São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POR DENTRO DE CURITIBA
Planejamento repara "falhas' da natureza

FERNANDO MENDONÇA
da Agência Folha, em Curitiba

Curitiba tem tudo para não ser uma típica cidade turística brasileira. Não está no litoral, não tem clima tropical nem são vistas abundantes mulatas nas ruas e bares da cidade.
A capital paranaense, porém, é hoje um dos principais centros turísticos da região Sul do Brasil.
Curitiba chama a atenção menos pelas atrações naturais -principal apelo de outros destinos turísticos brasileiros- e mais por obras e ações bem-sucedidas, pelas quais a capital paranaense demonstra que é possível promover uma integração mais harmoniosa e eficaz entre o homem e a cidade em que ele vive.
A primeira impressão de quem chega à cidade pela primeira vez é a de que está em um lugar limpo. O visitante vai confirmando a sensação na medida em que atravessa os bairros mais urbanizados.
Papéis e bitucas de cigarro podem ser vistos. Não é essa, porém, a limpeza -ou falta de- que despertará a atenção do visitante. A maior limpeza é a visual.
O conjunto urbano de Curitiba é a um só tempo sóbrio e arejado. Não existe poluição visual. Sobram áreas verdes.
Para cada um dos aproximadamente 1,4 milhão de curitibanos há cerca de 50 metros quadrados de área verde -número três vezes superior ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Planejamento
A topografia regular da cidade colaborou para que não fosse necessário erguer pontes, túneis e viadutos -que, em outras capitais, tiveram como consequência, na maior parte das vezes, autênticas aberrações urbanísticas.
A principal vantagem de Curitiba sobre outras metrópoles brasileiras é que nela houve tempo para pensar sobre o futuro e preparar-se para a chegada dele.
Diferentemente de São Paulo e do Rio de Janeiro, o fluxo migratório na cidade foi quase inexistente até o final da década de 70.
O primeiro plano diretor de Curitiba foi desenhado em 1943, quando a cidade ainda tinha pouco mais de 100 mil habitantes. Definiram-se naquele ano as avenidas que seriam construídas, prevendo o crescimento do centro para os bairros.
Hoje, apesar de apresentar a média de 2,52 habitantes para cada carro licenciado -a menor do Brasil-, ainda é possível atravessar a cidade com alguma facilidade e rapidez. O sistema viário é eficiente, com ruas e avenidas largas e extensas.
História
A capital paranaense foi fundada no século 17 por tropeiros que seguiam do Rio Grande do Sul para São Paulo. Desenvolveu-se como pólo urbano a partir do final do século passado, com a chegada de imigrantes europeus -principalmente alemães, poloneses, italianos e ucranianos.
A presença da cultura trazida por esses imigrantes, sobretudo poloneses e alemães, é percebida em aspectos que vão da arquitetura à culinária, passando pelas características étnicas de grande parte de seus habitantes -pele e cabelos claros.
Consultar o catálogo telefônico de Curitiba pode ser divertido para moradores de outras regiões do Brasil. Somente aos sobrenomes iniciados com a letra "w", comuns na Polônia, são dedicadas nove páginas. Tente ler depressa: Wieczorkowski, Wutkyvicz, Wojcikiewecz, Wojciechowski.


Colaborou Roger Modkovski, da Agência Folha


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.