|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Répteis pululam na região, ameaçando as pessoas
DA ENVIADA ESPECIAL À AMAZÔNIA
Se chegar bem pertinho dos jacarés gigantescos que habitam o
lago do Cuniã diverte os turistas, a
proximidade desses répteis não
agrada aos moradores da reserva.
Os extrativistas reclamam que a
falta de manejo com essas espécies na região está colocando suas
vidas em perigo.
Os caboclos relatam diversas
histórias de acidentes com os jacarés-açus. As mães têm dificuldades para lavar roupa, as crianças não tomam banho no lago e os
pescadores são frequentemente
atacados pelos jacarés.
João da Silva, 57, pescador desde os 12 anos de idade, diz que já
foi atacado por jacarés três vezes.
"Tenho medo, a gente não pesca
mais tranquilo. Uma vez estava
com meu neto de dez anos pescando e, na hora em que a gente
jogou a tarrafa, ele veio para cima,
mas pegou a canoa", conta Silva,
que chama o jacaré de "dragão".
Sua mulher, Maria Madalena de
Araújo, 48, explica que é preciso
ficar atenta quando está limpando peixe ou lavando roupa na
prancha, à beira do igarapé. "O bicho fica rondando a gente."
Já o morador Francisco das
Chagas Ferreira, 50, foi surpreendido pelo jacaré quando estava tomando banho no rio à noite.
Na casa da menina Deisa de
Souza da Silva, 8, duas pessoas já
foram atacadas. Por isso ela diz
morrer de medo de pular nas
águas das lagoas do Cuniã. "A
mãe foi jogar tarrafa no igarapezinho, e o jacaré agarrou a perna
dela. Com a minha irmã já aconteceu a mesma coisa há alguns
anos", lembra Deisa.
De acordo com Jorge Ferreira
Lopes, 40, presidente da associação de moradores da reserva extrativista, o homem e o jacaré disputam o peixe no Cuniã.
"O problema é que o jacaré não
tem predador e se reproduz rapidamente. A comunidade está correndo risco por causa desses répteis, a maioria com cerca de três
metros de comprimento", explica
o presidente.
Lopes se preocupa com a necessidade de diversificar as atividades econômicas na região -a
maioria das famílias vivem da
pesca e poucas da produção da farinha. "Se continuar essa pressão
no peixe, ele vai se tornar escasso.
E, se o peixe acabar, o jacaré vai
pegar o homem", completa o morador, que estima um número de
10 mil jacarés na reserva.
Segundo Atanagildo Matos,
chefe do CNPT (Centro Nacional
de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável), o estudo do plano de manejo deve ser
iniciado no ano que vem no Cuniã. "O predador do jacaré é o homem. Como lá os moradores não
se alimentam da carne do animal
[o que é permitido nessas áreas",
ocorre um desequilíbrio. O jacaré
coloca uns 40 ovos por ano."
Matos acha que uma saída é, depois do estudo realizado, fazer um
criatório para comercializar esses
animais de forma equilibrada.
"Em vez de incentivar na reserva a
criação de galinha, porco e carneiro, por exemplo, a idéia é criar capivara, caititu, paca e jacaré",
completa o chefe do CNPT.
(GR)
Texto Anterior: Homem disputa peixe com jacaré e biguá Próximo Texto: Museu guarda história de ferrovia da selva Índice
|