São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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Venezianos só se deslocam a pé ou de barco

WILLIAM MARIOTTO
DA REDAÇÃO

Chegar a Veneza é como entrar em outro mundo. O fato de os deslocamentos só poderem ser feitos a pé ou de barco é notável, mas o mais incrível é como os venezianos construíram uma cidade tão magnífica sobre um arquipélago de ilhotas lodosas.
Os habitantes às vezes nem se dão conta de que vivem em um monumento histórico. Por exemplo, se o veneziano precisa ir ao correio, vai ao Fondaco dei Turchi, palácio do século 13 que foi entreposto de comércio com o império otomano. A feira do Rialto, coração comercial da cidade, vende, desde o século 11, frutas, verduras, peixes e frutos do mar trazidos do Adriático por barcaças - os caminhões de Veneza.
Os "vaporettos" são usados apenas para ir a pontos distantes da cidade ou às ilhas -Murano, Burano, Torcello e dezenas de outras. Na maioria das vezes se anda a pé mesmo. É um sobe-e-desce de pontes constante (repare como os velhinhos são bem dispostos). Velozes "lanchas-ambulâncias" levam os doentes ao hospital central, um suntuoso palácio do século 15, bem em frente ao monumento ao guerreiro Bartolomeo Coleoni, de Andrea Verrochio, considerada a mais bela estátua equestre do Ocidente.
Os deslocamentos a pé favorecem o convívio. É difícil o veneziano ir a algum lugar sem encontrar um conhecido que o convide para tomar um café ou uma "ombra", copo de vinho branco. Se estiver com fome, peça um "tramezzino", sanduíche frio com recheio de atum, caranguejo ou camarão.
Não tenha medo de se perder nos labirintos da cidade. Sempre há indicações "per San Marco", "per Rialto" e "alla Ferrovia". Se mesmo assim você não se achar, fale com um habitante, sempre disposto a dar orientações.
No verão, faça um programa de veneziano: vá à praia. Pegue a linha 1 ou 6 do "vaporetto" para o Lido, uma faixa de terra que fecha a baía vêneta e conserva o ar aristocrático dos tempos em que era um dos balneários mais exclusivos da Europa. Ali fica o palácio do Cinema, palco do célebre festival.
No caminho de volta, o turista ganha a linda vista da cidade iluminada pelo sol de fim de tarde. À noite o campo Santa Margherita, perto da Universidade Ca'Foscari, ferve de jovens em bares com mesas ao ar livre.
No inverno há nevascas e a cidade frequentemente é envolvida por uma forte neblina, que a deixa ainda mais surreal. Também ocorre a "acqua alta", um terror para os venezianos, que vêem a água do mar subir pelos ralos e inundar suas casas.
Como Veneza tem ruas estreitas e casas altas, no inverno o sol penetra pouco nas ruas. Procure o calor das praças ou passeie na Fondamenta delle Zattere, em frente ao canal da Giudecca, onde o sol bate o ano todo.



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