São Paulo, segunda-feira, 09 de dezembro de 2002

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Locomotiva inglesa exposta estava largada nos trilhos e servia de galinheiro e depósito de água

Museu guarda história de ferrovia da selva

DA ENVIADA ESPECIAL À AMAZÔNIA

Em Porto Velho, capital de Rondônia, o Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré guarda um pouco da história da ferrovia, construída na selva amazônica -ou "inferno verde", como era chamada por muitos. O objetivo da obra era escoar a produção da borracha nos séculos 19 e 20.
O museu fica às margens do rio Madeira (um dos maiores afluentes do Amazonas). Entre as peças expostas num antigo galpão, há instrumentos usados na manutenção dos trilhos da ferrovia, telefones, relógios, fotografias, livros e documentos.
O que mais chama a atenção dos visitantes é uma locomotiva inglesa. A máquina estava abandonada nos trilhos e servia de galinheiro e depósito de água.
Retratos antigos nas paredes mostram homens que trabalharam na construção da estrada. São personagens anônimos como o pai do ex-ferroviário Carrol Van Olton Denny, 66, que conhece parte dessa história. Denny foi foguista e trabalhou no trecho de Porto Velho a Guajará-Mirim de 1954 a 1969. "Era perigoso, mas tenho saudades." O pai dele veio das Antilhas para trabalhar na ferrovia. "Meu pai aguentou até o fim. Ele dizia que os patrões mandavam matar quem ficava doente para não contaminar os outros. Meu pai foi abandonado nos trilhos, mas sobreviveu."
A viagem de um ponto ao outro durava um dia e meio, e todos dormiam no caminho. Denny diz que ouvia gemidos de "fantasmas". "São pessoas que morreram naquela época e continuam perdidas na floresta", conta.
A preocupação do ex-ferroviário hoje é com o abandono do lugar: "Peço aos alunos que vêm aqui para anotarem tudo, pois isso tudo vai acabar". Alda Pereira, funcionária do museu que recepciona os visitantes, concorda: "O museu está em estado precário. Há móveis com cupim e fotos que precisam de restauração".

História
Foram várias as tentativas de construir os 336 km da estrada de ferro que marcou a história de ocupação da Amazônia. O objetivo do projeto era ligar as áreas de produção do látex. Entre 1907 e 1912, cerca de 30 mil pessoas de diversos países, principalmente negros das Antilhas, trabalharam na ferrovia. Calcula-se que cerca de 6.000 trabalhadores foram vítimas de doenças tropicais, de ataques indígenas e de animais.
Assim que a construção foi concluída, houve declínio do comércio da borracha. Com o abandono, a floresta invadiu os trilhos.
(GABRIELA ROMEU)


Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré - Av. 7 de Setembro/praça Madeira-Mamoré. Aberto de segunda a sexta, das 8h às 18h. Grátis.


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