São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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SERENÍSSIMA

Para o arquiteto Oscar Niemeyer, o palácio Ducal, erguido na praça, antecipa a arquitetura moderna

Todos os caminhos levam a San Marco

DO ENVIADO ESPECIAL AO MEDITERRÂNEO

Oscar Niemeyer diz que, ao projetar em Veneza o palácio dos Doges, o arquiteto Felipe Calendario legou ao mundo uma obra tão inovadora que antecipa, já em 1309, quando recebeu o aspecto atual, a arquitetura moderna.
Niemeyer revolucionou a arquitetura no século 20, mas acha o palácio Ducal inovador, "com a estrutura cheia de arcos e curvas, o contraste da fachada quase cega e, no interior, o grande salão sem colunas e o vão enorme".
Construído e reconstruído até 1577 para ser o marco do poder dos doges, o palácio Ducal, na esquina da Piazzetta com o Grande Canal, é figura de proa do conjunto que encerra a praça San Marco -e se impõe pelo arrojo e pela leveza. Concluído no Renascimento, o palácio segue, para Niemeyer, os princípios que nortearam a arquitetura moderna, pois teria "o mesmo amor pela curva, pela liberdade plástica".
Diz o ditado que todos os caminhos levam a Roma, mas a informação não vale para Veneza, onde todos os passeios partem da praça San Marco, singular na mistura de estilos, centro do poder político e religioso no tempo da República Sereníssima. Nesse contexto, o entorno da ponte do Rialto era o centro comercial -lá ainda hoje funcionam o mercado de frutas e legumes e, atravessando o Grande Canal, o mercado de peixe, chamado de Pescaria.

Origem
Única, edificada praticamente sobre as águas, Veneza remonta ao ano 450, tendo sido integrada ao Império Bizantino no século 6º. A cidade, que tem 150 canais e perto de 400 pontes, começou a ser construída no século 7º, quando os vênetos ali se refugiaram.
A base das edificações foi um estaqueamento das 117 ilhotas alagadiças com toras de madeira embebidas em óleo de baleia. Hoje, técnicas de infiltrar concreto no subsolo impedem que Veneza continue a afundar.
Nesse cenário, hordas de turistas disputam o espaço da Piazzetta e da praça San Marco, admirando o palácio Ducal e, mais ao fundo, a imensa basílica que o poeta Stendhal dizia ser "a primeira mesquita que se encontra andando na direção do Oriente".
O conjunto compreende ainda a torre do Campanário (99 m), a praça propriamente dita e a torre do Relógio. Sob esta última construção, uma porta leva à ponte do Rialto, a mais célebre, e a outros locais como San Polo e Cannaregio, próximo ao Ghetto, local onde foram morar os judeus que, fugindo da Inquisição na península Ibérica, lá se instalaram.
(SILVIO CIOFFI)


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