São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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AFRO-BAHIA

Exposição com imagens de rituais afro-brasileiros clicadas pelo francês vai até sexta

Fotos de Pierre Verger estão em SP


SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

Dono de um "olhar viajante", Pierre Verger faria cem anos neste ano e parte significativa de sua obra fotográfica, que estreitou laços entre a Bahia e a África, pode ser vista em São Paulo até sexta, no Centro Cultural da Fiesp (av. Paulista, 1.313, das 10h às 20h).
Verger era francês, baiano, branco e negro. Também era fotógrafo, etnólogo e babalaô. Homem dos mil instrumentos (Jorge Amado o chamava de "o mais baiano dos franceses"), foi rebatizado no candomblé e virou Pierre Fatumbi Verger, ganhando um nome do meio que significa "renascido numa cultura diferente".
Enquanto viveu, afirmou fugir da "dignidade burguesa" e acabou seus dias morando numa casinha modesta na ladeira da Vila América, em Salvador.
Nascido Pierre Edouard Leópold Verger, num bairro chique de Paris, o fotógrafo de olhos cor de mormaço pôs o pé na estrada em 1932, chegando à Bahia em 1946, vindo da África e da Polinésia. Com uma câmara Rolleiflex no pescoço e a idéia de retratar os ritos afro-brasileiros, construiu uma obra fotográfica consistente e estabeleceu uma conexão de imagens, cultural, religiosa e étnica, entre a África e a Bahia.
Ao desembarcar no Brasil, já conhecia a ex-URSS e tinha feito fotos para o jornal "Paris Soir" em locais díspares como EUA, Japão, Indochina, Filipinas e Camboja.
No golfo de Benin, encontrara vendedoras de acarajé e festas para Iansã, Iemenjá e Oxalá, além de um Carnaval que em muito lembra a festa na Bahia.
Quando chegou a Salvador, tinha em mente a intrigante história da Revolta dos Malês, ocorrida mais de um século antes, sem imaginar que esse episódio ainda estivesse vivo na memória local.
Ocorrida em 1835, o evento foi um levante de negros muçulmanos que fracassou. Deportados para a África, os revoltosos curiosamente levaram na bagagem festas católicas, técnicas construtivas e diversos hábitos alimentares.
O francês resolveu escrever o livro "Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos nos Séculos 17 e 18", que lhe rendeu um doutorado pela Sorbonne, embora Verger nunca tenha frequentado a universidade.
Verger, que trabalhou em estreita conexão com artistas como Carybé, com quem publicou "Lendas Africanas dos Orixás", morreu em Salvador, em 1996.
Hoje parte da sua obra está na Fundação Pierre Verger, no Pelourinho, com fotos de festas, procissões, cerimônias de candomblé, igrejas e praças.


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