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100 ANOS NA JUGULAR
Príncipe romeno que inspirou Bram Stoker empalava mulheres e crianças e virou herói nacional
Drácula de verdade passava sangue no pão
especial para a Folha
Ele mandava empalar mulheres e
crianças de 1 e 2 anos de idade,
obrigava suas vítimas a atos de canibalismo, esfolava os prisioneiros
e os enterrava vivos, fazia suas refeições e até brindava entre os cadáveres. Segundo alguns, embebia
o pão no sangue dos moribundos,
quando não o bebia numa taça.
Esse amor de pessoa atendia pelo
nome de Vlad, chamado Tepes (o
Empalador) ou Drácula (filho de
dragão ou do diabo). Era príncipe
e foi o modelo para que Bram Stoker criasse Drácula -mais tarde,
inspirou o ditador Nicolau Ceaucescu, que aprontou 1.001 malvadezas e fez da Romênia seu quintal.
Vlad Tepes, ou Drácula, era filho
de Vlad 2º, príncipe da Valáquia, e
nasceu em 1431, na cidade de Sighisoara, norte da Romênia. A casa onde nasceu ainda existe, foi
asilo de velhos e abriga um restaurante. Curiosamente, Vlad, o Empalador, teve um irmão por parte
de pai, Vlad, o Monge, que se dedicou à religião.
A Valáquia ocupa a região sul da
Romênia, e a Transilvânia, a centro-norte. Por séculos, foram interligadas, ora unidas, ora independentes, sob influência húngara
ou turca. É nesse jogo de forças que
pai e filho exercem o poder.
Vingança
Quando Vlad Tepes, ou Drácula,
tinha 11 anos, Vlad 2º foi aprisionado pelo sultão turco Murad 2º,
que duvidava de sua lealdade. Para
provar a lealdade, que na verdade
não existia, o príncipe deixou os
filhos Vlad e Radu como reféns e
salvou a pele. As crianças ficaram
em poder dos turcos por seis anos.
Drácula faria da vingança uma
razão de viver. "Ele também desenvolveu uma reputação como
trapaceiro, manhoso, insubordinado e brutal, inspirando medo
aos próprios guardas", afirmam
Raymond T. McNally e Radu Florescu no livro "Em Busca de Drácula e Outros Vampiros".
Fugiu dos turcos em 1448, um
ano depois do assassinato do pai.
Ocupou o trono da Valáquia por
dois meses, mas a situação era instável. Os príncipes Danesti chegaram ao poder, e Drácula ficou sem
rumo. Reapareceu na Transilvânia
e pediu clemência a Hunyadi.
Hunyadi defendia a cristandade
contra os infiéis turcos e precisava
de um candidato confiável ao trono da Valáquia -os príncipes Danesti adotavam posições pró-turcas. Drácula ocupou pela segunda
vez o trono entre 1456 e 1462.
Então, havia o temor de que os
turcos -em 1453, tinham conquistado Constantinopla- quisessem tomar a Transilvânia. Com
o poder, revela-se a crueldade de
Drácula, para a qual confluem fatos reais ou nem tanto. Crueldade
que deve ser entendida, não justificada, na luta contra os turcos.
Drácula foi educado na fé cristã
e, para ele, qualquer meio justificava o fim de defender as fronteiras nacionais e cristãs. É considerado um herói nacional na Romênia e, em 1976, por ocasião do
quinto centenário da sua morte,
foi homenageado em todo o país
-houve até um selo comemorativo ilustrado com seu retrato.
As histórias de sua crueldade são
infinitas e se confundem com a
cultura popular. Certa vez, à frente
de 20 mil homens, devastou a
Transilvânia e empalou 10 mil
ex-companheiros, sob a alegação
de que concorriam deslealmente
com mercadores valáquios.
(FM)
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