São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007

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Del Puerto vai de parrilla e medio y medio

Tranqüila, Montevidéu assa churrasco em prédio inglês de 140 anos, montado para ser estação de trem

Amarílis Lage/Folha Imagem
Cartaz no mercadão feito pelo artista Carlos Paez Vilaró


SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

O Mercado del Puerto faz 140 anos em outubro de 2008 -mas celebra a data no próximo Réveillon. Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional desde 1975, o solene mercadão trazido da Inglaterra não vende legume nem mantimento. Abriga, sim, 14 minirrestaurantes que preparam a parrillada.
Patrimônio da culinária local, assado nas brasas de toras de lenha, o copioso churrasco uruguaio tem como acompanhamento adequado uma taça de tinto de uva tannat ou, quem sabe, um medio y medio, drinque rosê feito à base de vinhos.
Habitués renitentes também mantêm ali garrafas personalizadas de uísque escocês -e, nas noitadas boêmias, há 14 décadas, bebe-se cerveja uruguaia.
A estrutura de ferro do mercadão (www.mercadodelpuerto.com.uy), de 1868, foi forjada em Liverpool para ser montada em Montevidéu pelo engenheiro R. V. Mesures.
Eclético, o prédio abrigou inicialmente uma estação de trem em frente ao cais do porto, diante do rio da Prata.
Pelas frestas do telhado, no centro do salão, feixes de luz atravessam o espaço, iluminando um carrilhão sonolento, que começou a badalar há 110 anos, em agosto de 1897.
O relógio, igualmente inglês, denuncia o passado ferroviário do Mercado del Puerto e mede que, ali, ninguém está empenhado em comer depressa.

Parrillada e mais...
Em balcões e em mesas no salão, ou até mesmo em áreas externas, cada um dos 14 minirrestaurantes preparam parrillada. Mas é pitoresco sentar num balcão e ver o churrasqueiro manejar os cortes de carne de gado hereford em pesadas grelhas de ferro. No braseiro de lenha, são ainda tostados embutidos (como a salsicha parrillera e a morcela) e vísceras (como a molleja, os riñones e os chinchollines). Imbatível ali é o bife uruguaio "marmorizado", entranhado de gordura, chamado ali de entrecot, um corte de suculento contra-filé.
Ah, e as batatas assadas embrulhadas no papel alumínio ou fritas, perfeitas, num país que se notabiliza por lidar com a terra e com o gado ao estilo "gaucho".
Quem não se comove com os prazeres da carne encontra alguns minirrestaurantes que preparam peixes grelhados -e até eventualmente caranguejos tipo centolla, vindos do Chile.
Uma exceção em termos de ingredientes à venda são os queijos de leite de vaca e ovelha, em geral bem curados.
O mercado também tem bom artesanato uruguaio, como vestimentas de lã algo hippies, acessórios de couro e objetos rústicos de porcelana com um quê indígena.

Passado presente
Assim, ao pé da Ciudad Vieja e com os velhos prédios da Marinha e da burocracia do cais, esse mercadão sintetiza algo dessa capital nostálgica, sutil e passadista onde vivem 1,4 milhão de pessoas.
Quem chega num transatlântico ao porto, onde há armazéns simpáticos e bem arrumados, nota que a capital -cujo nome, imagina-se, deriva da expressão "eu vi o monte"- se assenta numa colina de 132 m.
O mercado fica a uma pequena e demarcada caminhada do cais onde aportam os navios de cruzeiro, ao pé de Montevidéu, diante das águas espessas do rio da Prata, "o mais largo do mundo", segundo asseguram.


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