São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SECOS E MOLHADOS
Safári fotográfico pelo refúgio Caiman, no Pantanal, revela um bicho muito curioso, o "homo urbanus"
Onça surge e turista põe as garras de fora

Divulgação
Onça flagrada no Pantanal; neste mês os animais repovoam a paisagem do MS


CARLA ARANHA
enviada especial ao Pantanal

O carioca de calça jeans segura a respiração e dispara, com os olhos brilhando: "É onça, gente!". Os nove ocupantes do Zebrão descem às pressas para ver as pegadas apontadas pelo rapaz.
Más notícias: nem sombra da onça. Não faz mal. "Vamos fotografar as pegadas", propõe, animada, a moça loira de Campinas. E plac, plac, plac -todas as câmaras fotográficas clicam as impressões digitais do felino deixadas no chão.
Depois, o grupo retorna ao Zebrão, uma caminhonete com a caçamba adaptada. E o safári fotográfico continua.
O guia Tilo Schuttel, 25, formado em biologia, conta que as onças já deram muito trabalho na região, matando o gado, e por isso havia até caçadores do animal por lá, pagos pelos fazendeiros. Conversa vai, conversa vem, fica em evidência um mamífero que, esse sim, você vai ver a todo momento no Pantanal: o "homo urbanus".
"O leão mantém 200 relações por dia quando as fêmeas estão no cio", fala Schuttel para uma embasbacada platéia. "Mas são 200 transas com cada leoa?", inquere, entre espantada e receosa, uma típica exemplar do gênero paulistinha. "Nããããão", responde o paciente guia. "Se fosse assim, a fêmea não ia aguentar, e a espécie simplesmente acabaria."
O quá, quá, quá termina quando, segundos depois, o grupo vê um grupo de capivaras bem de perto. Explicações informais sobre o comportamento do animal, que é o maior roedor do mundo, e suas características ilustram mais esse passeio pela imensa área do Refúgio Ecológico Caiman, no sul do Pantanal Mato-Grossense.
Espalhado em 530 km2, área que comportaria 330 parques do Ibirapuera ou três Liechesteins (país da Europa Ocidental), o complexo turístico e de preservação ambiental tem como um de seus maiores trunfos a diversidade animal.
O local abriga 303 espécies de ave. Também é possível observar ali, com facilidade, capivaras, emas, veados-campeiros e lobinhos (há 90 tipos de mamífero no Pantanal), sem falar na famosa arara-azul e no onipresente tuiuiú, grande pássaro de cabeça preta.
Só não vá pensando que o local se assemelha a um grande zoológico e muito menos ao Simba Safári, com todos aqueles animais rodeando os carros. No mundo real, mamíferos ariscos como onças e veados raramente dão o ar da graça, por um motivo óbvio: o homem é um possível predador e os bichos não querem virar troféu de caça.
Para ver mais de perto exemplares da vida selvagem na região, o melhor é visitá-la entre julho e setembro. A água represada, que forma grandes áreas de alagadiços, baixa muito, e os bichos costumam aparecer bem mais.
Em abril e maio, a festa também é das aves, que enfeitam a paisagem pantaneira quase o ano todo. Nesse meses, as baías começam a secar e os peixes ficam presos nelas, formando um atraente banquete para os pássaros.
Entre dezembro e março, vá para o Pantanal apenas se o seu ideal é abrir um guarda-chuva a cada instante. Essa é a época de pico da cheia, quando a região fica alagada e menos propícia a safáris fotográficos. E de onça, meu amigo, nem sombra. Definitivamente.


Carla Aranha viajou a convite do Refúgio Ecológico Caiman e da TAM.


Texto Anterior: Coca e altitude tiram o sono do viajante
Próximo Texto: Guias são uma atração à parte
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.