São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2005

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Moradas de sitiantes conservam resquícios coloniais

DA ENVIADA ESPECIAL

Apesar de ter sido fundada por imigrantes, Gramado não carrega tradições européias genuínas, pelo menos não no centro -repleto de hotéis, restaurantes e lojas. Mas, na zona rural da cidade, em pequenas propriedades (chamadas de colônias), há famílias que ainda mantêm os costumes de seus antepassados e, o que é melhor, abrem suas casas com simpatia para os turistas.
Um passeio de agroturismo diário em dois ônibus antigos leva os visitantes do centro às casas dos colonos por R$ 35 por pessoa (é preciso haver no mínimo quatro passageiros).
Uma delas é a de Celeste Lazzaretti, 80, que mostra o parreiral plantado pelo bisavô italiano, mas lamenta que os visitantes não possam ver a primeira adega da propriedade, destruída há alguns anos. "Naquela época ninguém falava nesse tal de turismo."
Na atual adega, os turistas são recepcionados com uvas e degustação de vinhos produzidos pela própria Lazzaretti (R$ 5, a garrafa). "Eu não troco isso daqui por nada. Morar na cidade para quê? Ficar no banco da praça? Então pode fazer o caixão."
No sítio do casal Ingo, 69, e Isoldi Ramm, 66, descendentes de alemães, o ônibus é recebido ao som de sanfona. Em um galpão, uma mesa caprichada aguarda pelos turistas com doces e embutidos -todos fabricados ali. Não deixe de experimentar a lingüiça (servida depois de passar por leve fervura), que também está à venda (R$ 14 o quilo).
Outra parada é na casa de Marlise Grings, 41, que mora na mesma terra em que habitavam os casais retratados no filme "O Quatrilho" (1995), de Fábio Barreto: Maria e Giuseppe Dairi e Nicodemo e Carolina Trentin.
No começo do século 20, esses imigrantes italianos eram sócios em um moinho que funcionava no sítio, até haver uma troca de parceiros.
O avô de Marlise comprou a terra dos descendentes de Trentin em 1953. Atualmente, os visitantes que forem ao local podem conhecer a igreja que os imigrantes ajudaram a levantar e o túmulo de Maria.

Quase Alemanha
O nome é Nova Petrópolis, mas poderia ser Nova Berlim ou Nova Stuttgart. A pequena cidade de 18 mil habitantes, a 35 km de Gramado, traz arraigada em seu cotidiano a cultura dos colonizadores -estampada nos olhos e na pele de seus habitantes e nas conversas em dialetos alemães, ouvidas em todos os cantos.
Os imigrantes chegaram em 1858, e suas primeiras construções estão reunidas no parque Aldeia do Imigrante. Nove prédios, edificados na zona rural da cidade entre 1875 e 1910, foram desconstruídos e remontados no local, na década de 1980. A técnica dos colonizadores era a de enxaimel, com base de pilares de madeira encaixados nos vértices, sem pregos, preenchidos por alvenaria.
Em uma das casas, um antigo salão de baile, as vizinhas Diva Ilillebrand, 57, e Adriana Dreschsler, 35, esperam os visitantes com suas cucas -bolo de origem alemã, com boa dose de açúcar salpicado em cima, recheado com chocolate ou coberto por frutas-, vendidas a R$ 1 o pedaço.
A quem quiser se arriscar na cozinha elas fornecem a receita, herdada da família de Diva. "Não tem nenhum segredo, a não ser assar no forno a lenha", avisam.
A cuca, aliás, é um dos pratos que não faltam na modalidade gastronômica mais característica da cidade: o café colonial. Os moradores dizem que é a continuidade de um costume alemão: receber as visitas com um farto café.
Entenda-se farto como mesas repletas de bolos, tortas, pães e embutidos, acompanhados sobretudo de suco de uva e chá.
Um dos mais divertidos é o do restaurante Torquês (0/xx/54/ 281-4544), pois é regado a uma apresentação de dança alemã, em que os bailarinos realizam verdadeiras acrobacias. Mas a casa só serve o café (R$ 22 por pessoa) duas vezes por semana. É preciso ligar e confirmar o dia. Outras opções na cidade são o Recanto dos Plátanos (0/xx/54/ 281-2105) e o Opa's (0/xx/54/281-1273). (JD)


Roteiros de agroturismo - saída: Casa do Colono (pça. das Comunicações, Gramado), tel. 0/xx/54/286-2476;
Parque Aldeia do Imigrante - av. 15 de Novembro, 1.966, tel. 0/xx/54/281-1254.


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