigos com dicas de como se vingar de seu chefe.
Para o editor da "Maxim", um "guy" chamado Mark Golin, "todo homem tem um "guy' em seu interior.
Quer você seja frentista no Texas ou trabalhe em São Paulo, não pode ignorar seu guy interior".
A revista teve um índice impressionante de vendas básicas garantidas de 950 mil exemplares para o ano de 1999.
A "Maxim" é a resposta dos "guys' à garota "Nova/Cosmopolitan".
Não é coincidência que Golin, o editor, tenha trabalhado na "Cosmopolitan" na época em que o editor hipersexualizou a revista feminina.
Os "guys" dos anos 90 cresceram ouvindo que deveriam demonstrar sensibilidade especial para com as mulheres, ter bons modos e ser P.C. (que não tem nada a ver com PC Farias -significa politicamente correto).
"Os "guys' sabem que têm aquele porco interior escarafunchando em algum lugar dentro deles e o que mais querem é soltar o bicho", diz o editor da "Maxim".
"Dizem que a revista representa um chamado aos homens para saírem por aí agindo como porcos. Na realidade, o que ela faz é incentivá-los a serem um pouco mais francos."
Pode ser que os leitores possuam um porco só seu escondido dentro deles, pode ser que não -mas será que alguém já tirou um raio X do editor da "Maxim"?
No momento em que eu concluía esta coluna, ouvi a notícia de que Mark Golin, o editor bambambã da "Maxim", acaba de ser contratado (por um salário enorme) pela revista "Details", que anda em baixa, para injetar uma dose de testosterona nela.
"A "Details' é uma revista masculina que cobre assuntos de interesse geral para os homens", disse Golin. "E -surpresa!- um dos assuntos de interesse mais geral para os homens é o das mulheres."



Tradução de Clara Allain.



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