São Paulo, segunda, 13 de julho de 1998

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Gardel interpreta alma argentina

do enviado especial a Buenos Aires

Tudo e nada se sabe da vida de Carlos Gardel (c.1890-1935), o rei do tango, intérprete que beijou a sarjeta com inigualável -e é quase uma unanimidade argentina.
Gardel só não é um consenso completo porque o escritor Jorge Luis Borges (leia biografia na pág. 7-9), voz dissonante no capítulo sonoro da cultura do país, foi crítico de sua obra, atribuindo ao cantor a melancolia que virou marca registrada do tango.
Já o bandeonista e compositor Astor Piazzola (1920-1992), autor de sucessos estrondosos, dizia: "Gardel foi o maior de todos". O curioso é que Piazzola, uma expressão da música argentina contemporânea, fez, quando menino, uma ponta no filme "El Día que me Quieras".
Os enigmas sobreviveram ao próprio Carlos Gardel, morto num acidente aéreo no dia 24 de junho de 1935, em Medellín (Colômbia).
O intérprete, cujo túmulo é um dos maiores do cemitério de Chacarita, em Buenos Aires, recebeu, nos anos seguintes à sua morte, a visita de uma mulher misteriosa.
Coberta por um véu negro, essa fã enigmática levou flores para o cemitério, enfeitando o túmulo no dia do aniversário de sua morte.

Origem incerta
Criado nos arredores de Buenos Aires, o menino que se tornaria o intérprete da alma argentina era filho de mãe solteira e começou a cantar no mercado de Abasto -onde vendia jornais e palitos de fósforo para sobreviver- e tem data de nascimento incerta.
Uns teimam que Gardel veio à luz em 1890, outros em 1897. Mas, embora todas as biografias digam que Gardel foi criado nos arrabaldes da capital portenha, persiste a divergência sobre sua nacionalidade.
O mais provável é que esse cantor de voz sublime tenha nascido em Tacuarembó, no Uruguai. Mas há quem afirme que Charles Romuald Gardés, nome dado como verdadeiro, seja de Toulouse (França).
O porquê da mudança de nome e das dúvidas quanto à data e local de nascimento até têm explicação. Se fosse francês, Gardel teria sido convocado para lutar na Primeira Guerra Mundial (1914-18).
Mais afeito aos duelos do amor, Gardel pode ter usado de artifícios para fugir do alistamento militar. (SILVIO CIOFFI)



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