São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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BONS VELHINHOS

Aos 114 anos, confeitaria Colombo continua inteirona

Freqüentadas por celebridades, intelectuais e políticos, mesas, e receitas, fazem parte da história do país

Rafael Andrade/Folha Imagem
Salão da confeitaria Colombo, inaugurada há 114 anos

DA ENVIADA ESPECIAL

Tirar os pés da rua Gonçalves Dias, no centro, e colocá-los dentro da confeitaria Colombo é a prova indefectível de que é possível se transportar no tempo. O cenário muda. O clima muda. O barulho muda. Turistas e freqüentadores, encantados com os móveis antigos, a arquitetura art nouveau da belle époque carioca, mudam.
O que acontece a partir dali é uma viagem na história. Escolheu a mesa 38? Ora, ela era a preferida de Getúlio Vargas. A 23? Fez como Juscelino. A 54? Era a mesa habitual do escritor José Lins do Rego. E tem ainda as favoritas de Marta Rocha, Sofia Loren e Leila Diniz, só para citar alguns nomes ilustres que já freqüentaram uma das confeitarias mais antigas da América Latina.
Para se orientar melhor no grande salão e na escolha do que comer, peça ajuda aos garçons mais antigos, que têm tudo na ponta da língua. Seu Orlando Almeida Duque, 71, é um deles. Trabalha ali há 57 anos.
"Conheci e servi essa gente toda. Sei de cor as mesas e os pratos preferidos de cada um", diz.
E dispara: "O Getúlio só comia o filé mignon à gaúcha", referindo-se ao prato de medalhão grelhado, arroz, batata frita, farofa de alho, torrada e molho à moda da campanha, que permanece no cardápio, a R$ 49,50. De fato, há bons pratos para almoço na confeitaria. Aos sábados, das 12h às 16h30, vale experimentar o bufê de feijoada (R$ 49,50 por pessoa, com salada e uma sobremesa).
Mas charmoso mesmo é tomar um longo e demorado café da manhã, servido há 114 anos no mesmo horário: das 9h às 11h. O simples vem com chá, café ou chocolate, leite, manteiga, geléia, mel, queijo, presunto, pão de leite, torradas e um suco de laranja. Serve duas pessoas e custa R$ 17,70.
Chegou tarde demais para o café? Vá de chá. Para ele, qualquer hora é hora. O "Colombo" (R$ 27,90) vem com chá, mel, geléia, manteiga, pães, queijo, presunto, torrada, fatia de bolo, suco de laranja, frutas frescas, um doce pequeno, casadinhos, minisanduíches e salgadinhos.
Tente não se incomodar com os flashes dos celulares e das máquinas digitais. E, enquanto estiver comendo, resista aos próprios cliques. A cadeira acolchoada e o ambiente pra lá de aconchegante, à meia-luz, convidam a uma pausa. Em horários alternados, um pianista toca ao vivo. E o convite é para que se faça uma refeição como ela deve ser: calma.
De recordação dessa verdadeira viagem no tempo, o bonito cardápio é vendido a R$ 12. No segundo andar -além de uma vista privilegiada do lugar-, há louças com a marca da confeitaria, com preços que variam de R$ 10 (caso de uma tacinha para licor) a R$ 120 (caso da sopeira). Já para levar um pouco do sabor para casa, na frente do salão há uma bancada cheia de delícias que levam a assinatura da Colombo. O pote de 600 gramas de marmelada ou de figada custa R$ 17, cada um. O de 800 gramas do doce de leite, R$ 12.
E saia de lá, de volta ao vaivém agitado do centro, com a agradável constatação de que a confeitaria carioca não fica devendo nada -nem em beleza nem em glamour- aos cafés mais badalados do mundo: do argentino Tortoni (www.cafetortoni.com.ar), que neste ano completou 150 anos, ao italiano bicentenário Greco. (PRISCILA PASTRE-ROSSI)

CONFEITARIA COLOMBO
Rua Gonçalves Dias, 32, centro; tel.: 0/xx/21/2505-1500; funciona de segunda a sexta, das 9h às 20h; aos sábados e durante os feriados, das 9h30 às 17h
www.confeitariacolombo.com.br



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