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Criador morreu antes do sucesso da criatura
especial para a Folha
Era um dia gélido e chuvoso
quando ele nasceu. De saúde delicada, não se esperava que sobrevivesse. Até os 8 anos, esteve confinado ao leito, vítima de desconhecida doença. A biografia de Drácula poderia começar assim, mas os
dados se referem ao escritor Bram
Stoker, autor de "Drácula".
Abraham Stoker nasceu em
1847, em Dublin, capital da Irlanda, cidade onde também nasceu
Joseph Sheridan Le Fanu. Le Fanu
escreveu "Carmila", sobre a jovem de mesmo nome que se envolve com Laura e, por fim, demonstra ser uma vampira. "Carmilla"
estaria na base de "Drácula".
Quando entrou no Trinity College, em Dublin, a doença era uma
referência remota -mas Stoker
não caminhou até os 8 anos. Tornou-se atleta e se interessava mais
pelo teatro que pelo serviço público -carreira à qual, como o pai,
estava destinado.
Em 1875, publicou, na revista
"The Shamrok", a primeira história de horror, "A Cadeia do Destino", com um estranho personagem e uma maldição no ar.
Eram tempos em que o romance
gótico, na linha iniciada por "O
Castelo de Otranto", de Horace
Walpole, herdeiro direto de uma
certa tradição medieval, já tinha
mais de um século. Histórias sombrias, com personagens soturnos
como o monstro de "Frankenstein", de Mary Shelley.
Como admirador e amigo, Stoker se aproximou de Henry Irving,
ator e empresário teatral. Trabalhou como seu secretário por 27
anos. Uma amizade, diria, "tão
íntima e duradoura como é possível existir entre dois homens".
Por esse tempo, casou-se com
Florence Balcombe -ela recusara
uma proposta de casamento de
Oscar Wilde e ficou com Stoker-
e continuou a investigar o vampirismo, assunto ao qual se dedicava
desde que começou a escrever.
O personagem Rei da Morte, de
seu livro de horror para crianças
(!) "Under the Sunset" (Sob o Crepúsculo), de 1881, era um esboço
de Drácula. Mas só em 1890, após
"The Snake's Pass" (O Passo da
Serpente), primeiro romance longo, iniciou os trabalhos de seu livro mais importante -o único
que restou de sua obra.
Não faltavam sugestões. Stoker
deve ter visitado uma exposição do
Museu Britânico sobre a Europa
Oriental, na qual se descrevia o
verdadeiro Drácula, o príncipe
Vlad. E disse que, ao conhecer Richard Burton, tradutor de histórias indianas e de vampiros, impressionou-se com seus caninos.
Bram Stoker empregou sete anos
nas pesquisas para o romance
-ainda há 78 páginas de notas, esboços, perfis de personagens, capítulos não-publicados e diagramas, mais listas dos livros que
usou em seu trabalho. Fez ficção a
partir de um personagem real e
usando o maior realismo possível.
Antes da publicação de "Drácula", a história chegara ao palco.
Ele mesmo escreveu "Dracula, or
the Un-Dead" (Drácula, o Vampiro), que estreou dias antes do lançamento do livro, no Lyceum
Theatre, de Londres.
O livro saiu em maio de 1897 e,
segundo a crítica, marcou a transição do romance gótico para o romance de horror. Seu sucesso foi
gradativo, em parte alavancado
pela carreira da história no teatro
e, mais tarde, no cinema.
Stoker escreveu mais uma dezena de livros e não chegou a ver o
sucesso de sua principal obra.
"Drácula", o livro, é uma colagem de cartas, diários, recortes, telegramas e testemunhos fonográficos. Tudo começa quando conde
Drácula propõe comprar uma
propriedade na Inglaterra. O solicitador Jonathan Harker viaja à
Transilvânia e se hospeda no castelo do conde... É só ler o resto.
Stoker morreu em 1912.
(FM)
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