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AFRO-BAHIA
Exposição com imagens de rituais afro-brasileiros clicadas pelo francês vai até sexta
Fotos de Pierre Verger estão em SP
SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO
Dono de um "olhar viajante",
Pierre Verger faria cem anos neste
ano e parte significativa de sua
obra fotográfica, que estreitou laços entre a Bahia e a África, pode
ser vista em São Paulo até sexta,
no Centro Cultural da Fiesp (av.
Paulista, 1.313, das 10h às 20h).
Verger era francês, baiano,
branco e negro. Também era fotógrafo, etnólogo e babalaô. Homem dos mil instrumentos (Jorge
Amado o chamava de "o mais
baiano dos franceses"), foi rebatizado no candomblé e virou Pierre
Fatumbi Verger, ganhando um
nome do meio que significa "renascido numa cultura diferente".
Enquanto viveu, afirmou fugir
da "dignidade burguesa" e acabou seus dias morando numa casinha modesta na ladeira da Vila
América, em Salvador.
Nascido Pierre Edouard Leópold Verger, num bairro chique
de Paris, o fotógrafo de olhos cor
de mormaço pôs o pé na estrada
em 1932, chegando à Bahia em
1946, vindo da África e da Polinésia. Com uma câmara Rolleiflex
no pescoço e a idéia de retratar os
ritos afro-brasileiros, construiu
uma obra fotográfica consistente
e estabeleceu uma conexão de
imagens, cultural, religiosa e étnica, entre a África e a Bahia.
Ao desembarcar no Brasil, já conhecia a ex-URSS e tinha feito fotos para o jornal "Paris Soir" em
locais díspares como EUA, Japão,
Indochina, Filipinas e Camboja.
No golfo de Benin, encontrara
vendedoras de acarajé e festas para Iansã, Iemenjá e Oxalá, além de
um Carnaval que em muito lembra a festa na Bahia.
Quando chegou a Salvador, tinha em mente a intrigante história da Revolta dos Malês, ocorrida
mais de um século antes, sem
imaginar que esse episódio ainda
estivesse vivo na memória local.
Ocorrida em 1835, o evento foi
um levante de negros muçulmanos que fracassou. Deportados
para a África, os revoltosos curiosamente levaram na bagagem festas católicas, técnicas construtivas
e diversos hábitos alimentares.
O francês resolveu escrever o livro "Fluxo e Refluxo do Tráfico
de Escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos
nos Séculos 17 e 18", que lhe rendeu um doutorado pela Sorbonne, embora Verger nunca tenha
frequentado a universidade.
Verger, que trabalhou em estreita conexão com artistas como
Carybé, com quem publicou
"Lendas Africanas dos Orixás",
morreu em Salvador, em 1996.
Hoje parte da sua obra está na
Fundação Pierre Verger, no Pelourinho, com fotos de festas,
procissões, cerimônias de candomblé, igrejas e praças.
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