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São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2003

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NJ VÊ NY

Apesar de Atlantic City estar à beira-mar, são shows, lutas de boxe e luxo de 13 megahotéis que, de fato, fisgam turista

Contidos cedem ao jogo na cidade-cassino

DA ENVIADA ESPECIAL A NOVA JERSEY

Resistir à tentação de colocar pelo menos uma moeda em um caça-níquel de um cassino em Atlantic City exige muita determinação. Tudo conspira para que até mesmo o visitante mais contido ceda e arrisque a sorte no jogo.
A trama começa na hospedagem. Treze hotéis-cassinos espalham-se pela cidade, o mais novo deles, o Borgata Hotel Casino & Spa Atlantic tem 2002 quartos, 11 restaurantes, lojas e spa.
De um modo geral, a decoração do hotéis-cassinos -um misto de espelhos, lustres e carpetes coloridos- tenta proporcionar uma sensação de luxo desde a recepção. Para chegar ao quarto, é preciso cruzar salões repletos de caça-níqueis e mesas de jogo. Até mesmo os hotéis convencionais destacam a proximidade dos cassinos como uma vantagem para conquistar os hóspedes.
Os painéis luminosos das máquinas mais modestas pedem apenas cinco centavos por uma jogada. Por que resistir? Basta observar durante alguns minutos o salão de jogos para concluir que é quase certo que a porcentagem dos que se contêm entre os mais de 30 milhões de turistas que visitam anualmente Atlantic City deve ser bem pequena.
Uma pesquisa feita por George Sternlieb e James W. Hughes, autores do livro "Atlantic City Gamble", indica que o visitante gasta em média US$ 20 em cada jogo, durante o período da estada.
A emoção de apostar dinheiro no jogo parece atrair principalmente idosos e mulheres. Durante o dia, é fácil constatar que pessoas acima de 60 anos e aposentadas são maioria nos cassinos. Muitos já nem conseguem se locomover com as próprias pernas, mas recebem ajuda dos seguranças -em sua maioria imigrantes latinos-, contratados para ajudar os idosos a descer das vans e a se acomodar em uma cadeira de rodas ou em um andador.
Sternlieb e Hughes contam que, logo que surgiram os primeiros cassinos na cidade, os idosos já eram 30% dos frequentadores, o que forçou os empresários a fazer algumas modificações nos ambientes de jogo e a colocar cadeiras em frente aos caça-níqueis.
Quando a reportagem da Folha chegou ao cassino-hotel Tropicana (www.tropicana.net), uma mulher de 75 anos, que como a grande maioria não gosta de se identificar, tinha acabado de ganhar US$ 9.000 numa máquina em que uma galinha viva é o adversário do apostador no jogo-da-velha. A mulher corria pelo salão contando sua vitória aos amigos que a acompanhavam.

Playground
Apesar de ser uma cidade litorânea, Atlantic City, que tem orgulho de exibir o título de "playground" favorito dos americanos, pode decepcionar o visitante que gosta de passeios ao ar livre.
O curioso é que a cidade apresenta a praia em seu portfólio como diferencial em relação a Las Vegas, mas a maioria das opções de entretenimento que os cassinos oferecem está dentro do complexo hoteleiro. São bailes, musicais com famosos ou quase famosos, peças teatrais, lutas de boxe e concursos de beleza. O hóspede acaba não tendo tempo para buscar diversão fora dali.
Mas quem resolve escapar para aproveitar a praia e as atrações à beira-mar não se arrepende. A praia é limpa e não deixa muito a desejar em relação ao litoral de São Paulo no quesito paisagem.
O "boardwalk" (calçadão à beira-mar) -o primeiro a ser construído no mundo, em 1870- tem 13 km e é o coração da cidade. Em sua extensão se abrigam vários hotéis-cassinos de Atlantic City, além de outras atrações, como minipistas de golfe e píeres.
Entretanto o visitante precisa estar disposto a percorrê-lo a pé ou a alugar uma "rolling-chair" (uma espécie de carroça empurrada por um homem), a um custo de US$ 2,5 por quarteirão. Apesar de o "boardwalk" ser ideal para o ciclismo, só é permitido andar de bicicleta no local das 6h às 10h.
Como um verdadeiro playground, Atlantic City, com cerca de 40 mil habitantes, oferece poucos passeios culturais. Também não espere ver construções antigas. Quase tudo por lá foi reconstruído nos últimos 30 anos.
Ironicamente, a cidade, que foi tema de "Atlantic City" (1980), filme que levou o diretor Louis Malle a vencer o Leão de Ouro no Festival de Veneza, não possui salas de exibição de cinema.

Alta temporada
Para quem gosta de badalação, o verão -início de junho até meados de setembro- é a melhor época para conhecer Atlantic City. Os cassinos programam shows com personalidades, e os dias, com temperatura acima dos 30º C, tornam a praia uma opção viável. No final de setembro, a cidade será sede do concurso de beleza que elege a "Miss América", no Boardwalk Hall.
Mas o vice-prefeito da cidade, Ernest Coursey, alerta que nesse período tudo fica mais caro. Ele sugere aos que querem economizar uma visita à cidade entre novembro e março.
O ingresso para ir ao show da cantora Mariah Carey, que será no dia 20 de setembro, no Trump Taj Mahal (www.trumptaj.com), custa entre US$ 50 e US$ 100. Por bem menos, entre US$ 35 e US$ 40, é possível assistir à performance de Cyndi Lauper, no Hilton (www.hiltonac.com), nos próximos dias 22 e 23.
Para quem quiser fugir dos restaurantes dos hotéis, há boas opções na cidade. Vale a pena gastar uma média de US$ 45 por pessoa para saborear um dos pratos de frutos do mar, acompanhado de um bom vinho, no Dock's Oyster House (Atlantic Avenue, 2.405), restaurante administrado pela mesma família desde 1897.
(NOELI MENEZES SOARES)

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