São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARROCOS

Fez mescla ares intelectuais e espirituais

Cidade abriga 500 mesquitas e madrassas e foi sede da primeira universidade do país, no séc. 10º

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MARROCOS

Um homem velho empurra um burro ruela abaixo. Ele grita: "Balek! Balek!". Os turistas não entendem, mas abrem caminho. E o dia retoma seu ritmo tranqüilo. Não existe estresse na medina de Fez El-Bali. O tempo é outro no emaranhado de vielas inalterado desde a Idade Média. Visitar Fez inclui viajar pelo tempo.
O ideal é entrar na cidade velha pela Bab Boujeloud, a mais bela das 14 portas de entrada.
Ali perto fica a mais antiga escola corânica do mundo árabe-islâmico: a madrassa Bou Inania, construída no século 14 pelo sultão Abou Inan. Esse é um dos poucos monumentos religiosos aberto aos não-muçulmanos no Marrocos.
Fez é considerada por muitos a capital espiritual do país.
Abriga 500 mesquitas e inúmeras escolas religiosas. A El-Attarine é outra madrassa que pode ser visitada. Apesar de pequena, é considerada a mais bela de Fez. Fica bem perto do souk das especiarias.
Perder-se dentro da medina faz parte do jogo. Impossível indicar um roteiro detalhado, o melhor mesmo é tentar seguir um rumo ou contratar um guia.
Na proximidade do souk de hena -usado pelas mulheres para colorir o cabelo e tatuar as mãos e os pés-, tente encontrar o Fondouk El-Nejjarine, uma das construções mais famosas de Fez. Esse antigo abrigo para caravanas de comerciantes, patrimônio histórico da humanidade tombado pela Unesco, é agora um museu.
Cruzando algumas ruelas, é a vez de admirar a zaouïa de Moulay Idriss 2º, um dos santuários mais venerados do país.
É nesse local que está o túmulo do fundador de Fez -da dinastia Idrísida. No final de cada verão, fiéis e peregrinos da região acendem ali velas e incensos.
Fez El-Bali nasceu no século 8º, quando 8.000 famílias árabes, expulsas da Andaluzia pelos exércitos cristãos, se fixaram às margens do rio Wadi Fez. Esses árabes trouxeram a arte e a experiência de uma civilização que estava no ápice de sua glória -como pode ser visto nos ornamentos, estuques e mosaicos da mesquita Andaluza e na madrassa Es-Sahrij, ao lado da fonte Nejjarine.
A mesquita de El-Kairaouine é considerada uma das mais imponentes do mundo islâmico. A sala de orações, com 270 colunas decoradas, pode acolher 20 mil pessoas.
Foi sede da primeira universidade do Marrocos ainda no século 10º, e freqüentada desde então por sábios como o filósofo Averroés e Ibn Khaldoun -tido por alguns como um fundador da sociologia.
O complexo de El-Kairaouine também abriga uma biblioteca com 30 mil livros e manuscritos e ainda hoje é um dos principais centros intelectuais da África. Resta a nós, turistas ocidentais, observar com discrição o que se passa lá dentro.
A partir de uma das portas da mesquita é possível acompanhar o ritual dos fiéis se lavando antes das orações.
Não é raro receber uma oferta de um suposto guia prometendo uma vista completa da mesquita. Não espere muito, o máximo do que pode ser visto de cima é o enorme teto verde e o mais antigo minarete do mundo muçulmano.
Um dos espetáculos mais impressionantes em Fez também é visto do alto dos terraços. O quarteirão dos curtumes, ao norte da praça El-Seffarine, é parada obrigatória. Olfatos delicados terão dificuldade de agüentar o cheiro forte.
Dentro de poços multicoloridos, peles de animais são tingidas com pigmentos naturais, para se transformarem em produtos que serão vendidos nos souks da cidade. Diferentemente do curtume de Marrakech, o de Fez é bastante ativo.
O museu Dar El-Batha abriga a coleção de arte popular mais completa de Marrocos. Há tapetes e bijouterias berberes, as famosas cerâmicas azuis de Fez, além de manuscritos antigos. Aproveite a tranqüilidade desse palácio andaluz para uma pausa nos jardins.
O Dar El-Bartha fica a poucos metros de Fez El-Jdid, a cidade nova, criada no século 8º por Abou Youssef. Quando a dinastia Merenidas subiu ao poder, achou Fez El-Bali pequena demais para seus palácios. Decidiu então fazê-los fora das muralhas; e assim nasceu Fez El-Jedid. Entre os destaques, estão o palácio real de Fez, o Kasbah dos Cherarda e o quarteirão de Moulay Abdallah.
É também desse lado da cidade que fica o mellah, o antigo bairro judeu. Até o século 19, essa área era fechada por uma porta de ferro todas as noites.
Hoje, o mellah tem uma superpopulação e guarda pouca semelhança com o passado. Os judeus se mudaram para Casablanca, França e Israel. A sinagoga Danan e o cemitério judaico resistiram às mudanças.
A terceira faceta de Fez, dita européia, é moderna e desprovida de charme. Tem avenidas largas e arborizadas, construídas após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas pouco interessantes para os olhos curiosos dos turistas.
(LETÍCIA FONSECA-SOURANDER)


Texto Anterior: Marrocos: Riqueza de detalhes define a arquitetura
Próximo Texto: Cidade marroquina terá praia artificial no ano que vem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.