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SERENÍSSIMA
Para o arquiteto Oscar Niemeyer, o palácio Ducal, erguido na praça, antecipa a arquitetura moderna
Todos os caminhos levam a San Marco
DO ENVIADO ESPECIAL AO MEDITERRÂNEO
Oscar Niemeyer diz que, ao
projetar em Veneza o palácio dos
Doges, o arquiteto Felipe Calendario legou ao mundo uma obra
tão inovadora que antecipa, já em
1309, quando recebeu o aspecto
atual, a arquitetura moderna.
Niemeyer revolucionou a arquitetura no século 20, mas acha o
palácio Ducal inovador, "com a
estrutura cheia de arcos e curvas,
o contraste da fachada quase cega
e, no interior, o grande salão sem
colunas e o vão enorme".
Construído e reconstruído até
1577 para ser o marco do poder
dos doges, o palácio Ducal, na esquina da Piazzetta com o Grande
Canal, é figura de proa do conjunto que encerra a praça San Marco
-e se impõe pelo arrojo e pela leveza. Concluído no Renascimento, o palácio segue, para Niemeyer, os princípios que nortearam a
arquitetura moderna, pois teria
"o mesmo amor pela curva, pela
liberdade plástica".
Diz o ditado que todos os caminhos levam a Roma, mas a informação não vale para Veneza, onde todos os passeios partem da
praça San Marco, singular na mistura de estilos, centro do poder
político e religioso no tempo da
República Sereníssima. Nesse
contexto, o entorno da ponte do
Rialto era o centro comercial -lá
ainda hoje funcionam o mercado
de frutas e legumes e, atravessando o Grande Canal, o mercado de
peixe, chamado de Pescaria.
Origem
Única, edificada praticamente
sobre as águas, Veneza remonta
ao ano 450, tendo sido integrada
ao Império Bizantino no século
6º. A cidade, que tem 150 canais e
perto de 400 pontes, começou a
ser construída no século 7º, quando os vênetos ali se refugiaram.
A base das edificações foi um estaqueamento das 117 ilhotas alagadiças com toras de madeira embebidas em óleo de baleia. Hoje,
técnicas de infiltrar concreto no
subsolo impedem que Veneza
continue a afundar.
Nesse cenário, hordas de turistas disputam o espaço da Piazzetta e da praça San Marco, admirando o palácio Ducal e, mais ao fundo, a imensa basílica que o poeta
Stendhal dizia ser "a primeira
mesquita que se encontra andando na direção do Oriente".
O conjunto compreende ainda a
torre do Campanário (99 m), a
praça propriamente dita e a torre
do Relógio. Sob esta última construção, uma porta leva à ponte do
Rialto, a mais célebre, e a outros
locais como San Polo e Cannaregio, próximo ao Ghetto, local onde foram morar os judeus que, fugindo da Inquisição na península
Ibérica, lá se instalaram.
(SILVIO CIOFFI)
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