São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006
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TERRA DE PINGÜIM Renas e leões-marinhos despontam na Geórgia do Sul Viajante supera face inóspita da Antártida
JAIME BÓRQUEZ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA ANTÁRTIDA Uma viagem de navio à região mais austral do mundo, a Antártida, prova que o homem é um ser capaz de se adaptar às condições de vida mais árduas. A Geórgia do Sul, um conjunto de ilhas, é um desses pontos em que as privações são tantas que qualquer outro lugar vira, automaticamente, o paraíso. A principal ilha desse conjunto tem 161 km de comprimento por 48 km de largura. Em 1911, foram introduzidas renas para serem usadas na caça e como alimento. Hoje, há mais de 2.000 exemplares desse animal ali, e vê-los pastando é uma novidade para os olhos não acostumados às vicissitudes antárticas. O território da ilha é composto por montanhas -a maior delas tem 1.828 metros de altura- cobertas por neve e geleiras eternas. Seu contorno é definido por centenas de fiordes, milhares de saliências e reentrâncias que formam portos estreitos, fechados a cadeado por montanhas geladas. Árvores? Não há. A vegetação se resume a uma grama dura, resistente ao clima inclemente. Geologicamente, a Geórgia do Sul forma, junto de uma série de ilhas do arco de Scotia, uma cadeia submarina que conecta os Andes com a Antártida. O número de habitantes que há na ilha não aparece em folhetos nem em livros, mas, ao visitar o antigo porto baleeiro de Grytviken, descobre-se que a população da Geórgia do Sul deve caber em duas Kombis. E praticamente todos moram em Grytviken. E o que faz um grytvikeniano da gema? Trabalha em pesquisa científica, é da Marinha britânica, é padre ou é ligado ao governo. Dos 12 habitantes da ilha, há dois que não têm as profissões acima listadas. São os aventureiros britânicos Pauline e Tim Carr, grandes amigos do brasileiro Amyr Klink, que está atualmente na Antártida, desta vez não como viajante solitário, mas numa jornada com a família. O casal britânico navegou o mundo durante 25 anos e um dia resolveu abaixar as velas em um lugar tranqüilo para passar o resto de seus dias. Eles acabaram exagerando na tranqüilidade: aportaram o veleiro Carlew nesse porto há 14 anos. Estão com a vida que pediram a Deus, embora se queixem do "excessivo movimento" do porto: cerca de 15 navios em Grytviken. As reclamações dos Carr acabam quando os turistas adentram o pequeno museu que eles montaram. O ingresso é gratuito. A loja de suvenires é o ponto final da visita. Mesmo com preços mais salgados do que a água do mar que banha o porto, a loja ferve de clientes saídos de transatlânticos. O museu rememora os tempos da indústria baleeira, mostra a fauna do lugar e dá uma idéia de como viviam os antigos habitantes da Geórgia do Sul, com pequenas comodidades e singelos luxos que existiam nesse remoto ponto do planeta graças às baleias. Há uma parte dedicada a sir Ernest Shackleton, que morreu, anos depois da odisséia do navio Endurance, de ataque cardíaco, em um barco ancorado na Geórgia do Sul, e está enterrado no cemitério local. Seu túmulo é o único que está orientado ao sul. Cada navio de passageiros que passa por aqui faz uma romaria para brindar ao heróico Shackleton. Partida Ao partir da Geórgia do Sul, o navio percorre todo o lado leste da ilha, a parte mais tranqüila em termos marítimos, visita a baía Fortuna, onde os passageiros desembarcam para ver uma colônia de irresistíveis pingüins-rei -aparentados do pingüim-imperador, estrela do documentário "A Marcha dos Pingüins", que estréia amanhã nos cinemas- e de leões-marinhos, e passa pelos portos baleeiros abandonados de Stromness e Husvik, todos com uma forte carga histórica da arrepiante aventura de Shackleton e dos homens do Endurance. Antes de deixar definitivamente esse ponto para rumar à Antártida, o navio que leva o turista entra no belo fiorde Drygalski e pára na parede de gelo do glaciar Risting. Uma despedida espetacular. Próximo Texto: Terra de pingüim: Suvenir da natureza fica no pólo Índice |
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