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Gardel interpreta alma argentina
do enviado especial a Buenos Aires
Tudo e nada se sabe da vida
de Carlos Gardel (c.1890-1935),
o rei do tango, intérprete que
beijou a sarjeta com inigualável -e é quase uma unanimidade argentina.
Gardel só não é um consenso
completo porque o escritor
Jorge Luis Borges (leia biografia na pág. 7-9), voz dissonante
no capítulo sonoro da cultura
do país, foi crítico de sua obra,
atribuindo ao cantor a melancolia que virou marca registrada do tango.
Já o bandeonista e compositor Astor Piazzola (1920-1992),
autor de sucessos estrondosos,
dizia: "Gardel foi o maior de
todos". O curioso é que Piazzola, uma expressão da música
argentina contemporânea, fez,
quando menino, uma ponta
no filme "El Día que me Quieras".
Os enigmas sobreviveram ao
próprio Carlos Gardel, morto
num acidente aéreo no dia 24
de junho de 1935, em Medellín
(Colômbia).
O intérprete, cujo túmulo é
um dos maiores do cemitério
de Chacarita, em Buenos Aires,
recebeu, nos anos seguintes à
sua morte, a visita de uma mulher misteriosa.
Coberta por um véu negro,
essa fã enigmática levou flores
para o cemitério, enfeitando o
túmulo no dia do aniversário
de sua morte.
Origem incerta
Criado nos arredores de Buenos Aires, o menino que se tornaria o intérprete da alma argentina era filho de mãe solteira e começou a cantar no mercado de Abasto -onde vendia
jornais e palitos de fósforo para sobreviver- e tem data de
nascimento incerta.
Uns teimam que Gardel veio
à luz em 1890, outros em 1897.
Mas, embora todas as biografias digam que Gardel foi criado nos arrabaldes da capital
portenha, persiste a divergência sobre sua nacionalidade.
O mais provável é que esse
cantor de voz sublime tenha
nascido em Tacuarembó, no
Uruguai. Mas há quem afirme
que Charles Romuald Gardés,
nome dado como verdadeiro,
seja de Toulouse (França).
O porquê da mudança de nome e das dúvidas quanto à data
e local de nascimento até têm
explicação. Se fosse francês,
Gardel teria sido convocado
para lutar na Primeira Guerra
Mundial (1914-18).
Mais afeito aos duelos do
amor, Gardel pode ter usado
de artifícios para fugir do alistamento militar. (SILVIO CIOFFI)
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