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BAHIA DE TODAS AS FESTAS
No dia 2 de fevereiro, Rainha do Mar recebe oferendas debaixo do oceano, onde habitaria
Pescadores saúdam Iemanjá com flores
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Diferentemente das festas da
Boa Viagem e do Bonfim, a de Iemanjá, no dia 2 de fevereiro, é exclusivamente do candomblé. As
outras são festas católicas frequentadas por adeptos do candomblé, em que o sincretismo
predomina. Mas na festa de Iemanjá só há espaço para o culto à
Rainha do Mar.
A procissão de barcos que levam presentes para a orixá lembra a cerimônia da festa de Bom
Jesus dos Navegantes, mas, na de
Iemanjá, as embarcações vão
abarrotadas de flores e presentes
que serão jogados no fundo do
mar, onde habitaria a deusa, que é
representada pela imagem de
uma mulher vaidosa, de cabelos
longos e seios grandes.
A festa para Iemanjá ocorre no
largo de Santana, no bairro do Rio
Vermelho, onde está localizada a
sede da colônia de pescadores Z-1,
que tem mais de 650 profissionais
afiliados e compreende a área que
vai da Boca do Rio à rampa do
Mercado Modelo, no bairro do
Comércio, na Cidade Baixa.
A Casa de Iemanjá, onde existe
uma imagem da orixá, representada por uma sereia, fica nas dependências da colônia e lá são depositadas as oferendas para a orixá. Com os presentes, geralmente
são colocados pedidos.
Os pescadores da colônia oferecem o presente principal, que é levado para Iemanjá por volta das
cinco horas da tarde de 2 de fevereiro, numa galeota seguida por
outras 300 embarcações, que levam os presentes depositados pelas pessoas ao longo do dia.
Durante todo o dia a praia de
Santana fica lotada, assim como
todo o bairro do Rio Vermelho.
Muitas ruas são interditadas para
permitir que a multidão as ocupe.
Barracas com música, comidas e
bebidas típicas ajudam a animar o
público. Moradores do bairro organizam cafés da manhã comunitários ou almoços, geralmente feijoadas, para receber os amigos.
Existem também feijoadas vips,
servidas em restaurantes ou hotéis do Rio Vermelho e de outros
bairros da capital baiana.
Essas festas são pagas e reúnem
pessoas de várias tribos, membros da alta sociedade, turistas e
aqueles que querem evitar a multidão do bairro. Vários artistas
participam dessas festas, que têm
shows e apresentações musicais.
Bandas populares e grupos folclóricos também fazem apresentações para o público que circula
pelo bairro. Na festa, também conhecida como Lavagem do Rio
Vermelho, não é permitida a circulação de trios elétricos.
No dia 2, o mar é a atração principal. Todos voltam seus olhos
para a praia de Santana, onde,
além dos cerca de 300 balaios levados ao mar pelos pescadores,
que os depositam a seis milhas da
costa (11 km), são lançadas no
mar diretamente pelos devotos da
mãe-d'água oferendas como flores, perfumes e espelhos.
Isso ocorre principalmente porque as filas para depositar os presentes na Casa de Iemanjá são
enormes (a festa reúne cerca de
200 mil pessoas a cada ano).
Nas areias da praia de Santana,
pode-se ver, além do movimento
do público em geral, manifestações do candomblé, como incorporação de espíritos. Mães e filhas
de santo desfilam com seus trajes
nobres, todas de branco. O que
não falta é gente para oferecer e
pedir coisas à Rainha do Mar. Ao
final, todos dizem a saudação para Iemanjá: "Odoyá".
A festa começa ainda na madrugada do dia 2, quando os pescadores vão ao dique do Tororó levar
oferendas para Oxum, deusa das
águas doces, para que ela também
se sinta homenageada.
Quando o sol nasce, há uma alvorada com queima de fogos e,
nesta hora, já se pode ver pessoas
vestindo roupas claras (branco,
azul e verde-claro são as cores de
Iemanjá) para saudar aquela que
é considerada a mãe dos orixás.
Apesar de muitos serem contra
o sincretismo, ele também existe
nesta festa, afinal Iemanjá é a Nossa Senhora da Conceição dos católicos, a Janaína dos índios e a sereia dos marinheiros europeus.
O culto a Iemanjá foi trazido pelos africanos escravos no século
16. Em Salvador, a festa foi criada
por volta de 1920 por uma iniciativa da colônia de pescadores Z-1,
que, devido a um ano de fraca
pescaria, resolveu recorrer a Iemanjá para pedir melhoras.
Porém a festa não se resume aos
pescadores. Dela participam pessoas de todas as classes sociais e
de variados credos e raças. A mãe
dos orixás conseguiu a façanha de
tornar a sua festa uma das mais
importantes manifestações culturais baianas.
(PALOMA VARÓN)
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