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NOVA INGLATERRA
Comunidade rural e puritana repelia o sexo até para procriação, mas não dispensava bens materiais
Shakers substituíam orgasmo por dólares
do enviado especial a Massachusetts
Para os moradores da comunidade Hancock, que funcionou no
Estado de Massachusetts entre
1790 e 1960, a ética protestante representava realmente o espírito do
capitalismo -a tese mais conhecida do sociólogo Max Weber, para
explicar a pujança econômica dos
países protestantes, EUA à frente.
Hancock era uma comunidade
rural, hoje tornada museu, habitada por membros da seita shaker.
Era uma comunidade tão puritana que não admitia o sexo nem sequer para procriação. Mas, em
meio a um nunca acabar de regras,
não fazia restrição nenhuma a
avanços materiais.
Naturalmente, a relação entre
uma comunidade como essa e o
resto da sociedade era conflituosa.
Mas isso não impediu o grupo de
receber adeptos ao prometer "o
paraíso na Terra".
Na verdade, o que eles ofereciam
era muito trabalho, muita reza e
conforto, proporcionado pelos
bens materiais. Para os shakers,
quanto mais conforto houvesse
mais tempo livre haveria para louvar a Deus.
Há na casa principal avisos que
denotam o severo relacionamento
dos shakers com o dinheiro.
Visitas eram bem-vindas, mas
deviam pagar pela hospedagem e
comida. As roupas e objetos de
uso pessoal eram, a rigor, propriedade da comunidade. Os produtos
fabricados lá eram vendidos para
as cidades vizinhas e gozavam de
boa reputação no mercado.
A fé chacoalha os shakers
O próprio nome shaker diz respeito ao tipo de religiosidade que
eles praticavam. "Shaker", em inglês, significa algo como "chacoalhante", e era assim, em êxtase,
que eles ficavam durante os cultos.
A origem do nome é pejorativa
-o nome oficial do grupo era Sociedade Unida dos Crentes na Segunda Aparição de Cristo.
Na comunidade, homens e mulheres trabalhavam. Eles se sentavam em bancos separados à mesa
e para as reuniões e, claro, dormiam em quartos separados.
Regularmente, os companheiros
de quarto eram trocados para que
um membro da comunidade não
nutrisse uma amizade especial por
outro, graças à convivência prolongada. Como não praticavam
sexo, os shakers tinham por hábito adotar crianças.
Hoje, o museu Hancock, em
Pittsfield, oeste do Estado, procura reproduzir a rotina dos shakers
no século 19 -inclusive com encenações "ao vivo". Em 1830, 300
pessoas viviam na Hancock. Havia
19 comunidades semelhantes nos
EUA -uma ainda existe, em Sabbathday Lake, Maine, também na
Nova Inglaterra.
Quando em 1960 a propriedade
Hancock foi comprada por um
grupo de pessoas da região interessadas nos shakers, moravam lá
duas mulheres, as últimas representantes da comunidade.
São 20 prédios, onde o que chama a atenção é a simplicidade e o
caráter funcional.
Os mais importantes são o casarão em que os fiéis viviam e o estábulo circular, de pedra, construído em 1826, um exemplo da arquitetura rural tradicional da Nova Inglaterra.
(RODRIGO LEITE)
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