São Paulo, Segunda-feira, 08 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

À MODA ANTIGA
Músicos cantam sob as janelas da cidade
Serestas dão ritmo a Conservatória

CRISTINA BARROS
free-lance para a Folha

Cantar é o principal programa de Conservatória, conhecida como a capital nacional da seresta.
Na cidade, localizada a 121 km do Rio de Janeiro, brasileiros detodas as idades circundam o quarteirão do Museu da Seresta, no centro, para relembrar músicas que marcaram sua infância e juventude. O museu contém o maior acervo de músicas de seresta do país.
Para aqueles que não conhecem as canções de cor, lojas vendem livrinhos contendo inúmeras letras. Antes de chegar ao museu, vale ensaiar alguns acordes vocais para aliviar um possível vexame.
Os seresteiros partem da entrada da salinha do museu, de cerca de 25 m2, comandados pelos seus fundadores, os irmãos José e Joubert Borges. São as duas figuras que lideram, há 61 anos, as serestas que acontecem todas as sextas-feiras e todos os sábados. Tudo sem microfone.
A serenata consiste em sair cantando da frente do museu e dar a volta no quarteirão, parando em todas as janelas dos sobrados.
As luzes piscam no interior das casas ou as janelas se abrem, e a "senhorita" agradece aos cantores a homenagem. Tudo é absurdamente singelo, e a emoção toma conta do visitante.
Nessas andanças, os violeiros às vezes têm a notável companhia dos próprios compositores das músicas cantadas, como J. Júnior, autor de "Lata d'Água na Cabeça" e "Saçaricando", músicas que toda mãe um dia já cantou para os filhos.
Algumas das canções têm uma produção especial, que lhe dão colorido. É o caso de "Confete". Ao soar dos primeiros acordes da canção, uma janela se abre e uma senhora joga um punhado de confetes na multidão.
Alguns ficam tão estatelados que engolem um monte deles. Recordam-se da infância, do primeiro namorado e da emoção das antigas serenatas feitas pelos amados da adolescência.
As serenatas de Conservatória costumam ir até a madrugada, e os turistas acabam dormindo muito pouco, pois não se recolhem antes das 3 h e às 9h já estão prontos para percorrer a cidade.
Ao meio-dia do sábado, os irmãos Borges já estão cantando novamente na porta do museu.
A cantoria também é realizada nos hotéis-fazenda da região, como a Fazenda do Rochedo, onde seresteiros de todas as idades se apresentam no palco e na platéia de um grande salão desde o fim da tarde até o anoitecer.
Depois do jantar, há um baile com música ao vivo, muito bolero e comida à vontade (queijo e vinho). É impressionante como todo mundo come e come, mas ninguém passa mal.
Depois dessa maratona toda, o domingo pode ser reservado ao sossego: caminhada, hidroginástica, meditação, sauna, enfim, um relaxamento geral antes da volta à cidade grande, onde quase nada disso existe.


Texto Anterior: Key West é uma festa: Parada da Fantasia atrai mais de 50 mil a cidade da Flórida
Próximo Texto: Aviação: Y2K não assusta aeroportos dos EUA
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.