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Moradas de sitiantes conservam resquícios coloniais
DA ENVIADA ESPECIAL
Apesar de ter sido fundada por
imigrantes, Gramado não carrega
tradições européias genuínas, pelo menos não no centro -repleto
de hotéis, restaurantes e lojas.
Mas, na zona rural da cidade, em
pequenas propriedades (chamadas de colônias), há famílias que
ainda mantêm os costumes de
seus antepassados e, o que é melhor, abrem suas casas com simpatia para os turistas.
Um passeio de agroturismo diário em dois ônibus antigos leva os
visitantes do centro às casas dos
colonos por R$ 35 por pessoa (é
preciso haver no mínimo quatro
passageiros).
Uma delas é a de Celeste Lazzaretti, 80, que mostra o parreiral
plantado pelo bisavô italiano, mas
lamenta que os visitantes não
possam ver a primeira adega da
propriedade, destruída há alguns
anos. "Naquela época ninguém
falava nesse tal de turismo."
Na atual adega, os turistas são
recepcionados com uvas e degustação de vinhos produzidos pela
própria Lazzaretti (R$ 5, a garrafa). "Eu não troco isso daqui por
nada. Morar na cidade para quê?
Ficar no banco da praça? Então
pode fazer o caixão."
No sítio do casal Ingo, 69, e Isoldi Ramm, 66, descendentes de
alemães, o ônibus é recebido ao
som de sanfona. Em um galpão,
uma mesa caprichada aguarda
pelos turistas com doces e embutidos -todos fabricados ali. Não
deixe de experimentar a lingüiça
(servida depois de passar por leve
fervura), que também está à venda (R$ 14 o quilo).
Outra parada é na casa de Marlise Grings, 41, que mora na mesma
terra em que habitavam os casais
retratados no filme "O Quatrilho"
(1995), de Fábio Barreto: Maria e
Giuseppe Dairi e Nicodemo e Carolina Trentin.
No começo do século 20, esses
imigrantes italianos eram sócios
em um moinho que funcionava
no sítio, até haver uma troca de
parceiros.
O avô de Marlise comprou a terra dos descendentes de Trentin
em 1953. Atualmente, os visitantes que forem ao local podem conhecer a igreja que os imigrantes
ajudaram a levantar e o túmulo de
Maria.
Quase Alemanha
O nome é Nova Petrópolis, mas
poderia ser Nova Berlim ou Nova
Stuttgart. A pequena cidade de 18
mil habitantes, a 35 km de Gramado, traz arraigada em seu cotidiano a cultura dos colonizadores
-estampada nos olhos e na pele
de seus habitantes e nas conversas
em dialetos alemães, ouvidas em
todos os cantos.
Os imigrantes chegaram em
1858, e suas primeiras construções estão reunidas no parque Aldeia do Imigrante. Nove prédios,
edificados na zona rural da cidade
entre 1875 e 1910, foram desconstruídos e remontados no local, na
década de 1980. A técnica dos colonizadores era a de enxaimel,
com base de pilares de madeira
encaixados nos vértices, sem pregos, preenchidos por alvenaria.
Em uma das casas, um antigo
salão de baile, as vizinhas Diva Ilillebrand, 57, e Adriana Dreschsler, 35, esperam os visitantes com
suas cucas -bolo de origem alemã, com boa dose de açúcar salpicado em cima, recheado com chocolate ou coberto por frutas-,
vendidas a R$ 1 o pedaço.
A quem quiser se arriscar na cozinha elas fornecem a receita, herdada da família de Diva. "Não tem
nenhum segredo, a não ser assar
no forno a lenha", avisam.
A cuca, aliás, é um dos pratos
que não faltam na modalidade
gastronômica mais característica
da cidade: o café colonial. Os moradores dizem que é a continuidade de um costume alemão: receber as visitas com um farto café.
Entenda-se farto como mesas
repletas de bolos, tortas, pães e
embutidos, acompanhados sobretudo de suco de uva e chá.
Um dos mais divertidos é o do
restaurante Torquês (0/xx/54/
281-4544), pois é regado a uma
apresentação de dança alemã, em
que os bailarinos realizam verdadeiras acrobacias. Mas a casa só
serve o café (R$ 22 por pessoa)
duas vezes por semana. É preciso
ligar e confirmar o dia. Outras opções na cidade são o Recanto dos
Plátanos (0/xx/54/ 281-2105) e o
Opa's (0/xx/54/281-1273).
(JD)
Roteiros de agroturismo - saída: Casa
do Colono (pça. das Comunicações, Gramado), tel. 0/xx/54/286-2476; Parque
Aldeia do Imigrante - av. 15 de Novembro, 1.966, tel. 0/xx/54/281-1254.
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