|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
À MODA ANTIGA
Músicos cantam sob as janelas da cidade
Serestas dão ritmo a Conservatória
CRISTINA BARROS
free-lance para a Folha
Cantar é o principal programa
de Conservatória, conhecida como a capital nacional da seresta.
Na cidade, localizada a 121 km
do Rio de Janeiro, brasileiros detodas as idades circundam o
quarteirão do Museu da Seresta,
no centro, para relembrar músicas que marcaram sua infância e
juventude. O museu contém o
maior acervo de músicas de seresta do país.
Para aqueles que não conhecem
as canções de cor, lojas vendem livrinhos contendo inúmeras letras. Antes de chegar ao museu,
vale ensaiar alguns acordes vocais
para aliviar um possível vexame.
Os seresteiros partem da entrada da salinha do museu, de cerca
de 25 m2, comandados pelos seus
fundadores, os irmãos José e Joubert Borges. São as duas figuras
que lideram, há 61 anos, as serestas que acontecem todas as sextas-feiras e todos os sábados. Tudo sem microfone.
A serenata consiste em sair cantando da frente do museu e dar a
volta no quarteirão, parando em
todas as janelas dos sobrados.
As luzes piscam no interior das
casas ou as janelas se abrem, e a
"senhorita" agradece aos cantores
a homenagem. Tudo é absurdamente singelo, e a emoção toma
conta do visitante.
Nessas andanças, os violeiros às
vezes têm a notável companhia
dos próprios compositores das
músicas cantadas, como J. Júnior,
autor de "Lata d'Água na Cabeça"
e "Saçaricando", músicas que toda mãe um dia já cantou para os
filhos.
Algumas das canções têm uma
produção especial, que lhe dão
colorido. É o caso de "Confete".
Ao soar dos primeiros acordes da
canção, uma janela se abre e uma
senhora joga um punhado de
confetes na multidão.
Alguns ficam tão estatelados
que engolem um monte deles. Recordam-se da infância, do primeiro namorado e da emoção das antigas serenatas feitas pelos amados da adolescência.
As serenatas de Conservatória
costumam ir até a madrugada, e
os turistas acabam dormindo
muito pouco, pois não se recolhem antes das 3 h e às 9h já estão
prontos para percorrer a cidade.
Ao meio-dia do sábado, os irmãos Borges já estão cantando
novamente na porta do museu.
A cantoria também é realizada
nos hotéis-fazenda da região, como a Fazenda do Rochedo, onde
seresteiros de todas as idades se
apresentam no palco e na platéia
de um grande salão desde o fim
da tarde até o anoitecer.
Depois do jantar, há um baile
com música ao vivo, muito bolero
e comida à vontade (queijo e vinho). É impressionante como todo mundo come e come, mas ninguém passa mal.
Depois dessa maratona toda, o
domingo pode ser reservado ao
sossego: caminhada, hidroginástica, meditação, sauna, enfim, um
relaxamento geral antes da volta à
cidade grande, onde quase nada
disso existe.
Texto Anterior: Key West é uma festa: Parada da Fantasia atrai mais de 50 mil a cidade da Flórida Próximo Texto: Aviação: Y2K não assusta aeroportos dos EUA Índice
|