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MOSAICO MÍSTICO
No sul, grandeza convive com a riqueza de detalhes
Região tem o maior ídolo esculpido numa só pedra; templos majestosos abrigam milhares de esculturas
NA ÍNDIA
Além do maior ídolo esculpido em uma única pedra no
mundo, o visitante conhece no
sul da Índia dois templos que
disputam o título de maior
templo hindu do planeta. Mas a
região não é só pródiga em
grandezas. A riqueza de detalhes também é constante, como
em Halebid, onde um templo
que sequer foi terminado exibe
na fachada milhares de esculturas -todas assentadas sobre
uma primeira camada com
mais de 2.000 esculturas de
elefantes diferentes entre si.
A porta de entrada para o sul
é Bangalore, que conta inclusive com um aeroporto internacional. A capital do Estado de
Karnataka, uma das cinco
maiores cidades da Índia, é um
dos raros locais que oferecem
alternativas além de templos,
museus e palácios.
Conhecida como "garden
city", em alusão a seus amplos
parques, tem bons restaurantes, além de bares e até boates
(uma raridade na região).
Em bairros mais afastados,
em meio ao caos da falta de planejamento que marca o crescimento das principais cidades
indianas, o visitante encontra
oásis como o Ayurveda Gram
Spa (www.ayurvedagram.com), que oferece bons pacotes
de um dia, incluindo consulta
com especialista em medicina
ayurvédica, aula de ioga, massagem, almoço (vegetariano,
claro) e uma sessão de meditação por cerca de R$ 100.
No campo sagrado, o Bull
Temple, com um ídolo monolítico de um touro, esculpido no
século 16, é uma amostra do
que o resto do Estado reserva
no trajeto até Mysore.
A distância de 140 quilômetros entre as cidades merece
uma parada em Hassan, no
meio do caminho. De lá, é possível visitar Sravanabelgola,
Halebid e Belur em dois dias.
Sravanabelgola, cujo nome
significa literalmente "o monge da lagoa branca", é um dos
mais antigos centros de peregrinação da Índia, com registros de visitas em tempos remotos como o século 3 a.C.
Seu principal atrativo é uma
estátua da divindade jainista
Gomateshvara. A estátua, de
17,5 metros de altura, é o maior
ídolo do mundo esculpido em
um único bloco de pedra.
A imagem de um homem nu
com videiras enroladas nos
braços, pernas e ombros traduz
princípios da religião jainista,
uma das bases do hinduísmo
-credo de forte influência na
família da mãe de Mahatma
Gandhi e fonte de conceitos
posteriormente imortalizados
por ele, como a não-violência e
o vegetarianismo.
Diz a lenda que o deus retratado permaneceu imóvel em
meditação por mais de um ano.
E que, no período, plantas cresceram em torno de seus membros. Ele é representado nu,
conforme a tradição jainista
-cujos monges não usam roupas, pois acreditam viver vestidos de ar.
No templo de Sravanabelgola, situado no alto de uma montanha que deve ser escalada
sem o uso de calçados, o turista
encontra monges que perpetuam até hoje essa tradição de
mais de 2.000 anos.
Em Halebid e Belur, os destaques são as infinitas esculturas de divindades hindus. O
primeiro sítio foi saqueado e
parcialmente destruído pelos
invasores islâmicos antes de
ser consagrado como templo
-daí o nome da cidade significar, literalmente, "cidade destruída". O outro tem serviço religioso até hoje.
Os dois sítios exemplificam a
escultura hindu do século 12,
com um sem número de estátuas retratando os principais
eventos mitológicos do hinduísmo.
Com guias treinados pelo
Departamento Arqueológico
da Índia, que cobram menos de
R$ 5, o visitante se diverte ao
longo de horas e horas, ouvindo histórias e vendo estátuas
de deuses matando demônios
dentro de elefantes, de lutas
entre deuses e demônios e até
de histórias de amor envolvendo seqüestro de divindades.
O fim dessa estrada é a cidade de Mysore (pronuncia-se
"máisor"), capital do segundo
Estado mais rico antes da invasão britânica. Os ecos dessa
opulência são sentidos até hoje. Mesmo com apenas cerca de
10% de sua área total aberta para visitação, o palácio do marajá é o melhor exemplo.
Nas noites de domingo, as
milhares de lâmpadas posicionadas na fachada são acesas
-consumindo energia suficiente para abastecer uma vila
local por uma semana, segundo
estimativas dos moradores da
cidade, que nem por isso deixam de lotar o local e, de certa
forma, perpetuar a sina de veneração à pessoa do marajá.
O turista disposto a viver a
experiência de um hóspede
real pode, por a partir de US$
250 a noite, se hospedar no hotel Lalitha Mahal (www.lali
thamahalpalace.com). O palácio, concebido como residência de hóspedes da família do
marajá, hoje funciona como
hotel -e oferece apartamentos
de cerca de 100 m2, com mobília dos séculos 18 e 19, além de
uma TV de plasma.
Mysore também é um local
privilegiado por seus mercados. É impossível passar pelo
Devaraja Market e sair de lá
sem uma sacolinha -e, mais
ainda, sem um chip de máquina fotográfica cheio de fotos
das bancas de frutas, flores e
temperos. Até cabelos naturais
são vendidos lá. Outro atrativo
são as manufaturas de incenso
e óleos aromáticos.
A cidade é considerada a capital do sândalo. Mas o turista
deve ter cuidado para escolher
onde comprar produtos derivados da nobre madeira, pois há
muita falsificação. A melhor alternativa são as lojas do governo de Karnataka, que costumam cobrar mais caro.
Contudo, como não poderia
deixar de ser no sagrado sul da
Índia, o maior atrativo de
Mysore é o templo situado no
monte Chamundi. Os praticantes do hinduísmo têm de galgar
os mais de mil degraus íngremes até o alto da montanha,
antes de passar no mínimo
duas horas esperando para entrar na edificação sagrada.
Para quem não segue a fé
hindu, há alternativas menos
rigorosas do ponto de vista físico. Uma estrada leva até o cume do monte. E, em intervalos
de meia hora, sacerdotes trazem a imagem sacra em procissão em torno do templo, para
que ela seja vista por quem não
quiser esperar na fila.
A espera para entrar no templo pode ser particularmente
desagradável se o turista for
obrigado a aguardar na fila cercado por grupos de peregrinos,
que passam dias caminhando
sempre com a mesma roupa.
Segundo a tradição, os hindus dessa região devem ir a pé
até uma montanha no Estado
de Kerala. Eles deixam suas cidades e percorrem caminhando as estradas do sul, passando
sempre que possível pelos templos do caminho.
Na sua maioria, eles vestem
roupas negras, que vão se impregnando dos odores da peregrinação sob um calor de cerca
de 30 C, mesmo no inverno.
Mas é mais ao leste, no Estado de Tamil Nadu, que o fanatismo hindu atinge proporções
inimagináveis para os olhos
ocidentais.
(LUÍS FERRARI)
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