São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

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MOSAICO MÍSTICO

No sul, grandeza convive com a riqueza de detalhes

Região tem o maior ídolo esculpido numa só pedra; templos majestosos abrigam milhares de esculturas

NA ÍNDIA

Além do maior ídolo esculpido em uma única pedra no mundo, o visitante conhece no sul da Índia dois templos que disputam o título de maior templo hindu do planeta. Mas a região não é só pródiga em grandezas. A riqueza de detalhes também é constante, como em Halebid, onde um templo que sequer foi terminado exibe na fachada milhares de esculturas -todas assentadas sobre uma primeira camada com mais de 2.000 esculturas de elefantes diferentes entre si.
A porta de entrada para o sul é Bangalore, que conta inclusive com um aeroporto internacional. A capital do Estado de Karnataka, uma das cinco maiores cidades da Índia, é um dos raros locais que oferecem alternativas além de templos, museus e palácios.
Conhecida como "garden city", em alusão a seus amplos parques, tem bons restaurantes, além de bares e até boates (uma raridade na região).
Em bairros mais afastados, em meio ao caos da falta de planejamento que marca o crescimento das principais cidades indianas, o visitante encontra oásis como o Ayurveda Gram Spa (www.ayurvedagram.com), que oferece bons pacotes de um dia, incluindo consulta com especialista em medicina ayurvédica, aula de ioga, massagem, almoço (vegetariano, claro) e uma sessão de meditação por cerca de R$ 100.
No campo sagrado, o Bull Temple, com um ídolo monolítico de um touro, esculpido no século 16, é uma amostra do que o resto do Estado reserva no trajeto até Mysore.
A distância de 140 quilômetros entre as cidades merece uma parada em Hassan, no meio do caminho. De lá, é possível visitar Sravanabelgola, Halebid e Belur em dois dias.
Sravanabelgola, cujo nome significa literalmente "o monge da lagoa branca", é um dos mais antigos centros de peregrinação da Índia, com registros de visitas em tempos remotos como o século 3 a.C.
Seu principal atrativo é uma estátua da divindade jainista Gomateshvara. A estátua, de 17,5 metros de altura, é o maior ídolo do mundo esculpido em um único bloco de pedra.
A imagem de um homem nu com videiras enroladas nos braços, pernas e ombros traduz princípios da religião jainista, uma das bases do hinduísmo -credo de forte influência na família da mãe de Mahatma Gandhi e fonte de conceitos posteriormente imortalizados por ele, como a não-violência e o vegetarianismo.
Diz a lenda que o deus retratado permaneceu imóvel em meditação por mais de um ano. E que, no período, plantas cresceram em torno de seus membros. Ele é representado nu, conforme a tradição jainista -cujos monges não usam roupas, pois acreditam viver vestidos de ar.
No templo de Sravanabelgola, situado no alto de uma montanha que deve ser escalada sem o uso de calçados, o turista encontra monges que perpetuam até hoje essa tradição de mais de 2.000 anos.
Em Halebid e Belur, os destaques são as infinitas esculturas de divindades hindus. O primeiro sítio foi saqueado e parcialmente destruído pelos invasores islâmicos antes de ser consagrado como templo -daí o nome da cidade significar, literalmente, "cidade destruída". O outro tem serviço religioso até hoje.
Os dois sítios exemplificam a escultura hindu do século 12, com um sem número de estátuas retratando os principais eventos mitológicos do hinduísmo.
Com guias treinados pelo Departamento Arqueológico da Índia, que cobram menos de R$ 5, o visitante se diverte ao longo de horas e horas, ouvindo histórias e vendo estátuas de deuses matando demônios dentro de elefantes, de lutas entre deuses e demônios e até de histórias de amor envolvendo seqüestro de divindades.
O fim dessa estrada é a cidade de Mysore (pronuncia-se "máisor"), capital do segundo Estado mais rico antes da invasão britânica. Os ecos dessa opulência são sentidos até hoje. Mesmo com apenas cerca de 10% de sua área total aberta para visitação, o palácio do marajá é o melhor exemplo.
Nas noites de domingo, as milhares de lâmpadas posicionadas na fachada são acesas -consumindo energia suficiente para abastecer uma vila local por uma semana, segundo estimativas dos moradores da cidade, que nem por isso deixam de lotar o local e, de certa forma, perpetuar a sina de veneração à pessoa do marajá.
O turista disposto a viver a experiência de um hóspede real pode, por a partir de US$ 250 a noite, se hospedar no hotel Lalitha Mahal (www.lali thamahalpalace.com). O palácio, concebido como residência de hóspedes da família do marajá, hoje funciona como hotel -e oferece apartamentos de cerca de 100 m2, com mobília dos séculos 18 e 19, além de uma TV de plasma.
Mysore também é um local privilegiado por seus mercados. É impossível passar pelo Devaraja Market e sair de lá sem uma sacolinha -e, mais ainda, sem um chip de máquina fotográfica cheio de fotos das bancas de frutas, flores e temperos. Até cabelos naturais são vendidos lá. Outro atrativo são as manufaturas de incenso e óleos aromáticos.
A cidade é considerada a capital do sândalo. Mas o turista deve ter cuidado para escolher onde comprar produtos derivados da nobre madeira, pois há muita falsificação. A melhor alternativa são as lojas do governo de Karnataka, que costumam cobrar mais caro.
Contudo, como não poderia deixar de ser no sagrado sul da Índia, o maior atrativo de Mysore é o templo situado no monte Chamundi. Os praticantes do hinduísmo têm de galgar os mais de mil degraus íngremes até o alto da montanha, antes de passar no mínimo duas horas esperando para entrar na edificação sagrada.
Para quem não segue a fé hindu, há alternativas menos rigorosas do ponto de vista físico. Uma estrada leva até o cume do monte. E, em intervalos de meia hora, sacerdotes trazem a imagem sacra em procissão em torno do templo, para que ela seja vista por quem não quiser esperar na fila.
A espera para entrar no templo pode ser particularmente desagradável se o turista for obrigado a aguardar na fila cercado por grupos de peregrinos, que passam dias caminhando sempre com a mesma roupa.
Segundo a tradição, os hindus dessa região devem ir a pé até uma montanha no Estado de Kerala. Eles deixam suas cidades e percorrem caminhando as estradas do sul, passando sempre que possível pelos templos do caminho.
Na sua maioria, eles vestem roupas negras, que vão se impregnando dos odores da peregrinação sob um calor de cerca de 30 C, mesmo no inverno.
Mas é mais ao leste, no Estado de Tamil Nadu, que o fanatismo hindu atinge proporções inimagináveis para os olhos ocidentais. (LUÍS FERRARI)


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