São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2001

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Livros servem de mapa local imaginário

DA ENVIADA ESPECIAL
À REPÚBLICA DOMINICANA

O mais recente romance do peruano Mario Vargas Llosa ("A Festa do Bode") principia quando Urania, a protagonista, está olhando para a "rambla" defronte ao tradicional hotel Jaragua, um dos mais sofisticados de Santo Domingo, erguido em 1955 pelo general Rafael Trujillo e que se transformou, na época, em ponto de encontro da alta sociedade.
O livro é um retrato da República Dominicana durante os anos em que foi governada por Trujillo, entre 1930 e 1961, período de autoritarismo extremo em que milhares de pessoas que se opunham ao regime foram torturadas e mortas. Vargas Llosa interessou-se pelo tema nos anos 70, ao viver oito meses no país. Desde então, passou a colecionar livros e informações sobre Rafael Trujillo e a sociedade dominicana no seu governo.
"A Festa do Bode" conta histórias a partir da noite de 30 de maio de 1961, quando Trujillo foi assassinado em seu Chevrolet Bel-Air, que o levava a uma casa no campo, onde recebia suas amantes.
A narrativa principal conta o drama de Urania, mulher de 49 anos que deixou Santo Domingo ainda adolescente, depois de romper com o pai, um fiel senador do "bode" (apelido de Trujillo).
Quando o livro começa, nos dias de hoje, ela está retornando pela primeira vez à sua terra natal, mais de 30 anos depois, para enfrentar o pai e rever Santo Domingo. A descrição que ela faz da transformação da cidade desde a época em que se chamava Ciudad Trujillo até hoje é muito interessante de acompanhar "in loco".
Os passos de Urania podem ajudar o visitante a entender o porquê de haver um grande obelisco similar ao de Washington na beira da praia ou a razão de existirem tantos artistas populares e museus de artes plásticas pela cidade -Trujillo era um amante das pinturas e impulsionou o aprendizado e a produção.
A outra história que corre paralela no livro conta como o assassinato do ditador foi arquitetado por um grupo de rebeldes que, após sua morte, foi perseguido pelo terror instalado. Apenas dois se livraram da tortura e da morte.

Irmãs Mirabal
Sobre o mesmo tema, é interessante ler "No Tempo das Borboletas", da dominicana Julia Alvarez, que conta a história das irmãs Mirabal. Patria, Minerva e María Tereza, conhecidas como "las mariposas", se opuseram a Trujillo e acabaram sendo mortas pelo regime, atiradas de um precipício.
Alvarez remontou a história das três rebeldes por meio de depoimentos tomados de Dedé, a quarta irmã Mirabal, que ainda vive.
A escritora deixou a República Dominicana aos 10 anos de idade, e desde então vive nos EUA. Entretanto, os dramas de seu país natal -e os da imensa comunidade dominicana que vive nos EUA- são a matéria-prima de seus livros, entre os quais também se destacam "How the Garcia Girls Lost Their Accents" e "Yo".
Ambos os livros, assim como a poesia de Pedro Mir ("Hay un País en el Mundo" e "Si Alguien Quiere Saber Cuál Es mi Patria") podem ajudar o visitante a conhecer um pouco das paisagens dominicanas e a perceber as marcas do passado em seus prédios, monumentos, praias e becos. (SC)


A FESTA DO BODE - La Fiesta del Chivo. De: Mario Vargas Llosa. Editora: Mandarim. Quanto: R$ 41 (450 págs.)

NO TEMPO DAS BORBOLETAS - In the Time of the Butterflies. De: Julia Alvarez. Editora: Rocco. Quanto: R$ 35 (314 págs.)




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