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Locomotiva inglesa exposta estava largada nos trilhos e servia de galinheiro e depósito de água
Museu guarda história de ferrovia da selva
DA ENVIADA ESPECIAL À AMAZÔNIA
Em Porto Velho, capital de
Rondônia, o Museu da Estrada de
Ferro Madeira-Mamoré guarda
um pouco da história da ferrovia,
construída na selva amazônica
-ou "inferno verde", como era
chamada por muitos. O objetivo
da obra era escoar a produção da
borracha nos séculos 19 e 20.
O museu fica às margens do rio
Madeira (um dos maiores afluentes do Amazonas). Entre as peças
expostas num antigo galpão, há
instrumentos usados na manutenção dos trilhos da ferrovia, telefones, relógios, fotografias, livros e documentos.
O que mais chama a atenção dos
visitantes é uma locomotiva inglesa. A máquina estava abandonada
nos trilhos e servia de galinheiro e
depósito de água.
Retratos antigos nas paredes
mostram homens que trabalharam na construção da estrada.
São personagens anônimos como
o pai do ex-ferroviário Carrol Van
Olton Denny, 66, que conhece
parte dessa história. Denny foi foguista e trabalhou no trecho de
Porto Velho a Guajará-Mirim de
1954 a 1969. "Era perigoso, mas tenho saudades." O pai dele veio
das Antilhas para trabalhar na ferrovia. "Meu pai aguentou até o
fim. Ele dizia que os patrões mandavam matar quem ficava doente
para não contaminar os outros.
Meu pai foi abandonado nos trilhos, mas sobreviveu."
A viagem de um ponto ao outro
durava um dia e meio, e todos
dormiam no caminho. Denny diz
que ouvia gemidos de "fantasmas". "São pessoas que morreram naquela época e continuam
perdidas na floresta", conta.
A preocupação do ex-ferroviário hoje é com o abandono do lugar: "Peço aos alunos que vêm
aqui para anotarem tudo, pois isso tudo vai acabar". Alda Pereira,
funcionária do museu que recepciona os visitantes, concorda: "O
museu está em estado precário.
Há móveis com cupim e fotos que
precisam de restauração".
História
Foram várias as tentativas de
construir os 336 km da estrada de
ferro que marcou a história de
ocupação da Amazônia. O objetivo do projeto era ligar as áreas de
produção do látex. Entre 1907 e
1912, cerca de 30 mil pessoas de
diversos países, principalmente
negros das Antilhas, trabalharam
na ferrovia. Calcula-se que cerca
de 6.000 trabalhadores foram vítimas de doenças tropicais, de ataques indígenas e de animais.
Assim que a construção foi concluída, houve declínio do comércio da borracha. Com o abandono, a floresta invadiu os trilhos.
(GABRIELA ROMEU)
Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré - Av. 7 de Setembro/praça Madeira-Mamoré. Aberto de segunda a sexta, das 8h às 18h. Grátis.
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