São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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MARROCOS

Em Marrakech, praça mescla tradições e traduz alma do país

Cheia de curandeiros e encantadores de serpentes, cidade recebe 8 milhões de turistas por ano

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MARROCOS

Por trás das muralhas avermelhadas de Marrakech, a praça Jeema-el-Fna abriga um espetáculo exótico do planeta.
Encantadores de serpentes, contadores de histórias, curandeiros e vendedores de água se misturam aos turistas. Único no mundo árabe, esse palco de tradições populares traduz a alma marroquina.
Durante séculos, o local foi ponto de encontro de camponeses e mercadores da região montanhosa do Alto Atlas e do sul do país. Hoje, tombada pela Unesco como patrimônio oral e imaterial da humanidade, a Jeema-el-Fna continua fascinando quem passa por lá.
O clima na praça se torna mais feérico com o entardecer. Gritos de ambulantes se misturam aos sons dos tambores dos gnaouas -descendentes dos escravos sudaneses. Vestidos de caftans e bonés bordados, eles exibem danças acrobáticas ao ritmo das graqans, espécie de castanholas de ferro.
Serpentes são enroladas em braços de turistas que posam para fotos, enquanto batedores de carteira entram em ação.
No meio da confusão, uma jovem marroquina enfeita os pés com tatuagens de hena.
A noite chega, e lanternas a querosene iluminam a multidão a saborear pratos típicos que custam até 25 dirhans (R$ 5,40). O cheiro é de carne grelhada, cuscuz e harira -sopa de grão-de-bico e lentilha.
Nos terraços dos cafés que rodeiam a praça, turistas acompanham o frenesi de Marrakech, essa antiga capital de dinastias berberes que atrai visitantes desde sempre.
Aos pés da cordilheira do Alto Atlas, Marrakech é a encarnação do sonho dos ocidentais pelo Oriente. Ruelas, mesquitas, mercados a céu aberto, palácios e jardins -além da garantia de sol, até no inverno.
Nos anos 60, era o destino favorito de hippies e meca dos Rolling Stones. Anualmente, recebe 8 milhões de turistas e é epicentro de visitação num país em que o turismo é o setor mais representativo da economia -responsável por mais da metade do PIB. Marrakech, que em berbere significa Marrocos, ou "a terra onde o Sol se põe", é a cidade mais famosa do país.
No mundo árabe o salât -a oração- é feito cinco vezes por dia. Às 4h é o primeiro chamado. Dos minaretes, a voz do muezim -amplificada pelos alto-falantes- enuncia: "Alá é o maior". De dentro do minarete da Koutoubia, orgulho de Marrakech, a cena se repete.
A mesquita Koutoubia, do século 12, deve o seu nome ao mercado de livros que ali existiu. Inspirou a construção da torre La Giralda, em Sevilha.
Em Marrocos, é proibida a entrada de turistas não-muçulmanos nas mesquitas; exceção à Grande Mesquita Hassan 2º, em Casablanca. Em Marrakech, resta ver as fachadas de Sidi bel Abbès e de El-Mansour, conhecida como mesquita de La Kasbah. E vale a pena.
Já a madrassa Ben Youssef, do século 12, faz parte da rota turística. Essa, que foi a maior escola corânica do Magreb (região que vai de Marrocos ao oeste da Líbia), já acolheu 900 alunos e funcionou até 1960.
Modelo de arquitetura árabe-andaluz, tem o pátio decorado por versos religiosos gravados no gesso e paredes de mosaicos. Dá para ver o salão que servia para aulas e orações e as celas onde estudantes viviam.
Uma semana é pouco para desvendar Marrakech, mas seus melhores tesouros podem ser vistos em menos tempo. Comece pelo jardim Majorelle, propriedade do costureiro francês Yves Saint-Laurent desde os anos 80. A bela casa azul, cercada de bouganvílleas, coqueiros, bananeiras e cáctus, é um oásis dentro de Guéliz, a parte moderna da cidade. Yves Saint-Laurent morreu em junho passado, e suas cinzas foram espalhadas nesse jardim.
De volta à medina, visite as tumbas saadianas, onde estão enterrados os sultões da dinastia de mesmo nome, que reinou em Marrocos nos séculos 16 e 17. O palácio Dar Si Saïd é uma jóia da arquitetura árabe-andaluz do século 19. Com muros altos, é hoje um museu e abriga coleções de arte do sul do país.
Contemporâneo de Dar Si Saïd, o palácio Bahia -que foi residência do grão-vizir Ba Ahmed, suas quatro esposas e 24 concubinas- é de tirar o fôlego de tão bonito. Pátios ajardinados oferecem uma pausa perfeita antes de continuar o roteiro. Por fim, vá às ruínas do palácio El-Badi, do século 16, que era considerado a grande maravilha do mundo muçulmano. Hoje, ninhos de cegonha dão um toque especial ao local.
Primeiro oásis do norte do Atlas, a Palmeraie de Marrakech, a 20 km da cidade, é outra visita indispensável. Reza a lenda que foram as sementes das tâmaras cuspidas pelos soldados da dinastia Almoravidas que deram origem às primeiras árvores. Hoje, com mais de 150 mil tamareiras, irrigadas por um sistema de canalização subterrâneo, é uma área agradável.
Não deixe Marrakech sem conhecer o museu e centro cultural dentro do palácio Mnebhi, um dos mais bonitos da cidade. A fachada austera esconde a riqueza dos detalhes arquitetônicos do interior -destaque para os tetos esculpidos e o lustre do salão principal.
Logo ao lado, a Koubba Ba'Adiyn, relíquia intacta da arte almoravida, do século 12, também pode ser visitada. Esse anexo da madrassa Ben Youssef servia para o ritual de lavagem dos fiéis antes das orações.
(LETÍCIA FONSECA-SOURANDER)


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