São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2001

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LITORAL DE CONTRASTES

Ocupação desordenada e lixo nas ruas caracterizam a praia que já foi o paraíso dos hippies

Canoa Quebrada ganha vícios de metrópole

Maristela do Valle/Folha Imagem
Barracas de Canoa Quebrada na região da praia onde há menos aglomeração de turistas, proporcionando uma certa tranquilidade


NO LITORAL CEARENSE

"Fazia cinco anos que não vinha para cá e não estou conseguindo me localizar. Isso virou uma Nova York, está horrível", comenta uma turista ao pedir informação ao garçom de uma barraca de Canoa Quebrada.
Preocupado com a grande quantidade de clientes que precisa atender, o funcionário uniformizado mal consegue ajudar a turista, ao mesmo tempo em que anota os pedidos dos excursionistas de um dia, que chegam em ônibus vindos de Fortaleza e lotam as barracas de praia penduradas à beira das falésias, de onde escapam pedaços de plástico.
Hoje a praia que já foi o sonho de hippies e alternativos nos anos 70 sucumbiu ao turismo de massa, à ocupação desordenada, à poluição sonora dos bares noturnos, ao trânsito incessante de veículos.
Sem que houvesse qualquer tipo de planejamento urbano e sem sistema de esgoto, o povoado recebeu milhares de moradores e turistas que se espremem em ruas estreitas abarrotadas de lixo e entulhos de obras mal-acabadas. Isso tudo acontece apesar de Canoa Quebrada e suas dunas pertencerem a uma APA (Área de Proteção Ambiental).
O povoado não teve nenhuma assistência na época em que o turismo começou a se desenvolver nem um estudo de impacto ambiental, segundo Régis Azevedo, atual consultor da Prefeitura de Aracati (município onde fica o povoado) e ex-secretário de Cultura e Turismo. "Agora a gente tenta ajudar, mas é difícil porque o povoado já está cheio de vícios."
Segundo ele, o governo planeja fazer uma requalificação urbana de Canoa Quebrada, que inclui ações como a pavimentação das ruas -"provavelmente com pedras para não agredir o ambiente"-, a implantação de saneamento básico, um centro de referência de educação ambiental e turística, sinalização e regulamentação do uso do espaço. Porém ainda não há prazos previstos para a implantação do programa.
Também a Secretaria de Turismo do Estado do Ceará tem um projeto que, na opinião do secretário Raimundo Viana, deve "resolver a situação de Canoa".
Trata-se da criação de distritos turísticos, nos quais habitarão cerca de 60% dos funcionários da secretaria. A partir da interação com os habitantes, é possível agir diretamente sobre os povoados.

Fuga
Para quem quer fugir da muvuca das barracas de praia, o melhor é ficar naquelas mais isoladas, localizadas do lado direito (para quem olha para o mar).
Elas não têm acordo com guias de excursão e por isso costumam ficar mais calmas. Além disso, suas belas falésias estão mais à vista -menos escondidas por barracas-, embora estejam pichadas em alguns pontos.
Na região, o turista não terá o assédio dos vendedores de passeios de jegue, cavalo, jangada e paraglider e poderão brincar nas próximas e rasas piscinas naturais entre rochas, além de caminhar sobre um banco de areia no mar que pode ser alcançado a pé, com a água batendo pela cintura, quando a maré está baixa.
O preço das caipiroscas nas barracas varia de R$ 1,80 a R$ 2,50, sendo que o valor não é necessariamente proporcional ao tamanho da dose. Caipirosca caprichada é a servida no restaurante Scorpios, na Broadway. Ali os pratos têm preços razoáveis e são suficientes para duas pessoas. Peixe frito com arroz, farofa e salada custa R$ 14. Bem diferente do Catavento (na mesma rua), onde o peixe (meio duro) ao molho de roquefort custa R$ 19 e dificilmente dá para duas pessoas.
(MARISTELA DO VALLE)


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