São Paulo, Segunda-feira, 12 de Julho de 1999
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MERCOSUL
Qualidade de vida torna a cidade diferente
Montevidéu parece cidade do interior

EDER CHIODETTO
enviado especial a Montevidéu

O excelente nível de qualidade de vida é o maior trunfo do turismo em Montevidéu.
Pesquisa realizada no ano passado pelo "Wall Strett Journal" qualificou-a como a segunda cidade do mundo com menor índice de criminalidade, perdendoapenas para Tóquio, no Japão.
Essa segurança, que possibilita os casarões do bairro nobre de Carrasco não terem muros, aliada à beleza natural do rio da Prata, que banha a cidade, o zelo com os espaços públicos e a estreita convivência da população com as artes fazem de Montevidéu uma opção rara de turismo dentro da América Latina.
Embora 40% da população uruguaia resida na capital, o bom planejamento urbano evita que haja trânsito caótico, mesmo com a cidade não sendo servida por metrô. Como boa parte do centro da cidade é plano, o ideal é traçar um ou vários roteiros a pé.
O ponto de partida pode ser a Plaza Independencia, onde há uma imponente escultura que mostra o general Artigas sobre um cavalo. Essa praça é o ponto que une a cidade nova e a velha.
A cidade nova fica do lado onde começa a avenida 18 de Julio, que alguns uruguaios comparam com a avenida Paulista. Essa é a principal rua de comércio e entretenimento. Ali pode-se comprar qualquer item de vestuário, produtos eletrônicos e comida. Também é possível se perder propositalmente nas suas galerias de arte.
Uma das diversões para quem gosta de literatura é vasculhar as inúmeras livrarias que se multiplicam pela avenida com ofertas tentadoras. Se você cair nessa tentação, leve os livros comprados para o outro lado da Plaza Independencia, na cidade velha, passe pela via Sarandi, uma via para pedestres, e, na Plaza Matriz, escolha um dos cafés de onde se pode ver a bela catedral Metropolitana.
Sente aí e comece a saborear seus livros tomando um mate (como o chimarrão gaúcho) ou um "medio y medio", uma bebida local feita com meia dose de vinho branco seco e meia de moscatel espumante, servida bem gelada.
Não deixe, porém, que o excesso de bebida ou a preguiça o impeçam de caminhar pelas ramblas arborizadas que desembocam na orla do rio da Prata. Um passeio pelo calçadão durante o pôr-do-sol é segurança de um fim de tarde mais que agradável.
Sempre andando pela orla, logo você encontrará o porto e um dos mais interessantes locais da capital: o Mercado del Puerto. É ali o ponto de encontro de empresários, artistas, estivadores, estudantes e donas de casa. O local, projetado pelo arquiteto francês Eiffel, o mesmo que desenhou a famosa torre parisiense, existe há mais de um século em frente a um relógio inspirado no Big Ben.
No mercado pode-se encontrar qualquer iguaria local. O destaque, porém, é a parrilla, churrasco feito sobre grelhas onde diversos tipos de carnes, incluindo carneiro e frango, além de muitas vísceras, são assados lentamente em brasas. Pode-se comer descontraidamente nos balcões do mercado a preços módicos.
Bastante hospitaleiros e nacionalistas, os uruguaios adoram ouvir dos brasileiros elogios à sua terra, sobretudo se vier acompanhado de alguma crítica aos vizinhos argentinos que habitam o outro lado do rio da Prata. Dizer que eles entendem melhor o português do que os portenhos, por exemplo, pode ser a chave para iniciar um agradável e bem humorado bate-papo.
A rivalidade também mostra suas garras no futebol e na política. Torcer pelo Peñarol ou pelo Nacional e ser simpatizante dos partidos Colorado ou Blanco são decisões que determinam o trânsito na sociedade e serve para eleger a roda de amigos.
Com a proximidade das eleições presidenciais, o assunto mais discutido neste momento é a política e a economia. Tido como o país latino de economia mais estável, a preocupação com a crise brasileira é notada nas rodas que se formam no final da tarde nos cafés, uma vez que o Brasil é o maior comprador de carne, arroz, calçados e laticínios uruguaios.
Nos últimos anos cerca de 40 indústrias de calçados fecharam. Grande parte da safra de arroz deste ano, não comprada pelo Brasil, foi vendida por preço inferior ao do Irã. A taxa de desemprego está saltando de estáveis 9% para 13%, segundo previsões do governo. Esses aspectos aquecem as conversas de botequim sem ter contaminado o prazer de circular por Montevidéu.


Eder Chiodetto viajou a convite do hotel Holliday Inn e da American Airlines.


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